Vender produtos originais de alto valor por até 30% do praticado no mercado, com custo de aquisição muito baixo. Essa era a aposta de criminosos de Medina, no Vale do Jequitinhonha, para fortalecer o tráfico de drogas e impor o domínio do crime organizado na região. O esquema desmontado ontem pelas polícias Civil e Federal interceptava a rota de caminhões dos Correios que transitavam pela BR-116, a Rio-Bahia. Os ladrões eram tão ousados que chegavam a desviar produtos de manhã e encaminhá-los de volta aos Correios à tarde, para serem entregues a novos compradores virtuais, usando sites de comércio eletrônico e espalhando as mercadorias desviadas para todo o Brasil. Treze pessoas foram presas e agora as investigações vão se concentrar nos motoristas de caminhões que estariam facilitando o acesso às cargas que passavam por Medina.
O esquema teve início no fim de 2015, quando funcionários dos Correios começaram a dar falta de encomendas que saíam do centro de distribuição de Belo Horizonte e deveriam chegar a cidades da Bahia. Com a intensificação dos desfalques, o delegado de Medina, Thiago de Carvalho Passos, pediu suporte à Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp), o que motivou uma reunião da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado (Ficco), coordenada pela Sesp e com a participação de diversos órgãos da segurança pública, como as polícias Federal, Civil e Militar. “Como somos uma delegacia de interior e a incidência dos desvios era grande, solicitamos suporte para desmontar o esquema”, afirma o delegado.
Com a investigação já em curso e com base em troca de informações com os Correios, os agentes da força-tarefa descobriram que motoristas de uma das empresas que prestam serviço à estatal foram seduzidos por criminosos instalados em Medina, que os convenciam a facilitar acesso às encomendas que iriam para a Bahia. “Essa situação tomou uma proporção muito grande em Medina, pois pessoas estavam adquirindo patrimônio e chamando a atenção na cidade, comprando veículos e reformando imóveis”, acrescenta o delegado. Inicialmente, uma fonte dos Correios disse que a quadrilha retirava entre 50 e 100 produtos por mês, mas o esquema chegou a 1,5 mil desvios apenas no mês de agosto deste ano, totalizando um prejuízo de cerca de R$ 200 mil.
As investigações apontam que os motoristas que participavam do esquema ganhavam cerca de 10% do valor da nota fiscal por mercadoria, sendo que eles mesmos procuravam postos da Polícia Rodoviária Federal (PRF) na BR-116 para comunicar furtos inexistentes, que teriam ocorrido em paradas programadas na estrada. Há informações de que a transportadora em questão já chegou a demitir condutores envolvidos, mas eles não foram alvo da operação de ontem, que se concentrou nos criminosos de Medina. Esse grupo recebia e revendia as cargas, mas também praticava roubos à mão armada de outros tipos de carga na região. O delegado regional de Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal em Minas, Marcílio Zocrato, disse que as investigações ainda estão em andamento.
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Nos últimos três meses, enquanto a força-tarefa atuou na investigação, houve uma redução nos casos, até porque o principal articulador dos desvios, identificado pela polícia como Paulo Sérgio, já havia sido preso em flagrante, dentro de uma carreta dos Correios, no meio do ano, pela Polícia Militar, em Divisa Alegre, cidade do Norte de Minas às margens da BR-116 na divisa com a Bahia, com encomendas desviadas. Paulo Sérgio se relacionava muito com José Luiz da Costa Soares, o Luizinho, apontado como o principal traficante de drogas de Medina. Segundo o delegado Thiago de Carvalho, o dinheiro gerado pela prática criminosa fortalecia a venda de drogas comandada por Luizinho, um dos presos ontem. “Agora vamos começar a esclarecer alguns homicídios cometidos na cidade pela quadrilha comandada por esse autor”, diz o policial.
REAÇÃO Por meio de nota, os Correios informaram que, em caso de roubo de mercadoria, é incluído aviso sobre a ocorrência no sistema de rastreamento da empresa. Nesses casos, o destinatário deve entrar em contato com o remetente para solicitar novo envio de encomenda. Já o remetente deve abrir pedido de informação pelos canais de atendimento dos Correios, para que seja iniciado processo de apuração e indenização, conforme condições do serviço contratado.
“Por ser assunto relacionado à segurança e para preservar a integridade dos empregados, dos clientes e dos objetos postais, os Correios não divulgam detalhes a respeito de assaltos. Para investigar e coibir delitos, os Correios vêm adotando diversas ações preventivas em parceria com a Polícia Federal e com órgãos municipais e estaduais de segurança pública”, diz o comunicado. Ainda conforme a empresa, sua área de segurança está em constante contato com as autoridades policiais, fornecendo informações e dados relacionados ao tema. (Com Landercy Hemerson)
Entenda como funcionava o esquema: