Com céu nublado e raros chuviscos, o Dia de Finados, em Belo Horizonte, teve a presença de cerca de 100 mil pessoas nos quatro cemitérios municipais – Bonfim, o mais antigo, Saudade, da Paz e Consolação, de acordo com informações da Fundação de Parques Municipais (FPM). Mesmo com o semblante tomado pelas lembranças, os parentes e amigos ficaram felizes ao serem saudados pelas cordas de violinos. “Dá menos tristeza a esse momento”, disse a servidora pública Marília Nascimento, moradora do Bairro Alípio de Melo.
De onde estava o músico, era possível ver muitas gente conferindo a pressão arterial, tomando água gelada ou mesmo saboreando chocolates distribuídos, na porta, junto com o cartão de um grupo de ajuda a pessoas que perderam parentes e não conseguem superar a situação. No Cemitério do Bonfim, no bairro de mesmo nome, na Região Noroeste onde também havia um violinista na entrada principal, um momento de beleza ocorreu às 11h30, com soltura de 500 balões brancos. Quem estava no local, como a aposentada Letícia Masi, moradora do Bairro de Lourdes, na Região Centro-Sul, pôde escrever um bilhetinho e cantar o verso bem sugestivo “segura na mão de Deus e vai”.
Palmas e furtos
A tradição impera e, todo Dia de Finados, as irmãs Maria Regina Fernandes Pinto Coelho e Doralice Pinto Coelho, acompanhadas da tia Ana Maria de Paula Fernandes, visitam os parentes “que se foram” nos cemitérios do Bonfim e Parque da Colina, no Bairro Nova Cintra, na Região Oeste. “Alguns que já morreram vinham conosco, hoje, ficamos nós”, contou Maria Regina, que teme pelo futuro. “Os mais jovens não querem mais saber de ir ao cemitério, não sei como vai ser. Enquanto tivermos força, vamos manter nosso costume”, comentou Doralice.
As duas sobrinhas e a tia preferiram enfeitar os túmulos dos pais e avós com crisântemos de várias cores e margaridas. “Sempre trouxemos palmas, mas, desta vez, a flor está muito cara. Cada palma está custando R$ 4”, afirmou Maria Regina. As três se queixaram ainda dos constantes furtos ao túmulo, para levar metal. “Não sei porque roubam as letras dos nomes. Uma vez, roubaram o nome completo de mamãe”, disse Doralice, lembrando que as três passam o dia nessa função de visitar, conversar e lembrar dos parentes.
No Cemitério da Saudade, na Região Leste, a preocupação com a dengue era grande, e podia-se ver uma faixa alertando as pessoas sobre a doença e a picada do mosquito. Cuidadosa, a funcionária pública aposentada Maria Lúcia de Oliveira, moradora do Bairro Santo Antônio, cobria os vasos do túmulo com areia e o enfeitava com flores amarelas. “Temos que cuidar, ter consciência”, afirmou a aposentada que, antes, já tinha ido ao Parque da Colina.
Com terço nas mãos, as irmãs Dinorah Campos Leal (com o marido José Leal), as irmãs Dilma, Dulce e Denise, rezavam diante do túmulo dos antepassados. “Rezamos para os nossos mortos e todas as almas”, revelou Dinorah.
(RG)