Quando nuvens escuras aparecem no céu, redobram as preocupações de Darlene da Paixão, de 25 anos, casada e mãe de Ezequiel, de 5, e Amanda, de 3. Funcionária de uma creche e moradora da ocupação Terra Nossa, no Taquaril (Região Leste da capital), com centenas de famílias, a belo-horizontina conhece muito bem os perigos de viver numa área sem qualquer infraestrutura básica, em barracão de extrema fragilidade e, pior, sem ter para onde correr no caso de tempestades muito fortes ou deslizamentos. “A necessidade fala mais alto e leva a gente a viver dessa forma”, diz Darlene, com resignação. A localidade, no topo do morro, está na rota de riscos geológicos existentes em todas as vilas de favelas da cidade, em maior ou menor grau. Segundo a Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte (Urbel), da prefeitura, há 2,1 mil edificações nessa situação.
Isabel destaca três pontos primordiais para resolver a questão: a presença do poder público, o comportamento da população e a colaboração para a gestão do risco. Ela afirma que o processo é dinâmico e o levantamento do risco envolve conhecimento da composição do terreno e a conformação dele do ponto de vista da geomorfologia, entre outras coisas. Também são avaliados indícios diversos, como trincas, se há cobertura vegetal no local, o corte do terreno, se há fossas e o escoamento de água. Todas essas questões são analisadas para se prever um possível risco. As ações da Urbel são coordenadas pelo Programa Estrutural em Áreas de Risco (Pear) que, há 22 anos, é responsável pelo mapeamento, vistoria e intervenções nesses lugares.
A diretora da Urbel diz que, como remover famílias não é algo fácil, o trabalho envolve a comunidade para conscientizá-la e mobilizá-la não só para perceber o risco, como no sentido de se precaver e não contribuir para agravar o problema. “As remoções são feitas em último caso, quando não se tem mais o que fazer”, afirma. “A Prefeitura de Belo Horizonte não dá conta de intervir em todos os lugares ao mesmo tempo, por isso preparamos muito a população, conversando com ela sobre como evitar o risco e, se a situação mudar, ligar pedindo vistoria”, acrescenta.
A diretora ressalta que as remoções têm diminuído nos últimos anos. Em 2016, por exemplo, foram apenas 10. Ela destaca que isso se deve às intervenções para reduzir os riscos e às obras em vilas, feitas com recursos do Orçamento Participativo, do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e da PBH. “À medida que se urbaniza, tiramos fossa, fazemos drenagem, implementamos uma rua, enfim, os agentes potenciais do risco são reduzidos”, revela. Isabel lembra que a dificuldade aparece nos casos em que as famílias precisam ser removidas e resistem devido a uma opção de vida feita naquele lugar. Outro desafio é fazer as pessoas entenderem que suas ações são fundamentais para evitar a situação. “Há um problema recorrente hoje de pessoas cortando terrenos que já foram estabilizados ou construindo em cima de locais de drenagem para ampliar ou erguer novas moradias. Se destruída, a obra para de ter eficácia.”
NOVOS DRAMAS Desempregado e atualmente fazendo bicos, Cleyton Paulo dos Santos, de 45, casado, pai de dois meninos de 9 e 6 anos e de um adolescente de 15, diz que gostaria de continuar onde está. “Prefiro que a situação seja regularizada, que haja segurança e tenhamos condições de construir moradias de alvenaria”, contou Cleyton, que lamenta não dispor de recursos para comprar tijolos e demais materiais de construção.
“Gosto de ter quintal, espaço para ficar com a família”, diz o desempregado. Ele abriga na área que circunda o barraco um pé de mamão, canteirinho de alface, roseira em flor e outras plantas. O aspecto no interior da moradia dá gosto de ver, com estante com os livros, aquário e limpeza. “Gosto de tudo arrumado, construo tudo aqui”, comenta. O período chuvoso também traz temores ao pai de família, que mantém uma tubulação, na lateral do terreno para a enxurrada descer sem devastar seu patrimônio. “Espero que qualquer mudança nos traga benefícios”, observa o belo-horizontino.
No caminho que conduz ao alto do Taquaril, podem ser vistas obras concluídas de contenção dos morros, com paredões de concreto. Em outros pontos, há placas da PBH – numa delas, curiosamente, há um adesivo de propaganda do futuro prefeito – orientando as pessoas a não construir. Morando sozinho num barracão, o auxiliar de serviços gerais Felipe Silva de Souza também vê perigos na região. Ele espera que uma eventual remoção melhore a vida da comunidade.
A diretora da Urbel afirma que a área da ocupação vem sendo acompanhada. Ela admite que se trata de uma área potencial para o desenvolvimento do risco, devido à maneira como está sendo habitada.
Panorama
2,1 mil é o número de edificações em área de risco
10 famílias foram removidas, este ano, de áreas de risco
7 vezes é a redução, em 20 anos, da quantidade de edificações em terrenos em situação de risco geológico
50 núcleos de voluntários estão presentes nas vilas e favelas para conscientizar as comunidades sobre os riscos
Fonte: Urbel
Primeiro mapeamento foi feito nos anos 1990
O Programa Estrutural em Áreas de Risco (Pear) foi implementado em 1994, quando foi elaborado o primeiro mapeamento sobre os perigos nas vilas e favelas de Belo Horizonte. Na época, havia 15 mil edificações com risco geológico considerado “alto” e “muito alto”. Mais de duas décadas depois, restam 2,1 mil moradias construídas em lugares que inspiram cuidado, mas o risco “muito alto” foi eliminado, segundo a Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte (Urbel). Nesse período, foi criada uma rede de voluntários – os núcleos de defesa civil. Eles são formados por moradores das comunidades e ajudam na mobilização, na identificação de problemas e na conscientização dos vizinhos. Atualmente, há 50 núcleos, com 422 voluntários inscritos.
