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Estado de Minas

Passageiros dos ônibus de BH enfrentam os mesmos problemas da década de 70

Sistema de transporte urbano da capital até se modernizou, mas população ainda sofre com os mesmos problemas de quatro décadas atrás, como superlotação e falta de conforto nos pontos


postado em 28/11/2016 06:00 / atualizado em 28/11/2016 08:57

Na Av. Olegário Maciel, usuários dos coletivos convivem com sujeira e falta de segurança (foto: Juarez Rodrigues/EM/DA Press)
Na Av. Olegário Maciel, usuários dos coletivos convivem com sujeira e falta de segurança (foto: Juarez Rodrigues/EM/DA Press)
“Deficiente, caro, perigoso e com empregados mal remunerados. Esses são alguns dos adjetivos que definem bem o sistema de transporte coletivo de Belo Horizonte (...). Em tudo isto, o mais prejudicado é o usuário (...)”. O texto, embora atual, é o abre de uma reportagem publicada no EM há 40 anos. Em 12 de dezembro de 1976, no 79º aniversário da capital, o jornal mostrou tormentos dos passageiros tanto do sistema municipal quanto do metropolitano. Quatro décadas depois, quando a cidade está prestes a comemorar 119 anos, parte dos problemas ainda persiste.

O que mais desagrada Elivaldo Pinheiro, aposentado de 71 anos, é o déficit de abrigos nos pontos. De cada quatro pontos de ônibus, apenas um conta com a estrutura. “Os que existem são pequenos. O tamanho não é suficiente para proteger todos os passageiros do sol forte ou da chuva.” O lamento dele é traduzido em números: dos cerca de 9,2 mil pontos gerenciados pela BHTrans, 2.385 – ou 26% do total – têm abrigos.

O déficit e a qualidade dos equipamentos foram tratados na matéria de 1976 da seguinte forma: “Os poucos abrigos para passageiros existentes em Belo Horizonte não cumprem jamais a sua finalidade. Não passam de uma armação de ferro segurando um teto de acrílico, deixando quem está debaixo completamente exposto ao sol e à chuva e não oferecendo qualquer conforto aos passageiros”.

A BHTrans informou que 1,3 mil estruturas serão instaladas até 2020, sendo 500 ao longo dos próximos seis meses. Segundo a empresa pública, os novos abrigos serão mais modernos, confortáveis e com capacidade 25% maior que a dos atuais. Haverá também espaço para cadeirantes. “A meta é para que cerca de 70% dos usuários embarquem em pontos abrigados. Hoje, o percentual é de 55%.”

Quem dera se esse fosse o único problema enfrentado pela costureira Lindaura Alves dos Santos Rodrigues, de 58. Dependendo do horário, quando há superlotação em algumas linhas, a moradora do Pindorama só consegue embarcar depois de ficar mais de 40 minutos no ponto. “Os ônibus até que passam, mas há tanta gente que é difícil entrar no primeiro e no segundo. Só consigo viajar no terceiro.”

Há 40 anos, o EM informou que passageiros aguardavam o lotação por até 40 minutos. De lá para cá, a quantidade de ônibus na cidade aumentou bastante. Da mesma forma, porém, a de passageiros. Na década de 1970, a população girava em torno de 1,235 milhão pessoas, que eram atendidas por 138 linhas. A frota totalizava 1.425 coletivos. Hoje, quando a população está em torno de 2,4 milhões de homens e mulheres (aumento de 94%), há 292 linhas (alta de 111%).

Já a frota cresceu 107% (2.960 ônibus). Na opinião de dona Tereza Alves, de 58, o transporte público pode melhorar. Para ir ao Bairro Baleia, ela embarca no 9201; em frente ao Parque Municipal, cujo ponto foi descrito na antiga reportagem como um lugar inseguro. Assim escrito: “Outro local bastante incômodo para os passageiros é o ponto dos ônibus Saudade, Pompeia e Baleia. Eles param na Avenida do Contorno, ao lado do Parque Municipal, local bastante perigoso à noite”.

Há 40 anos, o EM já abordava o problema. Clique para ler a matéria da época(foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press)
Há 40 anos, o EM já abordava o problema. Clique para ler a matéria da época (foto: Gladyston Rodrigues/EM/DA Press)
ASSALTOS “Continua a mesma coisa. Acredito que, pelas próprias características da região. Há muitos moradores de rua que cometem pequenos furtos e roubos por essas bandas”, afirmou dona Tereza, que disse ter conhecidos que tiveram o aparelho de telefone celular levados por criminosos na região.

A insegurança também é criticada pelo aposentado Luiz Antônio Fagundes, de 66. Ele mora no Bairro Novo Riacho, em Contagem, e embarca no 7150, no ponto da Avenida Olegário Maciel em frente ao Mercado Novo. Fagundes torce o nariz para o tempo da viagem do Centro de BH até o bairro da cidade vizinha de Contagem. E reclama de outro problema tratado na reportagem de 1976 e que ainda persiste: a falta de cidadania de parte da população que teima em sujar o espaço público.

O assunto foi abordado da seguinte forma naquela época: “Há as linhas que muitas vezes apresentam problemas de localização, como as linhas que servem aos bairros Eldorado, JK e Riacho, que param em frente ao Mercado Novo, na Avenida Olegário Maciel. Seus passageiros reclamam da sujeira durante o dia, e da falta de segurança durante a noite. Além disso, a maioria dos ônibus, que têm a vantagem de ser quase todos novos, demora até 40 minutos para fazer uma viagem, devido ao tráfego da Avenida Amazonas”. “Veja a sujeira por aqui. E viaje no coletivo para ver a demora...”, reclamou o aposentado.

Esperança sempre

Poucas pesquisas foram feitas a respeito do transporte público da capital na década de 1970, mas uma delas mostra que a idade média da frota naquela época era de cinco anos e um mês. Atualmente, segundo a BHTrans, a idade média dos coletivos que circulam na cidade é de quatro anos e 10 meses.

Uma pesquisa bem mais recente, referente a 2015, mostra que a nota média do transporte coletivo na cidade é de 2,4, numa escala de 1 a 5. O indicador ficou abaixo do apurado em 2005 (3,11) e em 1995 (3).

Por sua vez, a nota subiu, se comparada com o resultado de 2013 (2,15), quando o Move ainda não havia sido implantado. Os dados foram levantados pelo Sistema de Indicadores da Mobilidade Urbana de Belo Horizonte (SisMob-BH), ferramenta que faz parte do projeto Política de Acessibilidade na Mobilidade Urbana de BH – Acessibilidade para Todos.

“O Move melhorou muito nossos deslocamentos, mas tenho esperança de que muita coisa ainda mude para melhor”, desejou Tereza Alves, usuária que também depende do coletivo para ir ao Bairro Baleia.


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