Ao mesmo tempo em que o controle da sífilis esbarra na insuficiência de ações de prevenção, a doença ganha ainda mais força para se alastrar diante de outros entraves. Já constatado, é baixo o percentual de parceiros que tratam a doença concomitantemente à gestante – procedimento considerado adequado, segundo protocolo do Ministério da Saúde.
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Número de casos dispara e autoridades admitem epidemia de sífilis em MinasBesouros que invadiram Região Metropolitana de Belo Horizonte não oferecem risco à saúdeFalta de verbas e atraso nos repasses são gargalos na saúde de BHPrefeituras vão cobrar verba da saúde na JustiçaSecretaria Municipal de Saúde investiga casos de varicela em Governador ValadaresPBH promove ações para alertar sobre a sífilis, que já contaminou mais de 8 mil este anoBlitz da saúde oferece exames gratuitos na Praça da Liberdade, em BHEm 41,3% dos casos (1.870), não houve adesão e, para os 32% restantes (1.448), não há informação acerca do tratamento do parceiro nas fichas de atendimento. Além desse problema, Minas Gerais enfrenta outro que é comum a uma realidade nacional: o desabastecimento da penicilina benzatina, medicamento usado no tratamento da sífilis.
A coordenadora de DST/Aids e Hepatites Virais da Secretaria de Estado da Saúde, Jordana Costa Lima, explica a importância da adesão ao tratamento. “A sífilis é uma doença muito fácil de ser transmitida, mais até que a hepatite e o vírus HIV. Além disso, se a mulher se trata e o parceiro não, ela volta a ser reinfectada e começa um novo ciclo da doença”, diz. Ela lembra ainda que a pessoa com sífilis tem maior chance de contrair o vírus da Aids, porque um dos sintomas da doença são as feridas, que aumentam a exposição ao HIV.
O chamamento ao parceiro para se tratar, no caso das gestantes, tem relação ainda com a saúde do bebê, uma vez que, não tratada ou reinfectada, a mãe transmite a doença via placenta e a criança apresenta sérios problemas de saúde (veja arte).
Sobre o trabalho de prevenção, a coordenadora explica que o estado mantém ações, como distribuição de preservativos (30 milhões por ano) e intensificou o diagnóstico ao longo dos últimos anos, com aplicação gradativa de testes rápidos. Sobre campanhas, Jordana diz que Minas segue diretrizes do Ministério e que começa, nos próximos dias, com trabalho publicitário voltado para a conscientização da população.
CONTROLE Em Belo Horizonte, a referência técnica da Coordenação de Saúde Sexual e Atenção às DSTs/Aids, Maria Gorete dos Santos Nogueira, explica que há uma série de ações sendo feitas para a prevenção e o controle da sífilis, a exemplo de treinamento de equipes, aplicação de testes rápidos, distribuição de preservativos e material didático, além de ações de conscientização. Ela destaca, ainda, que os municípios que apresentam alto número de casos são justamente aqueles em que o trabalho de diagnóstico vem sendo feito, como é o caso de BH. Mas admite que “todas as vezes que vêm os surtos de outras doenças, os programas (da sífilis) são atropelados por essas outras prioridades da saúde. Infelizmente é uma realidade: há diminuição de investimento e de pessoal nas ações”.
De acordo com o Ministério da Saúde, desde 2014, países de todo o mundo sofrem com a baixa nos estoques, devido à falta de matéria-prima para a produção. Mas diz que, este ano, adquiriu, em caráter emergencial, 2,7 milhões de frascos de penicilina benzatina, com prioridade na prescrição para grávidas e seus parceiros. Além disso, o ministério já iniciou a compra de 230 mil ampolas de penicilina cristalina.
Epidemia em todo o Brasil
Dados do Boletim Epidemiológico da Sífilis deste ano, com informações de 2014 e 2015, mostram que a doença também cresceu em altas proporções no restante do país.
Campanha começa hoje em Minas
Depois de assinar, no fim de outubro, carta de compromisso estabelecendo estratégicas para a redução da sífilis congênita no país, no prazo de um ano, o Ministério da Saúde deu início a uma campanha publicitária, chamando a atenção para ações de prevenção da doença. Em Minas Gerais, as ações começam hoje. Materiais sobre a sífilis serão distribuídos para as 28 regionais de saúde, via correio. Estas, por sua vez, distribuirão aos municípios sob sua jurisdição.
O foco da ação é para detecção precoce da doença, na primeira consulta do pré-natal, e encaminhamento da mãe e seu parceiro sexual para imediato tratamento com penicilina. O incentivo é para que os testes rápidos sejam feitos ainda no primeiro trimestre da gestação, para facilitar o diagnóstico.
Como um dos focos é fazer a detecção da doença precocemente, a quantidade de testes entregues aos estados e municípios teve aumento. “Nosso objetivo é reunir a sociedade no esforço de combate à sífilis. Assim, poderemos incentivar a testarem, principalmente as grávidas, para evitar a transmissão vertical da doença. Trazemos soluções factíveis no compromisso que assinamos hoje”, enfatizou o ministro da saúde, Ricardo Barros, na ocasião do pacto feito, em outubro. Segundo o Ministério da Saúde, de 2001 para 2015 foram adquiridos 5 milhões a mais de testes, número que saltou de 1,1 milhão para 6,1 milhões.
Os profissionais da saúde também receberão capacitação sobre a doença, por meio do Manual técnico para o diagnóstico da sífilis. Ele apresenta três fluxogramas para o diagnóstico seguro da infecção. Os profissionais e serviços de saúde poderão selecionar aquele que mais se encaixa à sua realidade local.
Personagem a notícia
José da Silva*
Descobriu por acaso
Como a sífilis é silenciosa, muitas vezes ela pode ser detectada apenas depois de anos. Como foi o caso de um promotor de eventos, de 55 anos, que preferiu não se identificar. Ele descobriu a doença por acaso, depoisde fazer um exame de rotina.
* Nome fictício.