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Estado de Minas

Autoridades admitem maior desafio da história contra mosquito da dengue em MG

Combinação de fatores climáticos, mudanças em 76% das prefeituras e população susceptível aos vírus da zika e chikungunya representa risco inédito no estado


postado em 03/12/2016 06:00 / atualizado em 03/12/2016 08:44

Ministro Alberto Beltrame acompanhou vistoria de agentes de saúde da PBH em uma casa do Bairro Piratininga para verificar criadouros do mosquito(foto: Jair Amaral/EM/D.A PRESS)
Ministro Alberto Beltrame acompanhou vistoria de agentes de saúde da PBH em uma casa do Bairro Piratininga para verificar criadouros do mosquito (foto: Jair Amaral/EM/D.A PRESS)
Apenas os fatores chuva e calor, associados, já são o bastante para acender o alerta para a proliferação do Aedes aegypti e dificultar o combate ao inseto que transmite os vírus da dengue, zika e febre chikungunya, o que aumenta a preocupação com a aproximação do verão. Porém, as condições climáticas este ano não estão sozinhas. Associadas à mudança em 76% das prefeituras mineiras, à maior epidemia de dengue da história em Minas Gerais (mais de 526 mil casos prováveis) e à circulação dos vírus da zika e da chikungunya, estão criadas as condições para o maior desafio que o estado já enfrentou na luta contra o mosquito.

Tanto a Secretaria de Estado de Saúde quanto o governo federal admitem a ameaça. Por um lado, a troca das gestões municipais vai renovar a maioria das administrações em Minas e a transição pode comprometer as estruturas de vigilância sanitária. Por outro, a epidemia histórica de dengue e a presença de uma população suscetível às outras duas doenças transmitidas pelo mosquito facilitam a transmissão se a infestação do vetor não for combatida de forma ininterrupta.


A associação desses cinco fatores preocupa o subsecretário de Vigilância e Proteção à Saúde de Minas Gerais, Rodrigo Said. Essas condições podem impor dificuldades de organização, de gestão das condições assistenciais, de medicamentos e das formas de acompanhamento dos pacientes, de acordo com o gestor, certo de que se trata do maior desafio da saúde no estado. “O fato de termos os três agentes circulando (vírus da dengue, zika e chikungunya) é um grande desafio. Aí entra o enfoque importante para que todas as equipes municipais e a própria secretaria intensifiquem as ações de mobilização”, afirma Said. O subsecretário destacou ainda que o quadro não é uma situação pontual de Minas, mas pode se repetir em todo o Brasil.

A opinião do gestor estadual é compartilhada pelo ministro em exercício do Desenvolvimento Social e Agrário, Alberto Beltrame. Ele foi a principal autoridade presente ontem à Escola Estadual São Pedro e São Paulo, no Bairro Piratininga, Região de Venda Nova, durante lançamento do dia nacional de combate ao mosquito. “A soma desses fatores acrescenta sim um desafio maior, mas nada que seja insuperável. Se a sociedade conseguir se organizar e estar consciente do seu papel, é um desafio que pode ser vencido”, diz Beltrame.

O ministro assistiu às apresentações de alunos da escola e participou de vistorias em casas vizinhas ao colégio, com equipes de Belo Horizonte, para eliminar criadouros do Aedes. Beltrame demonstrou preocupação especial com a mudança em 76% das prefeituras mineiras, o que pode prejudicar as ações de neutralização do mosquito. “É importante que não haja interrupção ou situação de descontinuidade das ações de vigilância e de prevenção. A incidência de maior volume de chuva e do calor são fatores que ajudam na proliferação do mosquito. É, sim, um desafio manter esses criadouros secos e o custo disso é a permanente vigilância”, afirma. O chefe interino da pasta de Desenvolvimento Social disse que a população tem que entrar na briga, pois o poder público não é capaz de atacar todos os criadouros nos imóveis do país.

Autoridades de BH, de Minas e da União falaram para crianças sobre a importância de não deixar água parada nas casas(foto: Jair Amaral/EM/D.A PRESS)
Autoridades de BH, de Minas e da União falaram para crianças sobre a importância de não deixar água parada nas casas (foto: Jair Amaral/EM/D.A PRESS)

Com o início da mobilização oficial contra a dengue, zika e chikungunya, o secretário de Saúde de Belo Horizonte, Fabiano Pimenta, destacou que é preciso muita atenção com a combinação de objetos expostos ao acúmulo de água e a maior quantidade de chuva neste ano. Em BH, por exemplo, choveu 273 milímetros em novembro, superando os 227,6 milímetros normalmente esperados para o período. Pimenta destacou o perigo que é deixar de fazer a limpeza em um momento em que a população da capital ainda não foi infectada em larga escala, especialmente pelos vírus da zika e da chikungunya. “Isso significa que a população está suscetível. Se tiver mosquito em altas populações, podemos enfrentar situações epidêmicas”, completa.


PAU DE SELFIE DA DENGUE Belo Horizonte poderá contar com um aliado especial no combate ao Aedes aegypti ainda na atual temporada chuvosa. Se a intenção da Prefeitura de BH se concretizar, a tecnologia deve ajudar os agentes de saúde a descobrir mais facilmente criadouros do mosquito, por meio de um bastão para locais com até 4,5 metros de altura. A haste tem uma câmera na ponta e um visor na base, garantindo ao servidor a visualização de lugares que, antes, demandariam o uso de escadas ou ficariam descobertos, devido à dificuldade de acesso.

Ontem, o mecanismo foi testado em vistorias feitas pela prefeitura dentro da programação do dia nacional de combate ao mosquito. “Isso foi uma inovação em função das dificuldades que os agentes tinham de vistoriar as calhas (de escoamento da água da chuva), sobretudo as de segundo andar”, disse o coronel Alexandre Lucas, coordenador da Defesa Civil municipal. Atualmente, o órgão já conta com quatro equipamentos, mas a expectativa do secretário de Saúde de Belo Horizonte, Fabiano Pimenta, é adquirir em torno de 400, ao custo de cerca de R$ 500 mil, ainda este ano, para que a próxima gestão possa usar os equipamentos. Antes, é necessário concluir a negociação com a empresa inventora do aparelho.

O coronel Alexandre Lucas sustenta que, além de descobrir focos do mosquito em pontos de difícil acesso, o bastão vai facilitar muito o trabalho de vistoria em locais onde não forem encontrados moradores. As imagens das câmeras poderão mostrar se a casa tem características de abandono ou se é de alguém que está fora no momento. “Se mora uma pessoa que está trabalhando podemos agendar a visita noturna. No caso de uma casa abandonada, a solução vai ser a entrada forçada”, explicou. O coronel avalia que o mecanismo também será importante para a Defesa Civil, para vistoria de vigas e estruturas de engenharia que podem estar comprometidas.

Bastão com câmera e visor deve ser aliado na identificação de focos do vetor da dengue, zika e chikungunya(foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)
Bastão com câmera e visor deve ser aliado na identificação de focos do vetor da dengue, zika e chikungunya (foto: Jair Amaral/EM/D.A Press)


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