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Estado de Minas

População se apresenta para ajudar nos testes da vacina contra a dengue

Enquanto voluntários começam a ser imunizados em BH e outras cidades do país, envolvidos no desenvolvimento do produto projetam prazo mais curto possível para proteção em massa


postado em 07/12/2016 06:00 / atualizado em 07/12/2016 07:15

O porteiro Elivelton de Jesus viu de perto o drama dos familiares que tiveram dengue e não quer passar pelo mesmo problema(foto: Jair Amaral/EM/D.A PRESS)
O porteiro Elivelton de Jesus viu de perto o drama dos familiares que tiveram dengue e não quer passar pelo mesmo problema (foto: Jair Amaral/EM/D.A PRESS)
“Minha mulher e minha irmã já tiveram dengue. Minha mãe também, e ficou muito mal. No bairro são muitos casos toda vez que começa a temporada de chuvas. Não quero passar pela mesma situação e resolvi tomar a vacina.” O relato é do porteiro Elivelton de Jesus Cordeiro, de 39 anos, um dos 1,2 mil voluntários da área de abrangência do Centro de Saúde Jardim Montanhês, no bairro homônimo, Região Noroeste de Belo Horizonte, para receber a vacina contra a doença, que está sendo testada pelo Instituto Butantan.

Ontem, o diretor da instituição, Jorge Kalil, esteve na unidade para lançar oficialmente a terceira fase dos testes, acompanhado de autoridades municipais e estaduais da área. Ele disse que é possível, em um cenário otimista, conseguir atestar a eficácia do imunizante até maio, começar a produção em setembro e iniciar a distribuição para o Ministério da Saúde até o fim do ano que vem. O professor Mauro Teixeira, que coordena pela Universidade Federal de Minas Gerais os testes em Belo Horizonte, não descarta a possibilidade, mas não demonstrou tanta confiança que isso possa ocorrer no mesmo prazo.

Os 1,2 mil voluntários que vão receber a dose única da vacina em Belo Horizonte fazem parte de um universo de 17 mil pessoas em todo o Brasil. Como os demais, o porteiro Elivelton assumiu um compromisso com a equipe de trabalho para retornar com frequência ao posto do Jardim Montanhês nos próximos cinco anos, dentro da programação necessária para os testes. “Além de me imunizar, eu aproveito para ajudar o restante da população”, afirma ele.

Apesar do período de acompanhamento dos voluntários durar cinco anos, Jorge Kalil explica que essa necessidade se justifica para entender por quanto tempo a vacina garante a proteção. “A vacina pode se mostrar eficaz em seis meses ou um ano, e suficientemente segura para que possamos começar a imunização em massa. Então, o registro pode ser imediato, porque senão teríamos que esperar muito tempo até que o produto ficasse disponível para todos. E a população está precisando dessa vacina para ontem”, afirmou o diretor do Instituto Butantan.

Ainda segundo ele, se der tudo certo com os testes será possível garantir a eficácia e a segurança da substância até maio para adultos e adolescentes. As crianças de 2 a 6 anos, que serão recrutadas apenas na parte final dos testes, teriam que esperar mais e não teriam condições de começar a receber a vacina ainda em 2017.

Antes que a população receba a dose única que está sendo testada, é necessário que a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprove a segurança do imunizante e que o Ministério da Saúde adquira o produto, além de disponibilizá-lo no calendário de vacinação. Mesmo assim, o diretor do Butantan acredita ser possível, pois esses dois órgãos estão envolvidos no processo de testes e acompanhando em tempo real os resultados. Atualmente, já está disponível uma opção de vacina na rede privada. Porém, essa fórmula demanda três doses

POSSÍVEL, MAS IMPROVÁVEL
O professor Mauro Teixeira, que coordena os trabalhos em BH pela UFMG, acredita ser possível, sim, chegar rapidamente a um resultado que ateste a eficácia, mas não está tão certo quanto à possibilidade de distribuição até o fim do ano. “Esse é um processo que demora o que tem que demorar, porque a função da Anvisa é garantir a segurança e a resolutibilidade do produto. Não acho que vão haver atrasos desnecessários. Entendo que está todo mundo interessado em fazer isso funcionar. As coisas têm que ser feitas de forma devida, com segurança para a garantia de que a vacina chegue à população de forma eficaz e segura”, afirma.

Já o secretário de Saúde de Belo Horizonte, Fabiano Pimenta, demonstrou otimismo com os prazos apresentados pelo diretor do Instituto Butantan. “Vamos torcer para que os resultados dos testes sejam satisfatórios. Levando em consideração que esse é um assunto prioritário, acho que é possível acreditar nas previsões”, afirma o secretário.

O subsecretário Vigilância e Proteção à Saúde da Secretaria de Estado de Saúde, Rodrigo Said, destaca que a vacina da dengue será muito importante, mas que em momento algum as pessoas podem abandonar a vigilância aos criadouros do Aedes aegypti, ação mais importante que também pode surtir efeito positivo no combate à febre chikungunya e ao zika vírus, coisa que a vacina não faz.

“O que é importante destacar é que todas essas novas tecnologias precisam estar aliadas a boas estratégias de controle do vetor, e essa ação é permanente e universal. Mesmo como a tecnologia nova, nosso recado para toda a população e para todos os municípios é sobre a importância dessa ação de mobilização para controle do vetor”, alertou.


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