Jornal Estado de Minas

Educação, saúde, segurança e mobilidade em BH são desafios para Kalil

Mobilidade: ruas congestionadas e transporte sobrecarregado - Foto: Beto Novaes/EM/DA PressMais do que começar a administração de 2017 com um orçamento 5,6%, menor do que o previsto para cobrir as despesas da Prefeitura de Belo Horizonte neste ano (queda de R$ 12,2 bilhões para R$ 11,3 bilhões), o prefeito eleito, Alexandre Kalil (PHS), terá uma herança desafiadora para gerir. Ele tem pela frente problemas históricos em áreas consideradas estratégicas do município. E terá ainda de resolver outros tantos, agravados pela crise econômica, pelo atraso em repasses de recursos estaduais e federais, pela precariedade das atuais estruturas ou pela necessidade de adaptação a novas realidades. O Estado de Minas ouviu representantes da atual administração e especialistas sobre os principais desafios em quatro áreas: educação, mobilidade urbana, saúde e segurança pública. Quem vive o drama cotidiano da falta de vagas nas escolas municipais, do inchaço no atendimento em hospitais, da violência e de um trânsito repleto de gargalos, sabe bem o significado da palavra urgência. Essas e outras áreas receberão a nova gestão com questões espinhosas, que vão exigir transparência, diálogo e poder de negociação do novo chefe do Executivo municipal.


Todo mundo diz: lugar de criança é na escola. Mas em Belo Horizonte a frase feita enfrenta muitos desafios para se tornar certeira. Em matéria de educação, os problemas vão da oferta de vagas à qualidade do ensino.
Para se ter uma ideia do tamanho desse gargalo, o novo prefeito teria de construir pelo menos mais 40 unidades municipais de educação infantil (Umeis) para atender as 18 mil crianças que estão fora da sala de aula. Tornar a escola atrativa para quem segue no ensino fundamental e valorizar o professor são outras demandas imediatas.

Ao mesmo tempo em que se destaca como o grande desafio, a educação infantil é também um dos grandes avanços, segundo a secretária Municipal de Educação, Sueli Baliza. Desde 2009, o município passou de 40 para 130 Umeis. Atualmente, são 65 mil vagas disponíveis e 63,6 mil alunos matriculados. Cada uma das Umeis construídas nos últimos sete anos tem capacidade para 440 crianças.

Mas as cadeiras vazias  estão imersas em um processo de judicialização que envolve a luta de vários pais e mães por uma vaga para crianças de até 3 anos de idade. O Plano Nacional de Educação (PNE) instituiu a obrigatoriedade da pré-escola a partir deste ano para todos os pequenos com 4 anos. Em BH, a universalização para essa faixa etária ocorreu já em 2016.
“A creche demanda espaços especiais, como é o caso do berçário. E, quando estamos implantando um processo de universalização, não podemos ocupar todos os espaços das Umeis com algo que ainda não é obrigatório. Temos que finalizar esse processo das matrículas da pré-escola para, de fato, poder acolher outras crianças”, afirma a secretária.

Saúde: demanda em alta e repasses em baixa para custeio - Foto: Beto Novaes/EM/DA PressPara o ano que vem, a prefeitura informa que atenderá cerca de 8 mil crianças em fase de creche. Mas a lista de espera é de 18 mil. Diante disso, muitas mães e pais não veem outra saída que não a via judicial. De acordo com Sueli, 90% das ações se referem à faixa do berçário. Pelo PNE, o município tem obrigação de atender 50% dessa demanda de creche até 2024. BH atende hoje 40%.

PRESSÃO
O diretor de Imprensa do Sindicato dos Trabalhadores em Educação da Rede Pública Municipal de BH (Sind Rede), o professor alfabetizador Wanderson Rocha, vê um ponto negativo dessa pressão: “Traz uma sobrecarga para os professores e, mais adiante, o ensino pode ter perda de qualidade.
Primeiro, lutamos para ampliar o número de escolas para atender à demanda. Mas nesse caso é preciso fazer um mapeamento para ver de onde partem essas solicitações para não sobrecarregar ninguém. O que tem ocorrido é uma concentração em determinadas unidades, já que a decisão já vem com a indicação de onde a criança será matriculada”, ressalta.

O professor defende ainda mais transparência no sorteio de vagas, que são garantidas, primeiramente, para famílias em vulnerabilidade social. “Assim, força-se a um situação em que alguns têm mais direito que outros, quando isso deveria ser igual”, salienta. O sindicato pede ainda clareza no sorteio e na divulgação das inscrições. E espera conversar também com a nova gestão para implantar, no ensino infantil, a progressão de carreira, a exemplo do nível fundamental.

A desempregada Trielly Cristiana Balbino Pereira, de 27 anos, tentou vaga em três Umeis próximas à sua casa por três vezes, sem sucesso, para a filha Danielle, de 3 anos e 5 meses, e para o filho Arthur, de 1 ano e 9 meses. Sem escola, o jeito foi largar o emprego de vendedora em um shopping para cuidar das crianças. A família se mudou da casa onde morava para um imóvel da mãe de Trielly, para economizar com aluguel e, assim, garantir o bem-estar da família apenas com o salário do marido.
Segurança: violência e poucos guardas armados - Foto: Beto Novaes/EM/DA Press
Em 2014, a menina ficou na posição de número 26 na lista de espera e, ano passado, o número ultrapassou 200. Em casa, ela tenta suprir a falta da escola com livros de histórias.“Percebo que crianças da mesma idade são mais comunicativas e têm desenvolvimento melhor. Estar com outras crianças é importante até para a melhoria da alimentação.
Na escola, a criança tem ritmo e hora para tudo e até já sabe as primeiras letras. Ela sempre me pergunta quando vai para a escolinha”, conta.

IDEB
O ensino fundamental também enfrenta seus problemas, como mostram os resultados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2015. Em uma escala de zero a 10, BH teve nota 6,1 nas séries iniciais (1º ao 5º ano) e 4,8 nos anos finais (6º ao 9º). O resultado é considerado o melhor entre as capitais do Sudeste. A média brasileira para os alunos até a 5ª série foi de 5,5, um pouco acima da média estipulada (5,2). Na etapa final do nível fundamental, os estudantes belo-horizontinos tiveram índice de 4,8, um décimo abaixo da meta. Mesmo não cumprindo o mínimo esperado, Sueli Baliza comemora a evolução nos últimos três anos, quando o desempenho da rede municipal passou de 4,5 para 4,8. “O desafio é continuar aumentando”, afirma.

Ela credita o crescimento ao trabalho de formação interdisciplinar dos profissionais. Mas se nos anos iniciais BH se destaca, nos finais, há níveis baixíssimos na avaliação no ensino médio. Sueli Baliza atribui a diferença ao ciclo de vida dos estudantes.
“Quando a criança é menor, tem a participação mais enfática da família. Os adolescentes e pré-adolescentes  passam a ser despertados por outras questões”, diz. “Por isso, é importante a escola se aproximar cada vez mais do mundo do aluno lá fora, exigindo decorar menos e entender mais, oferecer novas tecnologias, criar um processo mais interativo.”

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