Dos bairros às favelas, a agonia de quem perdeu seu teto devido às chuvas não se restringe à correria de se salvar e procurar local seguro. Muitas vezes por lentidão no andamento de processos judiciais ou na adoção de medidas por parte do poder público, essas famílias acabam atiradas à incerteza de anos vivendo em moradias provisórias, casas de parentes e abrigos. Os anos de estiagem prolongada (2013, 2014 e 2015) fizeram muitos belo-horizontinos esquecer essas situações, mas a temporada de chuvas vigorosas retornou este ano e já fez com que 11 famílias deixassem residências ameaçadas – há 10 casos em vilas e favelas e um no Bairro Buritis (Região Oeste de Belo Horizonte).
É o caso da supervisora de call center Rita de Cássia Piumbini, de 56 anos. Os problemas delas começaram com a interdição do edifício Vale dos Buritis, em 22 de outubro de 2011. Desde então, não tem mais uma casa própria e diz arcar com muitos prejuízos, incluindo os reajustes anuais dos alugueis que no caso dela chegaram a R$ 2,2 mil, enquanto o teto concedido pela Justiça para pagamento da construtora é de R$ 2 mil. “Sinto muita frustração. Você sonha em ter uma casa própria para o conforto na velhice e para os filhos. O segundo sentimento é o de revolta com a passividade da Justiça no Brasil, já que até hoje o juiz de primeira instância não deu uma sentença num processo de 5 anos”, reclama.
No local onde ficava o edifício de Rita, que caiu, e o vizinho, que foi demolido, a Prefeitura de Belo Horizonte construiu emergencialmente dois muros de arrimo e fez uma cobertura de concreto no terreno de baixo que vinha sendo aberto para a construção de mais empreendimentos. Em um terceiro prédio que foi interditado, onde ninguém chegou a morar, o muro da rua ainda tem as trincas da época do desabamento. Das janelas e garagens, é possível ver ferragens retorcidas, madeiras entulhadas e tubulações empilhadas. Moradores da vizinhança, agora, em vez de se preocuparem com a estabilidade do solo, temem que a edificação acabe invadida ou seja utilizada por usuários de crack e ladrões.
Também no Buritis, a dona de casa Elisabeth Lemguber, de 68, foi “expulsa” em 12 de novembro deste ano do apartamento em que vive na Rua Iracy Manata e espera não ter de enfrentar problemas por tanto tempo. Desde que o muro de arrimo do condomínio desabou e uma grande quantidade de lama e pedras invadiu parte do apartamento, ela buscou refúgio na casa de parentes. “É muito triste passar essa época deslocada e sem saber como vai ser o ano que entra, o que vai ser de mim e da minha casa”, lamenta. “Já entrou água na minha casa e está ameaçando móveis e outros quartos”, completa Elisabeth, que aguarda solução para que seu patrimônio não se deteriore. “O prédio de cima já assumiu os danos. Disseram que vão acionar o seguro deles para me ressarcir e falaram para a minha síndica que vão consertar (o apartamento), mas me pediram três orçamentos para retirar o entulho”, conta.
ABRIGO Para quem não tem casas de familiares para se acomodar, a saída é se instalar em locais públicos oferecidos para acolher atingidos pela chuva. No Abrigo Granja de Freitas, no Taquaril, Região Leste, oito dos 10 desabrigados de vilas e favelas de BH este ano encontraram um lugar para viver enquanto suas casas estão sendo avaliadas e podem sofrer intervenções para que suas estruturas já ameaçadas não sejam mais comprometidas ou acabem desabando. A demora por essas definições também é grande. Além das pessoas que tiveram de sair de casa este ano, há quem esteja no local há mais tempo. A auxiliar de limpeza Darlete Martins, de 31 e sua mãe já estão há dois anos abrigadas desde que a casa delas, no Morro das Pedras (Oeste de BH), começou a desabar pela cozinha e foi interditada pela Urbel.
