Jornal Estado de Minas

'A chuva ajudou, mas a negligência foi maior', diz irmão de vítima atingida por muro em BH

Ângela de Fátima Fernandes cuidava dos pais e estava em um barracão nos fundos da casa - Foto: Arquivo pessoal
A negligência é uma das causas apontadas por parentes da moradora da casa que foi atingida por um muro na manhã desta quarta-feira no Bairro Santo Antônio, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte. Os escombros atingiram o quarto do imóvel, localizado na Rua Abre Campo, 132, onde a mulher dormia. Ela acabou soterrada e morreu. A síndica do prédio vizinho já tinha sido notificada pela Coordenadoria Municipal de Defesa Civil (Comdec) para resolver os problemas de trincas na estrutura. Porém, as medidas tomadas não foram suficientes para a contenção.

“A Defesa Civil os notificou duas vezes. Depois de dois meses que começaram a arrumar a caixa de esgoto. Foi uma obra malfeita, porque desde que o prédio foi construído, o muro começou a ceder.

Sempre falamos que tinha que ser colocada uma contenção, para não acontecer o pior”, desabafou Euclides Macedo, irmão da vítima. “A chuva ajudou, mas a negligência foi maior”, completou.

O desabamento ocorreu entre a madrugada e a manhã desta quarta-feira. De acordo com o Corpo de Bombeiros, o muro desabou e atingiu o quarto do barracão onde dormia Ângela de Fátima Fernandes, de 63 anos. Os pais da vítima moram na casa da frente. A mulher ficou presa aos escombros e morreu no local.

Por volta das 8h, um médico do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), que foi chamado para prestar os primeiros socorros, confirmou a morte. Além de três viaturas dos bombeiros e da equipe do Samu, a Defesa Civil também foi chamada.


Segundo Euclides, ele foi avisado pela esposa sobre o acidente. “Ela me ligou dizendo que meu pai tinha ligado informando que tinha caído o muro em cima do barracão. Eu vim de imediato, por volta das 7h10. A porta não estava abrindo, mas consegui arrombar e, como vi muito entulho em cima dela, já tinha visto que nós a tínhamos perdido”, conta.

Para o irmão de Ângela, a mulher dormia no momento do desabamento. “O fato deve ter acontecido por volta das 2h. Meu pai falou que não ouviu nenhum barulho. Deve ser por causa da chuva.
Quando acordou, às 6h, viu o que ocorreu”, afirmou Euclides.

Técnicos da Comdec estiveram no imóvel na manhã desta quarta-feira para fazer uma vistoria. O agente Nilson Luiz da Silva, vistoriador do órgão, descartou que o desabamento tenha relação com a chuva. “Não foi a chuva que fez o muro cair. É impossível correlacionar os fatos por estar na divisa (entre a casa e o prédio), saber se as infiltrações geraram algum dano na estrutura a ponto de fazê-la desabar. Não se sabe há quanto tempo isso vazou e foi para o terreno, e o tipo de dano que gerou. Pode, sim, ter contribuído para alguma coisa. Mas de forma geral, dá para ver que é uma estrutura antiga, que é passível de desabar em função dos danos que já apresentava”, disse. Segundo Nilson, moradores de prédios vizinhos já tinham informado que o muro apresentava um desalinhamento.

Notificação da Defesa Civil

A família da vítima reclama da negligência de moradores de um prédio vizinho que já tinham sido notificados pela Defesa Civil.
“Tinha uma infiltração no muro. Chamamos a Defesa Civil duas vezes e a síndica e falamos do problema. Ela disse que era problema com a caixa de gordura e que ia fazer o orçamento. Ficou enrolando por aproximadamente dois meses”, disse Euclides.

As reclamações dos moradores foram confirmadas pela Comdec. Por meio de nota, o órgão afirmou que os moradores do prédio vizinho já tinham sido notificados anteriormente por causa dos problemas no muro. Segundo o órgão, em vistoria realizada ao imóvel em 17 de agosto foram constatadas infiltrações, seguidas de escorrimentos de lama e com odor semelhante a esgotamento sanitário, dadas as suas características (coloração) e odor peculiar.

“Este local faz divisa com o imóvel situado em mesmo logradouro cujo o numeral é 122 (Cond. Ed. Ipê Amarelo).
Vistoriada a divisa pelo lado do condomínio, pôde ser notado que o piso de garagem deste é superior ao local dos escorrimentos. Neste não foram percebidas avarias, entretanto foram vistas caixas de captação hidrossanitárias próximo à divisa entre os imóveis”, afirmou a Defesa Civil.

Os técnicos constataram que os problemas identificados causavam riscos de segurança da estrutura. Além disso, mostraram serem necessárias intervenções para identificar o vazamento e mitigá-lo. Caso não fossem adotadas medidas por parte dos moradores, as avarias poderiam se agravar. O Condomínio Edifício Ipê Amarelo foi notificado para contratar profissional habilitado particular para a avaliação e para tomar as medidas para mitigar os riscos.

Outra vistoria foi feita no imóvel em 8 de setembro deste ano. Foi detectado o risco de queda do muro de arrimo com extensão de aproximadamente 10 metros por 2,50 metros de altura. A estrutura estava com avarias e trincas, que aparentavam ser antigas. Os moradores que solicitaram a visita afirmaram que a contenção era antiga.

Os técnicos observaram que era necessária intervenção técnica no local para evitar a queda. Novamente, a síndica e o edifício foram notificados para que medidas fossem tomadas no local.

A síndica do prédio, que não quis dar entrevista, atendeu a reportagem por meio do interfone e apenas afirmou que as obras solicitadas pela Defesa Civil foram realizadas.

 

(RG)

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