O deslizamento no Buritis já mobilizou síndicos de edifícios vizinhos que estão, via redes sociais, traçando estratégias para evitar problemas estruturais em seus imóveis. Um deles, o engenheiro eletricista Alessandro Ferreira Lima, de 41 anos, é morador da Rua Tito Guimarães. Ele conta que, logo após saber do ocorrido no muro de arrimo do prédio vizinho, já marcou uma visita do vistoriador da construtora no edifício para avaliar se o sistema de drenagem está em boas condições. “Fiquei muito preocupado. Nós, moradores do prédio e também da rua, estamos conversando em grupos de WhatsApp sobre a necessidade de fazer essa manutenção preventiva”, diz.
Ele conta que também vai conversar com o síndico do edifício que faz fundos com o imóvel onde mora para juntos avaliarem a captação da água da chuva. “O prédio, que é um conjunto de quatro torres, recebe parte da água que desce daqui. Se ele estiver tendo qualquer problema para essa drenagem vou tentar resolver isso junto para evitar problemas futuros”, afirma, destacando a importância do alerta da Comdec. “É um chamado muito válido, porque nem sempre o morador se atenta para uma questão tão essencial, especialmente em uma área de terreno acidentado como é o Buritis.”
Síndica do Edifício Mont Blanc, a farmacêutica Adriana Cacciari Zapaterra, de 56, também informou que vai procurar o prédio vizinho de fundos, de onde a encosta cedeu, para definirem o que será feito em relação à queda do muro de arrimo e a todos os prejuízos decorrentes do acidente. “Cheguei hoje de viagem e vou me atualizar do laudo da Defesa Civil e procurar o condomínio vizinho para resolver esse problema”, conta.
Já o síndico do Edifício Tarumã, André Carvalho, adianta que acionou o seguro e que a reconstrução será feita de forma amigável. Ele disse que todo o sistema de drenagem do prédio está em dia e que foi feita uma reforma há cerca de duas semanas.
Ontem, a Comdec vistoriou novamente o edifício Mont Blanc. O prédio foi parcialmente interditado anteontem depois que o muro de arrimo de um prédio de grande porte localizado na Rua Tito Guimarães, via paralela à Iracy Manata, cedeu. Do total de 10 apartamentos, cinco foram desocupados imediatamente pelo Corpo de Bombeiros, mas quatro foram liberados no fim da tarde, depois de uma avaliação de risco. Permanece interditado o apartamento térreo, o mais atingido pela grande quantidade de terra que desceu pelo barranco localizado nos fundos do Edifício Tarumã. As áreas de lazer de dois prédios laterais, vizinhos ao Mont Blanc, também continuam interditadas, de acordo com a Defesa Civil.
De acordo com a Comdec, o terreno está estável e o risco de deslizamento está sendo monitorado. Uma grande lona preta foi colocada no local para evitar que a chuva encharque ainda mais a encosta. Dona do apartamento do térreo, a artesã Elisabeth Lemguber conta que comprou o imóvel há pouco mais de um ano, quando o reformou todo. A área externa, onde havia bar e churrasqueira e cobertura de vidro, foi totalmente destruída. O restante dos cômodos foi tomado por entulho, barro e concreto.
Elisabeth não sabe quando poderá retomar a casa nem quem vai arcar com os custos da limpeza e das perdas. “São 10 centímetros de altura de lama no apartamento todo. Tapetes e vários móveis foram perdidos”, conta. Mas ela não se deixa abater: “Pode ocorrer com qualquer um. Será só um tempo de desconforto e um prejuízo material, dos quais vou me recuperar com certeza”.
OUTRAS ÁREAS O alerta da Defesa Civil vale para a cidade toda, mas além do Buritis, outros bairros de Belo Horizonte estão prioritariamente no radar do órgão. São Bento, Sion, São Lucas, Anchieta, Santa Lúcia, Caiçara, Padre Eustáquio, Castelo, Ouro Preto e Sagrada Família são áreas que têm em comum o relevo acidentado e o modelo construtivo. “São construções que precisam de muros para contenção de encostas. E essas obras nem sempre são bem executadas ou então não passam por manutenção adequada e constante”, alerta Alexandre Lucas.
Palavra de especialista
Fábio Luciano Borssato
Engenheiro geólogo
Segurança dos terrenos
“Ter um profissional para atestar a segurança dos terrenos é fundamental, devido à composição dos terrenos existentes no Bairro Buritis. A maioria das rochas pertence a um sequenciamento caracterizado como 'baixa dureza': os filitos – minério fino combinado com rocha, que deixa o solo muito instável. Quando o acabamento tem uma inclinação da rocha muito alta, essa rocha é mole e é concordante (vai no mesmo sentido) com a fundação do prédio, é preciso cuidado redobrado. A combinação de rocha com alta porosidade (retém muita água) com o excesso de chuva e a saturação termina fatalmente em desmoronamentos. Se numa fundação de prédio discordante ela terá 20 metros, no concordante são 402 metros, por exemplo. Para piorar, essas rochas têm, muitas vezes por cima delas, um pacote de rochas alteradas, de constituições de minerais argilosos. Não é solo nem rocha, então, para dar sustentação de viga não pode construir no pacote, tem que ser abaixo dele. É preciso ainda mais atenção, pois a estrutura do prédio é o coração dele.”