“Não dá para morar lá. Mas, enquanto nada é feito, o lote está acumulando lixo e sendo destruído pelas pessoas. A gente quer ver se vai ser tudo demolido ou se vamos receber outra casa. Vamos levando a vida até que isso seja resolvido”, afirma Darlete. A irmã dela, Zilande Monteiro, de 30, que foi morar no mesmo abrigo com os dois filhos, de 2 e 4 anos, reclama das infestações a que estão sujeitos na morada provisória. “Estamos morando no meio de muitos ratos que roem os cobertores, os colchões, os móveis, comem os alimentos e ameaçam nossos filhos. Os quartos também estão cheios de percevejos e de besouros. Está difícil viver nessas condições”, afirma.
De acordo com a Secretaria Adjunta de Assistência Social, a infestação de besouros é comum em períodos chuvosos e os insetos estão aparecendo em vários pontos da cidade. Sobre os ratos, a secretaria informa que “houve uma programação para o ano de 2016 de dedetização e desratização. Ao longo de todo o ano, foram realizadas ações de combate e prevenção. No dia 11 deste mês a dedetizadora contratada aplicou o produto nos cômodos vazios e no dia 18 ocorreu a aplicação apropriada os cômodos ocupados. No próximo dia 7 haverá nova dedetização”. A secretaria informou não ter recebido queixas sobre percevejos.
PROBLEMAS NO BURITIS E CAIÇARA
Casos na 1ª instância
Uma ação dos moradores do edifício Vale do Buritis, no Bairro Buritis (Região Oeste de BH) contra a Construtora Estrutura foi movida antes de o prédio cair, pedindo reparação de danos. Cinco anos depois, o caso ainda está na primeira instância. Com o desabamento, caberá ao juiz arbitrar uma indenização, caso condene a empresa. O advogado da construtora, Eduardo Cordeiro, sustenta que a culpa não foi da Estrutura. “Foram danos sofridos pela rede de drenagem e vazamento da Copasa”, disse. O caso do prédio do Caiçara também está em primeira instância. O advogado das 12 famílias, Adriano Cardoso, quer que a Copasa e a Prefeitura de BH paguem indenizações de R$ 300 mil por danos materiais e outros R$ 100 mil de danos morais a cada um. “Espero que a sentença saia em um ano”, disse. Os moradores afirmam não receber aluguel. “Tivemos que arcar com os prejuízos”, disse Helvécio José Tibães, de 53 anos.
É o caso da supervisora de call center Rita de Cássia Piumbini, de 56 anos. Os problemas delas começaram com a interdição do edifício Vale dos Buritis, em 22 de outubro de 2011. Desde então, não tem mais uma casa própria e diz arcar com muitos prejuízos, incluindo os reajustes anuais dos alugueis que no caso dela chegaram a R$ 2,2 mil, enquanto o teto concedido pela Justiça para pagamento da construtora é de R$ 2 mil. “Sinto muita frustração. Você sonha em ter uma casa própria para o conforto na velhice e para os filhos. O segundo sentimento é o de revolta com a passividade da Justiça no Brasil, já que até hoje o juiz de primeira instância não deu uma sentença num processo de 5 anos”, reclama.
No local onde ficava o edifício de Rita, que caiu, e o vizinho, que foi demolido, a Prefeitura de Belo Horizonte construiu emergencialmente dois muros de arrimo e fez uma cobertura de concreto no terreno de baixo que vinha sendo aberto para a construção de mais empreendimentos. Em um terceiro prédio que foi interditado, onde ninguém chegou a morar, o muro da rua ainda tem as trincas da época do desabamento. Das janelas e garagens, é possível ver ferragens retorcidas, madeiras entulhadas e tubulações empilhadas. Moradores da vizinhança, agora, em vez de se preocuparem com a estabilidade do solo, temem que a edificação acabe invadida ou seja utilizada por usuários de crack e ladrões.
