Quando o ônibus verde da linha 302 (Estação Diamante/Vila Pinho) para no primeiro ponto da Avenida Perimetral, depois de sair da Via do Minério, no Barreiro, cerca de 30 pessoas se aglomeram perto do coletivo. Em vez de fazer fila na porta dianteira, de embarque, o grupo se dirige para a parte de trás e invade o veículo assim que as portas de desembarque são abertas, mal deixando espaço para quem precisa sair. Casos como esse foram flagrados pela reportagem do Estado de Minas em outros locais e têm se tornado mais frequentes na capital mineira, segundo relatos de motoristas e passageiros.
Na Avenida Perimetral, no Barreiro, o grupo de passageiros que embarcam pela porta de trás sem pagar é variado e inclui jovens e pessoas mais velhas, estudantes e trabalhadores, mulheres com bebês no colo ou puxando o filho pelo braço. Ali, a estratégia para entrar é formar uma aglomeração e se afunilar ônibus adentro. Na Savassi (Região Centro-Sul), onde o EM também flagrou casos de invasão a coletivo da linha 2101 (Grajaú/Sion), a tática para entrar sem pagar é se posicionar no rumo da porta de trás, subir correndo quando o acesso se abre e sentar nas cadeiras mais ao fundo do veículo, para dificultar reação do agente de bordo. No ponto da Avenida do Contorno, altura do nº 6.777, a reportagem flagrou sobretudo jovens entrando no ônibus.
A notificação dessas situações é muito pequena. Segundo a BHTrans, houve 116 reclamações de passageiros por casos do tipo este ano, contra 80 no ano passado, alta de 45%. Um motorista da linha 302, que pediu para não se identificar por temer retaliações, diz que ele e o agente de bordo são ameaçados se tentam tomar alguma providência quando alguém entra sem pagar. “A gente abre a porta para as pessoas descerem e sobe aquele bando todo. Se falar alguma coisa, eles nos xingam e ameaçam de agressão”, afirmou.
Usuário do sistema de transporte público, o auxiliar de escritório Jorge dos Santos, de 30 anos, reclama das sucessivas invasões. “A gente vai desembarcar e sobe aquele tanto de gente te empurrando, parece uma boiada”, disse. “Quem paga a passagem com o suor do trabalho fica parecendo bobo, mas ninguém faz nada e isso só vai aumentando”, acrescentou.
CONSEQUÊNCIAS Para o engenheiro Silvestre de Andrade Puty Filho, especialista em transporte e trânsito, o problema é cultural. Mas ele alerta que, se não for resolvido, cria uma espiral de prejuízos. “Quando temos evasão, menos pessoas pagam, mas os serviços continuam com os mesmos. Essa arrecadação menor pressiona o custo da tarifa. Com o aumento, encarecemos o custo do trabalhador e deixamos de ter empregos. Sem empregos, menos renda e mais evasão: um círculo vicioso”, definiu.
Uma das formas de coibir isso, segundo Puty Filho, seria instalar mais câmeras nos ônibus e ampliar a fiscalização. “As pessoas não podem impor suas vontades acima das leis e da sociedade ou voltaremos à barbárie”, opinou. Uma tentativa recente de ampliar a fiscalização, porém, teve de ser revista. No mês passado, em Venda Nova, grupos depredaram janelas, bancos, roletas e lataria de cinco ônibus da Linha 607 (Estação Vilarinho/ Esplendor), depois de a empresa decidir circular com fiscais. Depois dos ataques, a decisão foi revogada.
Na avaliação do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (Setra-BH), os motivos para a evasão ter chegado a esse ponto são “vandalismo, desonestidade e impunidade”. A entidade cobra medidas de forças de segurança pública. “As empresas fazem fiscalizações nos veículos, para inibir a ação de vândalos, mas não têm – e não podem ter – poder de polícia. Motoristas, agentes de bordo e fiscais são orientados a não reagir e a comunicar o fato à primeira autoridade policial encontrada”, informou o sindicato, por meio de nota.
Para o movimento Tarifa Zero, a evasão é reflexo dos altos custos do sistema. “BH tem aumentado as tarifas e a população não tem conseguido acompanhar com o orçamento. Por isso, a perspectiva é que aumente (a evasão)”, disse Clécio Cunha Mendes, integrante do movimento. “Uma solução seria o subsídio do Estado às passagens, algo que já ocorre em Londres e em Buenos Aires, por exemplo”, acrescentou.
O Comando do Policiamento da Capital, da Polícia Militar, opinou por meio de nota que o problema é mais um caso de educação que de polícia e apontou falta de registro de ocorrências. “Em grande parte das vezes (…) a Polícia Militar não é acionada, pois para a empresa não é vantajoso perder um funcionário para o registro da ocorrência”, informou a corporação. Quando a PM flagra essas condutas, leva o autor à delegacia por crime, previsto no artigo 176 do Código Penal, de “utilizar-se de meio de transporte sem dispor de recursos”, com punição de 15 dias a dois anos de prisão. Se a pessoa tiver dinheiro para a passagem, pode ser enquadrada por estelionato, punido com prisão de um a cinco anos e multa.
