Jornal Estado de Minas

Casarão histórico está fechado por mais de quatro anos em Itabira

Itabira – Parte da história da terra do poeta Carlos Drummond de Andrade (1902-1987) está longe dos olhos dos brasileiros e corre o risco de se perder, causando grande abalo na cultura de Minas. Está fechado há mais de quatro anos, sem perspectiva de reabertura, o Museu de Itabira, instalado num sobrado do início do século 19 e guardião de preciosidades do município da Região Central, como mobiliário, peças do tempo áureo da mineração, tear, partituras musicais, prataria e outros itens importantes. Segundo os defensores do patrimônio, as portas cerradas indicam a degradação do patrimônio. “Passo aqui todos os dias e está sempre assim. É uma pena. Não se vê sinal de obra, embora digam que tem gente aí trabalhando”, diz uma moradora que prefere não se identificar.

Localizado na Praça do Centenário, quase em frente à Casa de Drummond, ambos integrantes do Museu do Território Caminhos Drummondianos, o Museu de Itabira preocupa a presidente do Conselho Municipal de Política Cultural, Rosa Márcia Silva Costa. “Temo pela integridade das peças. Trata-se de um acervo que guarda a memória de Itabira, de como surgiu a cidade”, diz Rosa Márcia.

Para salvar o equipamento e demais centros culturais, o Conselho apresentou à Câmara Municipal o Plano Decenal de Cultura, que inclui as propostas para nortear o setor nos próximos 10 anos.

“O objetivo é fazer o resgate do museu e impedir que problemas políticos, como ocorreram no passado, interrompam as diretrizes culturais”, diz a presidente do conselho, lembrando que um dos pontos cruciais , se o plano for aprovado no Legislativo, é pôr em prática o Sistema de Museus. Ela também crítica a situação de outros equipamentos culturais, que ficam fechados à visitação nos fins de semana, como o Memorial Carlos Drummond de Andrade e a Fazenda do Pontal. Além disso, a Casa de Drummond, onde viveu o poeta, se tornou um posto de turismo, mas apresenta cômodos interditados, e os Caminhos Drummondianos estão desativados. Há relatos inclusive de que uma criança que visitava a a Casa de Drummond ficou com o pé preso no assoalho, por defeitos no piso.

ESPERANÇA Quem passa diante do Museu de Itabira e vê apenas uma janela aberta, no segundo andar, não deixa de admirar a arquitetura do prédio. “Temos esperança de vê-lo aberto novamente”, diz um morador. Conforme o Inventário do Patrimônio Cultural (Ipac), elaborado na década de 1980 pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG), o local pertenceu ao Major Paulo José de Souza, primeiro presidente da Câmara Municipal, no período 1883 e 1837. Na sequência, a construção abrigou cadeia, fórum e prefeitura.
Também nos anos 1980, o imóvel, hoje vinculado à Secretaria Municipal de Desevolvimento Urbano, passou por uma reforma.

O prefeito Damon Lázaro de Sena (PV) informa que pretende reabrir o Museu de Itabira até o fim do mês, quando termina seu mandato. “Estamos fazendo obras internas. Encontrei, quando assumi a prefeitura, a cidade com muitas mazelas, numa situação deplorável, incluindo a deterioração do museu. Não tive recursos para recuperá-lo, embora tenha salvado alguns casarões históricos, como o hospital”, disse Damon.

A diretora de Patrimônio Histórico e Cultural de Itabira, arquiteta Gláucia Emiliana Oliveira, explica que o fechamento do museu, que não reabriu na atual gestão a não ser para oficinas esporádicas, decorreu de um problema na parte estrutural. “Foi constatado um abatimento no piso, de acordo com o relatório de um engenheiro, mas não há ameaça de desabar, é bom deixar bem claro. Então, por medida de segurança, o prédio ficou sem abrir as portas ao público”, disse. Nos últimos anos, houve conversas com a Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade para assumir o museu, já que a Secretaria de Desenvolvimento Urbano não tem equipe especializada na gestão do setor.

Gláucia disse que está garantida a integridade do acervo da reserva técnica da unidade, que foi reacondicionado e catalogado recentemente. “Quando ao material que estava exposto, não temos problema, pois esse serviço já tinha sido feito”, acrescentou.
Além disso, foram feitos os trabalhos de diagnóstico e plano museológicos e diagnóstico arquitetônico.


MANUTENÇÃO
O superintendente da Fundação Cultural Carlos Drummond de Andrade, Marcos Alcântara, informa que “não constam nos autos de relatórios oficiais momentos em que os equipamentos culturais ficaram fechados, exceto em períodos de manutenção e nas segundas-feiras (dia de manutenção preventiva), atividades essas amplamente divulgadas com antecedência quando ocorrem. Ressaltamos que em feriados e finais de semana os equipamentos funcionam em horários especiais”. Ele diz ainda que a Casa de Drummond não tem espaço interditado, “mas sim uma sala em processo de restauro e em fase final da elaboração de um projeto para a exposição permanente”.

Sobre o Museu do Território, ele sustenta: “O número de visitantes é crescente, o que demostra que estamos acertando e agradando”. “Investimos também na formação de novos condutores de turismo local com cursos voltados ao Caminhos Drummondianos e hoje, com diversos parceiros, estamos desenvolvendo a rede de negócio pelo caminho”, acrescenta.

 

Enquanto isso...
...Campanha para salvar igreja
Começou domingo, na missa das 19h, na Catedral de Nossa Senhora do Rosário, em Itabira, a campanha “Igrejinha do Rosário – Ajude a salvar a nossa história”, para arrecadar recursos a fim de restaurar o templo do século 18, pioneiro dos católicos da cidade de Carlos Drummond de Andrade. Conforme mostrou o Estado de Minas em 20 de novembro, a construção (foto) precisa com urgência de obras para não ruir, estando interditada há quatro anos pelo Corpo de Bombeiros e Defesa Civil Municipal. A meta, de acordo com o pároco da catedral, padre Márcio Soares, é reunir a importância de R$ 100 mil e executar o serviço imediatamente, devido ao período chuvoso. Quem quiser colaborar pode entrar em contato com a paróquia pelo telefone (31) 3831-4327.

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