Jornal Estado de Minas

Lixo jogado nas ruas pela população de BH provoca enchentes e destruição

O grande volume de lixo jogado na Região da Pampulha e em Venda Nova e que já causou inundações e estragos ao entupir a rede de drenagem dessas regiões, pode ser visto depois de percorrer vários quilômetros se amontoando às margens e em remansos do Ribeirão do Onça. Próximo à ponte que foi interditada no dia 10 pela Coordenadoria Municipal de Defesa Civil de Belo Horizonte (Comdec-BH) por sua cabeceira ter cedido, no acesso ao Bairro Ribeiro de Abreu, na Região Nordeste da capital mineira, as embalagens plásticas, garrafas, pneus, sacolas, colchões, brinquedos, restos de alimentos e até cadáveres de animais vão se acumulando num redemoinho poluído que, mesmo com os grandes volumes de chuvas, não para de se aglutinar e aumentar de tamanho. De acordo com a Superintendência de Limpeza Urbana (SLU), são recolhidas das bocas de lobo da capital de 10 a 20 toneladas de resíduos por dia, um saldo de 400 toneladas por mês, totalizando 5 mil anuais. Uma das principais fontes dessa poluição no ribeirão é justamente o Córrego Vilarinho que, na avenida de Venda Nova leva o mesmo nome, inundou casas, comércios, arrastou carros e deixou ônibus ilhados por quatro vezes nos últimos dois meses.


De acordo com a SLU, na terça-feira, após a última grande inundação que a Avenida Vilarinho sofreu, as equipes da Gerência Regional de Limpeza Urbana Venda Nova (Gerlu-VN) realizaram raspagem da lama presente nas vias, nas proximidades do Córrego Vilarinho, retirando o lixo que ficou espalhado pelas ruas do bairro e desobstruindo as bocas de lobo. O lixo era tanto que foi preciso acionar um reforço composto por equipes das gerências regionais de limpeza urbana Norte, Leste e Oeste. Um caminhão-pipa também ajudou nas ações. Em apenas um dia, após as fortes chuvas que caíram na região, foram retiradas mais de 20 toneladas de resíduos da Avenida Vilarinho, em Venda Nova, o equivalente a três caminhões basculante repletos de lixo. A quantidade normal de um dia de serviço (varrição e remoção de deposição clandestina) corresponde a uma tonelada de lixo, em tempos de estiagem.
São 411 bocas de lobo na Avenida Vilarinho, 123 na Avenida Dr. Álvaro Camargos, 50 na Avenida Desembargador Felippe Immesi, 83 na Rua Padre Pedro Pinto e 62 na Avenida Elias Antônio Issa.

PERIGO Todo esse lixo acaba retendo a água que entra pelas bocas de lobo e demais drenagens e, invariavelmente, chega ao Ribeirão do Onça, que é afluente do Rio das Velhas. “Quanto mais lixo dentro do sistema de drenagem pluvial, mais rápidas se tornam as inundações e enxurradas que trazem perigo para a cidade”, afirma o coordenador do Centro de Pesquisas em Engenharia Hidráulica e Recursos Hídricos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Carlos Barreira Martinez. “Em conjunto com as mudanças climáticas que vêm trazendo uma concentração de precipitações em curtos espaços de tempo e a impermeabilização do solo nas cidades, o descarte de lixo é um dos fatores mais críticos para as inundações nas cidades. E não é difícil de ver isso. Há alguns dias, vi uma limpeza de boca de lobo na Avenida Prudente de Morais, uma das que inundam sempre, e de lá foram retiradas garrafas de vidro e uma lona plástica enorme. Com isso, não há rede de drenagem que suporte”, pondera.

Quem mora próximo ao córrego convive com o mau cheiro e a proliferação de pragas.
“Há duas semanas, o córrego se encheu tanto que a água passou por cima da ponte deixando todo o lixo preso no guarda-mão e nas telas das cercas. Por causa do lixo que fica preso no mato e nas margens do ribeirão aparecem muitos ratos, baratas, escorpiões. Além do cheiro de esgoto, a gente ainda sente a catinga de cães, gatos e cavalos mortos que descem boiando”, disse a secretária Arlinda Pera, de 67 anos, que mora perto do corpo d’água. “É um pouco culpa nossa. Das pessoas que jogam lixo nas ruas e a chuva leva tudo para o rio. Tudo vai descendo para o rio. Aí, a gente vê as inundações na parte alta e esse tanto de lixo aqui em baixo. Mas quando a gente vê a pessoa jogar o lixo na rua, se reclama fica parecendo que é chato e ainda arruma briga”, disse o marceneiro William Jorge Ferreira, de 50.

LIMPEZA
Só dos córregos belo-horizontinos é limpa anualmente uma área de mais de 2,5 milhões de metros quadrados e são retirados mais de 7 mil metros cúbicos de lixo, entulho e mato.
Nesse serviço também são feitas capina e roçada, retirada de entulho, lama, lixo e mato. Segundo a SLU todos os córregos da cidade são limpos pelo menos três vezes por ano. Os resíduos são retirados para que a vazão dos córregos seja aumentada, evitando riscos de alagamentos.

A Superintendência de Limpeza Urbana informa que as equipes das Gerências Regionais de Limpeza.Urbana estão em estado de alerta e atuando de forma preventiva em todas as regiões da cidade devido à estação das chuvas. “Foram realizadas vistorias em conjunto com a Comdec-BH nos locais onde há previsão de pancadas fortes. Com isso, a limpeza é reforçada nessas áreas, inclusive o cuidado com as bocas de lobo. É retirado todo tipo de lixo desses equipamentos (plástico, garrafas, papel, vidro, terra, guimbas de cigarro), embora, nesta época do ano haja grande ocorrência (predomínio) de folhas e lama (barro)”, informou a SLU por meio de nota. “É importante destacar que a capital tem hoje 26 mil cestos coletores de resíduos leves (lixeirinhas). Por isso, a SLU conta com a colaboração dos cidadãos para a preservação da limpeza desses espaços públicos”, diz a nota.

LIXO DE RISCO

Resíduos removidos pela SLU nas bocas de lobo e drenagens de BH


>> Lixo orgânico
>> Restos de construção
>> Pneus
>> Latas
>> Garrafas de plástico
>> Móveis velhos
>> Televisão
>> Geladeira
>> Aparelho de som
>> Brinquedos
>> Tambores
>> Garrafas
>> Madeira

Por dia, são recolhidas em Belo Horizonte:


>> 2,2 mil toneladas
de resíduos da coleta domiciliar
>> 300 toneladas
de deposições clandestinas
>> 20 toneladas  
de materiais recicláveis

.