O reitor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Jaime Ramírez, cobrou um posicionamento do governo estadual em relação à ação da Polícia Militar contra estudantes que protestaram, na noite de anteontem, contra a tramitação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 55 no Senado - a matéria prevê o limite de gastos públicos da União por 20 anos. Em nota, o dirigente universitário considerou a corporação “despreparada para lidar com manifestações da sociedade”.
“É inaceitável que a polícia entre no câmpus da UFMG, dispare e agrida estudantes, professores e servidores técnico-administrativos”, criticou o reitor, por meio de comunicado divulgado no site da instituição. Procurada, a assessoria de imprensa do governo estadual informou que um representante da Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Participação Social e Cidadania esteve no local e fará um relatório ao governador Fernando Pimentel (PT).
Este foi o terceiro confronto entre militares e estudantes contrários à PEC 55 na capital mineira. O tumulto de quarta-feira teve início, no entanto, fora da UFMG. Por volta das 17h, alunos atearam fogo a pneus e outros objetos, fechando o trânsito no sentido Centro da Avenida Antônio Carlos. O protesto teve como consequência um grande engarrafamento, pois ocorreu no início do horário de pico da tarde. Por volta das 18h20, dezenas de policiais chegaram ao local. Após tentativas de desbloqueio houve confronto e manifestantes se refugiram no câmpus.
Às 21h, com o trânsito liberado, a PM avançou sobre os manifestantes que, de dentro do câmpus, atiravam pedras em direção à Avenida Antônio Carlos. Pouco depois, o capitão Henrique, do Batalhão de Choque, disse que a corporação havia tentado negociação com os estudantes por mais de 40 minutos para liberação do trânsito. O policial argumentou que o grupo foi irredutível. Apesar dos tiros de balas de borracha e do uso de gás lacrimogênio, não houve prisões. Segundo a UFMG, os militares se retiraram do local depois de o reitor entrar em contato com o gabinete do governador.
Ontem, a PM divulgou vídeo gravado durante a ação, que mostra manifestantes ateando fogo a pneus e outros objetos e interditando totalmente o tráfego na Antônio Carlos no sentido Centro. As imagens mostram ainda momentos da negociação para liberação das pistas e os militares avançado em direção ao bloqueio e disparando balas de borracha e bombas de efeito moral, enquanto eram alvo de arremesso de paus e pedras. Após a liberação das pistas, trechos da gravação mostram manifestantes atirando pedras de dentro do câmpus em direção à avenida.
Vídeo divulgado pela PM mostra negociação com manifestantes
O Diretório Central dos Estudantes da Federal usou sua página do Facebook para criticar a atuação da PM. Segundo a entidade, pessoas teriam se ferido na confusão, mas passam bem: “Depois de mais de duas horas de truculência e invasão contra os estudantes da UFMG e secundaristas, polícia agora se retira do câmpus Pampulha. Até agora, as informações são de que os estudantes feridos foram socorridos e passam bem”.
Na manhã de ontem, a universidade divulgou nota criticando a postura da PM: “Foi uma ação ainda mais violenta do que aquela que a PM perpetrou no dia 18 de novembro passado. Repudiamos a ação da polícia, que, mais uma vez, se revelou despreparada para lidar com manifestações da sociedade”.
Vídeo mostra PMs disparando balas de borracha no confronto
Série de confrontos começou há 20 dias
O confronto do dia 18 de novembro foi o primeiro de três tumultos envolvendo PM e estudantes contrários à PEC 55 na capital. Aquele dia também foi marcado pelo uso de bombas de efeito moral e balas de borracha. Ao menos uma pessoa ficou ferida. O tumulto teve início depois de os estudantes fecharem a Antônio Carlos, em frente ao câmpus, por volta das 9h.
Um grupo de manifestantes seguiu pela avenida até a barragem da Pampulha, levando faixas e cartazes com críticas à PEC 55 - a matéria, que hoje tramita no Senado, havia sido avalizada pela Câmara dos Deputados. Na ocasião, os militares também argumentaram que tentaram sem sucesso que os manifestantes liberassem ao menos uma faixa da via. Também naquela oportunidade o conflito se estendeu para o interior do câmpus.
À época, o governador se reuniu com o reitor para discutir o assunto. Poucos dias depois, em 24 de novembro, ocorreu um segundo tumulto. Desta vez o palco foi a Rua da Bahia, no Centro. Um grupo se concentrou na Praça Sete e caminhava até a sede da prefeitura, na Avenida Afonso Pena, pois a manifestação também teve como uma das bandeiras críticas aos aumentos das passagens de ônibus. Dois estudantes da UFMG foram presos por acusação de desacato. Um deles fotografava o protesto. À época, a PM informou que um aluno portava uma faca. O outro, um canivete.