Também no Buritis, a dona de casa Elisabeth Lemguber, de 68, foi “expulsa” em 12 de novembro deste ano do apartamento em que vive na Rua Iracy Manata e espera não ter de enfrentar problemas por tanto tempo. Desde que o muro de arrimo do condomínio desabou e uma grande quantidade de lama e pedras invadiu parte do apartamento, ela buscou refúgio na casa de parentes. “É muito triste passar essa época deslocada e sem saber como vai ser o ano que entra, o que vai ser de mim e da minha casa”, lamenta. “Já entrou água na minha casa e está ameaçando móveis e outros quartos”, completa Elisabeth, que aguarda solução para que seu patrimônio não se deteriore. “O prédio de cima já assumiu os danos. Disseram que vão acionar o seguro deles para me ressarcir e falaram para a minha síndica que vão consertar (o apartamento), mas me pediram três orçamentos para retirar o entulho”, conta.
ABRIGO Para quem não tem casas de familiares para se acomodar, a saída é se instalar em locais públicos oferecidos para acolher atingidos pela chuva. No Abrigo Granja de Freitas, no Taquaril, Região Leste, oito dos 10 desabrigados de vilas e favelas de BH este ano encontraram um lugar para viver enquanto suas casas estão sendo avaliadas e podem sofrer intervenções para que suas estruturas já ameaçadas não sejam mais comprometidas ou acabem desabando. A demora por essas definições também é grande. Além das pessoas que tiveram de sair de casa este ano, há quem esteja no local há mais tempo. A auxiliar de limpeza Darlete Martins, de 31 e sua mãe já estão há dois anos abrigadas desde que a casa delas, no Morro das Pedras (Oeste de BH), começou a desabar pela cozinha e foi interditada pela Urbel.
“Não dá para morar lá. Mas, enquanto nada é feito, o lote está acumulando lixo e sendo destruído pelas pessoas. A gente quer ver se vai ser tudo demolido ou se vamos receber outra casa. Vamos levando a vida até que isso seja resolvido”, afirma Darlete. A irmã dela, Zilande Monteiro, de 30, que foi morar no mesmo abrigo com os dois filhos, de 2 e 4 anos, reclama das infestações a que estão sujeitos na morada provisória. “Estamos morando no meio de muitos ratos que roem os cobertores, os colchões, os móveis, comem os alimentos e ameaçam nossos filhos. Os quartos também estão cheios de percevejos e de besouros. Está difícil viver nessas condições”, afirma.
De acordo com a Secretaria Adjunta de Assistência Social, a infestação de besouros é comum em períodos chuvosos e os insetos estão aparecendo em vários pontos da cidade. Sobre os ratos, a secretaria informa que “houve uma programação para o ano de 2016 de dedetização e desratização. Ao longo de todo o ano, foram realizadas ações de combate e prevenção. No dia 11 deste mês a dedetizadora contratada aplicou o produto nos cômodos vazios e no dia 18 ocorreu a aplicação apropriada os cômodos ocupados. No próximo dia 7 haverá nova dedetização”. A secretaria informou não ter recebido queixas sobre percevejos.
PROBLEMAS NO BURITIS E CAIÇARA
Casos na 1ª instância
Uma ação dos moradores do edifício Vale do Buritis, no Bairro Buritis (Região Oeste de BH) contra a Construtora Estrutura foi movida antes de o prédio cair, pedindo reparação de danos. Cinco anos depois, o caso ainda está na primeira instância. Com o desabamento, caberá ao juiz arbitrar uma indenização, caso condene a empresa. O advogado da construtora, Eduardo Cordeiro, sustenta que a culpa não foi da Estrutura. “Foram danos sofridos pela rede de drenagem e vazamento da Copasa”, disse. O caso do prédio do Caiçara também está em primeira instância. O advogado das 12 famílias, Adriano Cardoso, quer que a Copasa e a Prefeitura de BH paguem indenizações de R$ 300 mil por danos materiais e outros R$ 100 mil de danos morais a cada um. “Espero que a sentença saia em um ano”, disse. Os moradores afirmam não receber aluguel. “Tivemos que arcar com os prejuízos”, disse Helvécio José Tibães, de 53 anos.