Mais um desmoronamento de estrutura de um prédio construído em local acidentado no Buritis, na Região Oeste de Belo Horizonte, acende o alerta sobre as condições dos terrenos no bairro e a frequência de manutenções nos sistemas de drenagem desses imóveis. A atenção vale porque, segundo a Coordenadoria Municipal de Defesa Civil (Comdec), o Buritis é o bairro da cidade historicamente mais crítico para a ocorrência de deslizamento de encostas e, consequentemente, de acidentes e prejuízos. Depois do deslizamento do talude do Edifício Tarumã, na Rua Tito Guimarães, que atingiu o muro de arrimo do vizinho Mont Blanc, na Rua Iracy Manata, o órgão voltou a convocar moradores do bairro para avaliarem a situação dos sistemas de drenagem dos prédios e residências. “A responsabilidade na prevenção de desastres é de todos. E nas áreas particulares, cabe ao morador fazer a limpeza de calhas, verificar entupimento de canos, ralos e caixas, e do sistema de drenagem como um todo”, afirma o coordenador da Comdec, coronel Alexandre Lucas.
O deslizamento no Buritis já mobilizou síndicos de edifícios vizinhos que estão, via redes sociais, traçando estratégias para evitar problemas estruturais em seus imóveis. Um deles, o engenheiro eletricista Alessandro Ferreira Lima, de 41 anos, é morador da Rua Tito Guimarães. Ele conta que, logo após saber do ocorrido no muro de arrimo do prédio vizinho, já marcou uma visita do vistoriador da construtora no edifício para avaliar se o sistema de drenagem está em boas condições. “Fiquei muito preocupado.
Ele conta que também vai conversar com o síndico do edifício que faz fundos com o imóvel onde mora para juntos avaliarem a captação da água da chuva. “O prédio, que é um conjunto de quatro torres, recebe parte da água que desce daqui. Se ele estiver tendo qualquer problema para essa drenagem vou tentar resolver isso junto para evitar problemas futuros”, afirma, destacando a importância do alerta da Comdec. “É um chamado muito válido, porque nem sempre o morador se atenta para uma questão tão essencial, especialmente em uma área de terreno acidentado como é o Buritis.”
Síndica do Edifício Mont Blanc, a farmacêutica Adriana Cacciari Zapaterra, de 56, também informou que vai procurar o prédio vizinho de fundos, de onde a encosta cedeu, para definirem o que será feito em relação à queda do muro de arrimo e a todos os prejuízos decorrentes do acidente. “Cheguei hoje de viagem e vou me atualizar do laudo da Defesa Civil e procurar o condomínio vizinho para resolver esse problema”, conta.
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Após desabamento no Buritis, Defesa Civil alerta para cuidados com drenagem em terrenosFamílias são retiradas de apartamentos depois que muro desaba no BuritisDefesa Civil de BH mobilizada com deslizamento de barranco e queda de muroDefesa Civil descarta novos riscos de deslizamentos no prédio do Buritis Síndicos e moradores se reúnem para discutir desmoronamento no BuritisOntem, a Comdec vistoriou novamente o edifício Mont Blanc. O prédio foi parcialmente interditado anteontem depois que o muro de arrimo de um prédio de grande porte localizado na Rua Tito Guimarães, via paralela à Iracy Manata, cedeu.
De acordo com a Comdec, o terreno está estável e o risco de deslizamento está sendo monitorado. Uma grande lona preta foi colocada no local para evitar que a chuva encharque ainda mais a encosta. Dona do apartamento do térreo, a artesã Elisabeth Lemguber conta que comprou o imóvel há pouco mais de um ano, quando o reformou todo. A área externa, onde havia bar e churrasqueira e cobertura de vidro, foi totalmente destruída. O restante dos cômodos foi tomado por entulho, barro e concreto.
Elisabeth não sabe quando poderá retomar a casa nem quem vai arcar com os custos da limpeza e das perdas. “São 10 centímetros de altura de lama no apartamento todo.
OUTRAS ÁREAS O alerta da Defesa Civil vale para a cidade toda, mas além do Buritis, outros bairros de Belo Horizonte estão prioritariamente no radar do órgão. São Bento, Sion, São Lucas, Anchieta, Santa Lúcia, Caiçara, Padre Eustáquio, Castelo, Ouro Preto e Sagrada Família são áreas que têm em comum o relevo acidentado e o modelo construtivo. “São construções que precisam de muros para contenção de encostas. E essas obras nem sempre são bem executadas ou então não passam por manutenção adequada e constante”, alerta Alexandre Lucas.
Palavra de especialista
Fábio Luciano Borssato
Engenheiro geólogo
Segurança dos terrenos
“Ter um profissional para atestar a segurança dos terrenos é fundamental, devido à composição dos terrenos existentes no Bairro Buritis. A maioria das rochas pertence a um sequenciamento caracterizado como 'baixa dureza': os filitos – minério fino combinado com rocha, que deixa o solo muito instável. Quando o acabamento tem uma inclinação da rocha muito alta, essa rocha é mole e é concordante (vai no mesmo sentido) com a fundação do prédio, é preciso cuidado redobrado. A combinação de rocha com alta porosidade (retém muita água) com o excesso de chuva e a saturação termina fatalmente em desmoronamentos. Se numa fundação de prédio discordante ela terá 20 metros, no concordante são 402 metros, por exemplo.