Isabel destaca três pontos primordiais para resolver a questão: a presença do poder público, o comportamento da população e a colaboração para a gestão do risco. Ela afirma que o processo é dinâmico e o levantamento do risco envolve conhecimento da composição do terreno e a conformação dele do ponto de vista da geomorfologia, entre outras coisas. Também são avaliados indícios diversos, como trincas, se há cobertura vegetal no local, o corte do terreno, se há fossas e o escoamento de água. Todas essas questões são analisadas para se prever um possível risco. As ações da Urbel são coordenadas pelo Programa Estrutural em Áreas de Risco (Pear) que, há 22 anos, é responsável pelo mapeamento, vistoria e intervenções nesses lugares.
A diretora da Urbel diz que, como remover famílias não é algo fácil, o trabalho envolve a comunidade para conscientizá-la e mobilizá-la não só para perceber o risco, como no sentido de se precaver e não contribuir para agravar o problema. “As remoções são feitas em último caso, quando não se tem mais o que fazer”, afirma. “A Prefeitura de Belo Horizonte não dá conta de intervir em todos os lugares ao mesmo tempo, por isso preparamos muito a população, conversando com ela sobre como evitar o risco e, se a situação mudar, ligar pedindo vistoria”, acrescenta.
A diretora ressalta que as remoções têm diminuído nos últimos anos. Em 2016, por exemplo, foram apenas 10. Ela destaca que isso se deve às intervenções para reduzir os riscos e às obras em vilas, feitas com recursos do Orçamento Participativo, do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e da PBH. “À medida que se urbaniza, tiramos fossa, fazemos drenagem, implementamos uma rua, enfim, os agentes potenciais do risco são reduzidos”, revela. Isabel lembra que a dificuldade aparece nos casos em que as famílias precisam ser removidas e resistem devido a uma opção de vida feita naquele lugar. Outro desafio é fazer as pessoas entenderem que suas ações são fundamentais para evitar a situação. “Há um problema recorrente hoje de pessoas cortando terrenos que já foram estabilizados ou construindo em cima de locais de drenagem para ampliar ou erguer novas moradias. Se destruída, a obra para de ter eficácia.”
NOVOS DRAMAS Desempregado e atualmente fazendo bicos, Cleyton Paulo dos Santos, de 45, casado, pai de dois meninos de 9 e 6 anos e de um adolescente de 15, diz que gostaria de continuar onde está. “Prefiro que a situação seja regularizada, que haja segurança e tenhamos condições de construir moradias de alvenaria”, contou Cleyton, que lamenta não dispor de recursos para comprar tijolos e demais materiais de construção.
“Gosto de ter quintal, espaço para ficar com a família”, diz o desempregado. Ele abriga na área que circunda o barraco um pé de mamão, canteirinho de alface, roseira em flor e outras plantas. O aspecto no interior da moradia dá gosto de ver, com estante com os livros, aquário e limpeza. “Gosto de tudo arrumado, construo tudo aqui”, comenta. O período chuvoso também traz temores ao pai de família, que mantém uma tubulação, na lateral do terreno para a enxurrada descer sem devastar seu patrimônio. “Espero que qualquer mudança nos traga benefícios”, observa o belo-horizontino.
No caminho que conduz ao alto do Taquaril, podem ser vistas obras concluídas de contenção dos morros, com paredões de concreto. Em outros pontos, há placas da PBH – numa delas, curiosamente, há um adesivo de propaganda do futuro prefeito – orientando as pessoas a não construir. Morando sozinho num barracão, o auxiliar de serviços gerais Felipe Silva de Souza também vê perigos na região. Ele espera que uma eventual remoção melhore a vida da comunidade.
A diretora da Urbel afirma que a área da ocupação vem sendo acompanhada. Ela admite que se trata de uma área potencial para o desenvolvimento do risco, devido à maneira como está sendo habitada.
Panorama
2,1 mil é o número de edificações em área de risco
10 famílias foram removidas, este ano, de áreas de risco
7 vezes é a redução, em 20 anos, da quantidade de edificações em terrenos em situação de risco geológico
50 núcleos de voluntários estão presentes nas vilas e favelas para conscientizar as comunidades sobre os riscos
Fonte: Urbel
Primeiro mapeamento foi feito nos anos 1990
O Programa Estrutural em Áreas de Risco (Pear) foi implementado em 1994, quando foi elaborado o primeiro mapeamento sobre os perigos nas vilas e favelas de Belo Horizonte. Na época, havia 15 mil edificações com risco geológico considerado “alto” e “muito alto”. Mais de duas décadas depois, restam 2,1 mil moradias construídas em lugares que inspiram cuidado, mas o risco “muito alto” foi eliminado, segundo a Companhia Urbanizadora de Belo Horizonte (Urbel). Nesse período, foi criada uma rede de voluntários – os núcleos de defesa civil. Eles são formados por moradores das comunidades e ajudam na mobilização, na identificação de problemas e na conscientização dos vizinhos. Atualmente, há 50 núcleos, com 422 voluntários inscritos.