Rio, 29 - A Samarco já tem um pedido de recuperação judicial pronto na gaveta para ser protocolado caso seus credores resolvam pressioná-la, apurou a reportagem. Sem operar desde novembro de 2015, em decorrência do rompimento da barragem de Fundão no distrito de Bento Rodrigues, em Mariana (MG), a sociedade entre as mineradoras Vale e BHP Billiton tem deixado de honrar compromissos com os detentores de bônus emitidos no exterior.
O temor dos advogados da companhia e de seus sócios é que os bondholders (detentores de títulos) acionem a empresa para tentar receber, com medidas como um pedido de bloqueio de recursos ou a antecipação do vencimento da dívida. A Samarco tem pouco mais de US$ 2 bilhões em bônus emitidos no exterior, sendo US$ 1 bilhão com vencimento em 2022, US$ 700 milhões com vencimento em 2023 e US$ 500 milhões com vencimento em 2024. Em dezembro de 2015, a dívida total da companhia somava R$ 15 bilhões.
Nesta semana, a Samarco deixou de pagar pouco mais de US$ 20 milhões referente a juros dos US$ 700 milhões em bônus com vencimento em 2023 e terá 30 dias para regularizar sua situação. O mesmo já havia acontecido com o pagamento de US$ 13,4 milhões referente ao cupom dos US$ 500 milhões em bônus com vencimento em 2024, vencido no fim de setembro.
A intenção é protelar ao máximo a medida judicial, mas a companhia optou por se organizar para não ser pega de surpresa, mesmo acreditando que dificilmente os credores vão tomar decisões drásticas. Isso porque, em caso de recuperação, haveria outros créditos a serem pagos na frente, como os trabalhistas e os referentes a reparações pelo desastre. O consenso, porém, é que se a Samarco não voltar a operar, a recuperação judicial é inevitável.
Uma fonte próxima à companhia diz que o pagamento de danos aos atingidos pela tragédia ambiental ficaria a cargo da Vale e da BHP, mesmo com a Samarco amparada pela recuperação, ao menos no que tange ao acordo fechado dentro de ação civil movida por União e os governos de Minas e Espírito Santo em março. Ele prevê o pagamento de R$ 20 bilhões como compensação dos danos sociais, ambientais e econômicos provocados pela empresa.
Resposta. Procuradas pelo Broadcast, Samarco e Vale não quiseram comentar o caso. A BHP negou ter concedido empréstimos à controlada. “Em agosto de 2016 a Vale e a BHP Billiton realizaram uma injeção de fundos na Samarco até o fim do ano. Isto não foi um empréstimo”, disse em nota. A empresa afirma que segue cumprindo com suas responsabilidades como acionista, e apoiando a Samarco e a Fundação Renova, criada para mitigar, recuperar e compensar os danos causados rompimento da barragem.
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