A Polícia Civil vai investigar a hipótese de homicídio no episódio que resultou na morte de um torcedor durante jogo entre Cruzeiro e Grêmio, pela semifinal da Copa do Brasil’2016, quarta-feira à noite, no Mineirão, em Belo Horizonte. De acordo com a diretora do Instituto Médico-Legal (IML), a legista Lena Lapertosa, o corpo de Eros Dátilo Belisário, de 37 anos, apresentava sinais externos de trauma. Apesar dos indícios de que as lesões por si só não justificassem a morte, somente os exames anatomopatológico e toxicológico, que ficarão prontos em até 30 dias, vão revelar a verdadeira causa da morte, a terceira nas dependências do estádio.
O delegado da Homicídios Luís Otávio Mattozinhos instaurou inquérito e ouviu ontem o segurança Gleison Alexandre dos Santos, de 42, que trabalhava na hora do jogo e teria imobilizado Eros quando ele tentava mudar de setor no estádio, ao lado de outro cruzeirense. O agente foi ouvido e liberado. Testemunhas também prestaram depoimento à Polícia Civil, que não divulgou o teor das informações para não prejudicar as investigações.
Duas testemunhas, um homem e uma mulher, disseram à PM que presenciaram o torcedor ser abordado por dois seguranças. Segundo eles, Eros foi agredido por Gleison, que teve apoio do colega para levar o torcedor para dentro de uma sala, onde teriam permanecido por cerca de 15 segundos. As testemunhas disseram que o torcedor saiu de lá carregado pelos seguranças, já desacordado. Não há consenso, porém, em relação ao tempo em que o rapaz esteve no cômodo.
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A empresa Prosegur, para quem os seguranças trabalham, também divulgou nota lamentando o ocorrido.
De acordo com o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG), Eros tinha passagens pelo Juizado Especial Criminal por contravenção. Em uma ação penal ainda em fase de inquérito, respondia por lesão corporal em decorrência de violência doméstica, acusado de agredir uma mulher.
Organizada
Segundo integrantes da torcida organizada Pavilhão Independente, da qual Eros era integrante, a confusão começou depois que ele tentou mudar de setor no estádio, lotado durante o jogo que bateu recorde de público em partidas entre clubes, com 50.715 pagantes. “Nós sempre ficamos no setor laranja, atrás de um dos gols. Mas, por causa da grande procura de ingressos, ele não conseguiu comprar o bilhete para lá. Conseguiu o do setor vermelho, que fica em cima. Durante o jogo, tentou passar para baixo e se envolveu na confusão com os seguranças”, explica Leonardo Barreto, de 33, um dos diretores da agremiação.
O tumulto se estendeu para áreas internas do estádio, segundo Barreto.
Os torcedores cobram justiça e investigação do episódio. “Queremos que tudo seja esclarecido, pois ele sofreu vários traumas no corpo. Pode ter sofrido um infarto depois, mas por causa dessas lesões”, disse. “Não estou falando que o Eros estava certo ou errado, mas o que os seguranças deveriam ter feito era retirá-lo do estádio ou entregá-lo à polícia. Isso seria o correto”, completou o diretor da Pavilhão Independente.
O corpo de Eros será enterrado hoje, no fim da tarde, no Cemitério da Saudade, na Região Leste de Belo Horizonte. Torcidas organizadas prometem homenagens para se despedir do colega.
Memória
Outras duas vítimas dentro do estádio
Palco de clássicos em Minas e duelos entre seleções ao longo de seus 51 anos de existência, o Mineirão teve pelo menos outros dois episódios de mortes, ambos resultantes de brigas entre torcedores. O primeiro ocorreu no intervalo de jogo entre Cruzeiro e Vasco, que terminou empatado por 0 a 0, em 7 de outubro de 1997, pelo Campeonato Brasileiro.