Na Avenida Perimetral, no Barreiro, o grupo de passageiros que embarcam pela porta de trás sem pagar é variado e inclui jovens e pessoas mais velhas, estudantes e trabalhadores, mulheres com bebês no colo ou puxando o filho pelo braço. Ali, a estratégia para entrar é formar uma aglomeração e se afunilar ônibus adentro. Na Savassi (Região Centro-Sul), onde o EM também flagrou casos de invasão a coletivo da linha 2101 (Grajaú/Sion), a tática para entrar sem pagar é se posicionar no rumo da porta de trás, subir correndo quando o acesso se abre e sentar nas cadeiras mais ao fundo do veículo, para dificultar reação do agente de bordo. No ponto da Avenida do Contorno, altura do nº 6.777, a reportagem flagrou sobretudo jovens entrando no ônibus.
A notificação dessas situações é muito pequena. Segundo a BHTrans, houve 116 reclamações de passageiros por casos do tipo este ano, contra 80 no ano passado, alta de 45%. Um motorista da linha 302, que pediu para não se identificar por temer retaliações, diz que ele e o agente de bordo são ameaçados se tentam tomar alguma providência quando alguém entra sem pagar. “A gente abre a porta para as pessoas descerem e sobe aquele bando todo. Se falar alguma coisa, eles nos xingam e ameaçam de agressão”, afirmou.
Usuário do sistema de transporte público, o auxiliar de escritório Jorge dos Santos, de 30 anos, reclama das sucessivas invasões. “A gente vai desembarcar e sobe aquele tanto de gente te empurrando, parece uma boiada”, disse. “Quem paga a passagem com o suor do trabalho fica parecendo bobo, mas ninguém faz nada e isso só vai aumentando”, acrescentou.
CONSEQUÊNCIAS Para o engenheiro Silvestre de Andrade Puty Filho, especialista em transporte e trânsito, o problema é cultural. Mas ele alerta que, se não for resolvido, cria uma espiral de prejuízos. “Quando temos evasão, menos pessoas pagam, mas os serviços continuam com os mesmos. Essa arrecadação menor pressiona o custo da tarifa. Com o aumento, encarecemos o custo do trabalhador e deixamos de ter empregos. Sem empregos, menos renda e mais evasão: um círculo vicioso”, definiu.
Uma das formas de coibir isso, segundo Puty Filho, seria instalar mais câmeras nos ônibus e ampliar a fiscalização. “As pessoas não podem impor suas vontades acima das leis e da sociedade ou voltaremos à barbárie”, opinou. Uma tentativa recente de ampliar a fiscalização, porém, teve de ser revista. No mês passado, em Venda Nova, grupos depredaram janelas, bancos, roletas e lataria de cinco ônibus da Linha 607 (Estação Vilarinho/ Esplendor), depois de a empresa decidir circular com fiscais. Depois dos ataques, a decisão foi revogada.
Na avaliação do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros de Belo Horizonte (Setra-BH), os motivos para a evasão ter chegado a esse ponto são “vandalismo, desonestidade e impunidade”. A entidade cobra medidas de forças de segurança pública. “As empresas fazem fiscalizações nos veículos, para inibir a ação de vândalos, mas não têm – e não podem ter – poder de polícia. Motoristas, agentes de bordo e fiscais são orientados a não reagir e a comunicar o fato à primeira autoridade policial encontrada”, informou o sindicato, por meio de nota.
Para o movimento Tarifa Zero, a evasão é reflexo dos altos custos do sistema. “BH tem aumentado as tarifas e a população não tem conseguido acompanhar com o orçamento. Por isso, a perspectiva é que aumente (a evasão)”, disse Clécio Cunha Mendes, integrante do movimento. “Uma solução seria o subsídio do Estado às passagens, algo que já ocorre em Londres e em Buenos Aires, por exemplo”, acrescentou.
O Comando do Policiamento da Capital, da Polícia Militar, opinou por meio de nota que o problema é mais um caso de educação que de polícia e apontou falta de registro de ocorrências. “Em grande parte das vezes (…) a Polícia Militar não é acionada, pois para a empresa não é vantajoso perder um funcionário para o registro da ocorrência”, informou a corporação. Quando a PM flagra essas condutas, leva o autor à delegacia por crime, previsto no artigo 176 do Código Penal, de “utilizar-se de meio de transporte sem dispor de recursos”, com punição de 15 dias a dois anos de prisão. Se a pessoa tiver dinheiro para a passagem, pode ser enquadrada por estelionato, punido com prisão de um a cinco anos e multa.