Ele é muitas vezes tido como bagunceiro, desinteressado ou, simplesmente, um caso inexplicável. Enquanto a aula segue, deixa cair o lápis, se remexe na cadeira, fica inquieto e não presta atenção. Depois de alguns minutos diante de um livro, pede para ir ao banheiro ou beber água. Alguns pais chegam a levar os filhos com esse tipo de comportamento a neurologistas e recebem diagnósticos de dislexia ou de transtorno de déficit de atenção com hiperatividade (TDAH), começando tratamentos com remédios fortes. Mas, atenção. Se esse é o caso de seu filho ou aluno, ele pode, na verdade, fazer parte de um contingente da população que tem um distúrbio de aprendizagem relacionado à visão: síndrome de Irlen. Para esses meninos e meninas, ler não é algo tão normal. Ao contrário, torna suas histórias de vida algo dolorosas emocional e fisicamente.
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Professora da UFMG participa de projeto que acaba de localizar novo planetaEscolas com melhor desempenho no Enem têm professores com boa formaçãoCapacitação específica de professores é desafio em MinasProjeto de revitalização de bibliotecas chega a Minas Projeto que incentiva leitura entre crianças completa 10 anosProfessores da rede estadual decidem entrar em greve a partir do dia 15Justiça desliga professor cotista que passou em concurso no IFMGEscola de Artes abre oportunidades para jovens no Morro das PedrasChefe do Departamento de Neurovisão do Hospital de Olhos Dr. Ricardo Guimarães, a professora-doutora em distúrbios de aprendizagem relacionados à visão Márcia Guimarães diz que o comportamento de uma criança com a síndrome tem peculiaridades e, por isso, ninguém melhor que a professora em sala de aula para identificar. “Na 1ª e 2ª séries (ensino fundamental), ela tem à frente 30 ou 45 alunos que estão no mesmo nível de construção para serem alfabetizados.
Segundo Márcia, o cansaço neurovisual dificulta a conexão de ideias e o cuidado para elaborar raciocínio ou fazer uma conta. Ela explica que a síndrome sempre existiu, mas que agora tem se manifestado cada vez mais por causa de um ponto-chave da vida moderna: o tipo de luz. As telas de tablets, computadores, televisões de LED têm fundo de luz com uma frequência temporal. Ela explica que as pessoas que têm Irlen são mais aguçadas que a média e percebem a frequência temporal de maneira mais clara que as demais. “Lâmpadas fluorescentes são fabricadas a 60 hertz, ou seja, piscam 60 vezes por segundo.
Por isso, é preciso fazer o teste da visão em funcionamento, ao contrário do exame oftalmológico clássico. A avaliação deve excluir a instabilidade da movimentação ocular. A médica relata que quando lemos, normalmente movimentamos os olhos de três a quatro vezes por segundo. Logo, para saber se a pessoa lê ou não, não se pode apenas avaliar se ela enxerga ou não a letra pequena, mas se enxerga e se movimenta bem os olhos da esquerda para a direita numa velocidade rápida e constante e com os dois olhos em sincronia.
TESTE Para sanar esses distúrbios e ajudar a quem precisa, surgiu nas escolas públicas de ensino fundamental mineiras o projeto Bom começo, que visa fazer o rastreamento da saúde visual. A iniciativa é da Fundação Hospital de Olhos, braço social do Hospital de Olhos Dr. Ricardo Guimarães, em parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ele busca justamente o resgate de crianças subescolarizadas. As prefeituras selecionam professores para fazer o curso e aprender a caracterização de um distúrbio de aprendizagem relacionado à visão.
As educadoras recebem um kit que inclui transparências especiais de diversas cores (overlays), para serem colocadas no papel ou na tela do computador, possibilitando à própria educadora fazer o teste de leitura com a criança.
Educadora capacita colegas
“Só quando a gente sofre na pele sabe que a criança não está mentindo e não está com preguiça”. A frase é da professora Maria Célia dos Santos Peixoto, de 55 anos, que descobriu também ter síndrome de Irlen ao fazer o curso de capacitação dado a professores de escola pública pela Fundação Hospital de Olhos. Enquanto o passo a passo era ensinado, ela percebia algo muito familiar. A síndrome é uma alteração do processamento visual causada por um desequilíbrio da capacidade de adaptação à luz que produz alterações no córtex visual e déficit na leitura. “Ela não impede a pessoa de aprender, mas fica mais desgastante. Foi uma libertação”, conta.
Maria Célia relata que a mudança de luminosidade nos últimos tempos piorou a situação. Agora que usa óculos com filtros, a vida é outra. A professora se aposentou no fim do ano, mas ainda continua a fazer testes nas escolas e tem uma fila de crianças esperando. Coordenadora pedagógica, ela avaliou não apenas as crianças em fase de alfabetização, mas também adolescentes e até os alunos da Educação de Jovens e Adultos (EJA) da Escola Municipal Francisca Alves, no Bairro Santa Terezinha, na Pampulha, onde atuava, e em outras instituições da redondeza. “Eu queria aprender bem o processo e mais de 90% das crianças nos mais de 40 testes que fiz foram detectadas com Irlen e encaminhadas para o Hospital de Olhos Dr. Ricardo Guimarães para avaliação”, diz.