Sonhar é essencial para construir o futuro – e o caminho real até ele passa pela estrada do trabalho, acompanha as curvas do planejamento, às vezes entra no túnel das incertezas, para depois seguir firme se houver vontade e esperança. Belo Horizonte chega amanhã aos 119 anos, a 21 dias da posse do novo prefeito, Alexandre Kalil, precisando de ideias e práticas para atingir o patamar de uma cidade que atenda aos anseios da população. Um grande presente de aniversário veio antecipado, em julho, depois de duas décadas de expectativa, quando a Pampulha recebeu da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) o título de patrimônio e paisagem cultural da humanidade, mas ainda falta resolver questões vitais, como a insegurança a cada esquina, os perigosos alagamentos nas temporadas de chuva, as crescentes invasões de áreas e os gargalos na saúde, educação, transporte público e infraestrutura urbana. Sem falar, claro, na despoluição completa da lagoa e na ampliação das linhas do metrô.
Para celebrar o aniversário de BH e entender a construção do amanhã, o Estado de Minas foi às ruas e ouviu as propostas de moradores e pessoas que, embora nascidas na capital, vivem na vizinhança. Na palavra de cada um, pedidos de reflexão para que a cultura da paz e da inclusão social sirvam de base em todas as ações da cidade em 2017, ano que tem uma previsão orçamentária de R$ 11,5 bilhões, e nos próximos anos. “Nada se constrói, nem o presente nem o futuro, se não for nesse rumo. A inclusão em todos os aspectos é primordial e quero citar, principalmente, os deficientes físicos”, disse a publicitária Mariana Tavares, de 33 anos, moradora do Bairro Floresta, na Região Leste, enquanto aproveitava a folga para admirar a beleza do Mirante do Mangabeiras, na Região Centro-Sul, e curtir a paisagem.
Perto de um outro ponto marcante da cidade, a aposentada Terezinha Rezende Marques, de 79, tem sua própria receita para o futuro. “Uma cidade é igualzinha à vida da gente. É preciso sonhar, trabalhar e ir para a frente”, acredita a matriarca de uma família de quatro filhos, cinco netos e quatro bisnetos, moradora do Bairro Milionários, na Região do Barreiro. Durante 30 anos, a determinada senhora foi taxista e, ao longo do tempo, viu a capital crescer, virar metrópole e chegar à marca de 2,3 milhões de habitantes. “Conheço BH como a palma da minha mão”, afirma Terezinha, que tinha um desejo e conseguiu concretizá-lo. Desde cedo, quis morar perto do Cristo Redentor, um dos atrativos do Barreiro, até que comprou o imóvel no qual vive. “Aqui perto tem muita padaria, igreja, gosto demais”, afirma a aposentada, com apenas um porém na ponta da língua. “Precisamos de mais segurança. Os assaltos se tornaram praga, ninguém tem sossego, daí a reclamação geral. A Guarda Municipal tem que estar nas ruas junto com a Polícia Militar”, reivindica.
Do Barreiro para a Pampulha, perto da Igreja de São Francisco de Assis, o vigilante José Maria Gomes Júnior, de 37, morador da Região de Venda Nova, passeava com as filhas Bianca, de 11, e Ana Júlia, de 6, uma de patins e a outra de skate. Para ele, a população tem feito sua parte, pois o mineiro “é muito consciente de seus deveres”, faltando o poder público fazer a sua. “O grande problema, e objeto de muita frustração, é a demora nas obras. Somos obrigados a esperar muito pela concretização dos projetos e o pior: com o tempo, vai ficando tudo caro”, comenta o vigilante, que também acha necessário melhorar alguns aspectos dos pontos turísticos de BH, como o entorno do templo católico projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012) na década de 1940. “Estou procurando um bebedouro há horas e não acho.”
REFLEXÃO Uma das referências na campanha para transformar a Pampulha em patrimônio cultural da humanidade, o presidente da Fundação Municipal de Cultura (FMC), arquiteto e historiador Leônidas Oliveira, confirmado para continuar no cargo pelo prefeito eleito Alexandre Kalil, avalia que o momento pede reflexão sobre “ser uma cidade contemporânea”. “As atividades culturais não podem ficar restritas ao Centro, e isso já vem ocorrendo com a Virada Cultural. Hoje, quem fala é a rua, portanto, são necessárias novas relações com a cidade, com políticas permeadas pela cultura da paz, sem cerceamento de convivência”, diz Leônidas.
A inclusão social é preciosa para se chegar ao futuro, acredita o presidente da FMC, certo de que não se podem ignorar os aglomerados. “Temos que ter programas transformadores, e não assistencialistas. BH precisa de tolerância em todos os sentidos e respeitar a diversidade. E buscar sua identidade, conviver com identidade do outro”, destaca o arquiteto e historiador.
Inclusão
“BH precisa de tolerância em todos sentidos, de buscar sua identidade e apostar na inclusão. É preciso pensar a cidade como um todo e não apenas no Centro, e refletir, buscando programas transformadores e não assistencialistas”
Leônidas Oliveira, arquiteto, presidente da Fundação Municipal de Cultura
Acessibilidade
“A inclusão social em todos os aspectos é importante para a cidade, embora acredite que BH está precisano criar mais acessibilidade para os deficientes. Isso é presente e futuro”
Mariana Tavares, publicitária, de olho na cidade do alto do Mirante do Mangabeiras