O domingo ensolarado era um convite à contemplação da Lagoa da Pampulha, do patrimônio moderno concebido por Oscar Niemeyer (1907-2012) e das demais belezas que fizeram do conjunto arquitetônico da região de Belo Horizonte Patrimônio Cultural da Humanidade. Olhando atentamente cada detalhe, principalmente o painel de azulejos de autoria de Cândido Portinari (1903-1962) na Igreja de São Francisco de Assis, a arquiteta e designer Candy Chang se mostra interessada em tudo ao seu redor. E afirma, sobre o monumento: “Trata-se de uma arquitetura única, mereceu o título da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura). Não tenho religião e vejo as igrejas como espaços para a espiritualidade, a contemplação. A arte, afinal, é uma forma de espiritualidade”.
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Comemorado hoje, Dia Mundial da Gentileza propõe cordialidade e cidadaniaPainéis em BH revelam sentimentos e sonhos, possíveis ou nãoPainel de galo e raposa foi inspirado em fábula entre rivaisDepois de admirar o painel sobre a vida de São Francisco na igreja da Pampulha e os mosaicos de Paulo Werneck (1907-1987), a “taiuanesa-norte-americana”, como gosta de se declarar, comentou baixinho que estava sendo realizada naquela hora (meio-dia) a cerimônia de um casamento na igrejinha.
Mergulhada numa tristeza profunda, Candy encontrou um jeito especial de canalizar os sentimentos. Numa casa abandonada no bairro onde mora, ela pintou uma parede e nela escreveu a frase que se tornaria ícone na sua trajetória e ganhou retorno imediato dos vizinhos.
MUNDO AFORA A parede ganhou atenção global e muitas pessoas, desde então, têm feito contato com Candy para a criação de uma parede em sua comunidade. Entusiasmada, a arquiteta criou um site do projeto e já registra, graças aos seguidores interessados, mais de 2 mil painéis mundo afora, incluindo Iraque, China, Cazaquistão e África do Sul.
“Revelando anseios da comunidade, ansiedades, alegrias e lutas, o projeto mostra como o espaço público pode cultivar o autoconhecimento e a empatia entre os vizinhos”, afirma a arquiteta e designer. “A iniciativa também inspirou dezenas de reproduções que oferecem novas maneiras de nos envolvermos com as pessoas ao nosso redor”, acrescenta.
Certa de que a frase é uma forma de compartilhar “medos e histórias”, a arquiteta e designer que veio a BH a convite dos organizadores do festival e com apoio do consulado americano em Minas e da Fundação Assis Chateaubriand está certa de que há esperança para o mundo. E como foi a primeira a complementar a frase criada por ela mesma, manifestou seu desejo: “Antes de morrer, eu quero... fazer uma biblioteca no deserto”..