Quando o assunto é segurança pública, o clamor maior da população é por soluções para conter a violência na cidade. Com cidadãos alheios a divisões de poderes e ao que compete a cada nível de governo na hierarquia legislativa, é natural a conta cair no colo da administração municipal. Segundo especialistas, por ser a mais próxima do cidadão, é a mais cobrada, mas a que menos pode agir. Em Belo Horizonte, um dos grandes desafios é o incremento da Guarda Municipal, a principal ferramenta da cidade no combate à criminalidade. Mas, mesmo sem controle sobre as polícias Civil e Militar, a prefeitura pode contribuir com o estado e a União investindo em áreas direta ou indiretamente relacionadas à criminalidade, como o tratamento de usuários de drogas.
A Guarda Municipal foi criada com o objetivo de fazer a proteção do patrimônio e de bens públicos. Mas a demanda foi tanta que não demorou muito para expandir sua atuação. Por meio do telefone 153, o cidadão pode acionar os agentes até mesmo para pedir ajuda em caso de roubo. “O processo natural desse modelo se mostrou limitado.
Segundo ele, falta divulgação do serviço telefônico porque falta efetivo, o que impossibilita resposta ideal às demandas. Atualmente, são 2.095 agentes, mas BH pode expandir esse número até 4,9 mil. Com tantas novas atribuições, a Lei federal 13.022, de 2014 ratificou o porte de arma e a função de proteção municipal preventiva. “Nesse viés, observamos uma guarda atuante, dentro de uma concepção sistêmica de segurança, buscando desenvolver o conceito de polícia comunitária e integrada”, diz o comandante. De acordo com ele, a corporação está próxima de ter 40% dos guardas armados. Até o fim do ano que vem, serão todos.
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MAIS LUZ O cenário parece complicado, mas a cidade, segundo o advogado, que também presta assessoria jurídica à Associação Mineira dos Municípios (AMM), pode, sim, dar sua contribuição, a começar com o investimento em iluminação pública para inibir alguns delitos. Outra opção é a presença constante da Guarda Municipal em ambientes de risco, para marcar o lugar do Estado e reduzir a prática de crimes. “Temos uma sociedade que está doente, por causa de crise econômica e de problema com drogas, que acabam criando um estado paralelo em determinadas localidades. São questões complexas e que, infelizmente, fogem àquilo que poderia fazer o prefeito. Ele não pode regulamentar esse tipo de serviço e fica refém de uma política nacional para essas questões, mas pode agir de outras formas.”
Para Boson, a primeira atitude do prefeito eleito Alexandre Kalil deve ser discutir a questão das drogas. “Elas geram uma escola da violência, levam gente para o crime e instauram um processo paralelo dentro de algumas comunidades”, afirma.
A dona de casa Amélia Prates, de 42 anos, gosta de caminhar pela Praça da Liberdade, mas teme a violência. “Sinto mais segurança quando há guardas por todo lado. O efetivo pode até não ser grande como gostaríamos e precisamos, mas a simples presença deles já impõe respeito”, garante. Ela, que já teve o carro furtado em duas ocasiões, também cobra a ocupação dos espaços públicos: “Não só por parte do poder público. A população deve se apropriar e mostrar que a cidade somos nós e para nós.” (JO).