Na véspera do Natal, a professora aposentada Maria José Caldas Teixeira mantém um costume que a acompanha desde 1959, ano em que se casou e montou o primeiro presépio para celebrar a chegada do Menino Jesus. Moradora do Bairro do Carmo, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, ela conta que, pouco antes da meia-noite do dia 24, vai ao fogão, põe água numa panela com cravo e canela e deixa ferver. “É muito bom, o aroma invade toda a sala, o clima fica mais gostoso e acolhedor”, conta a simpática senhora de 84 anos, mãe de quatro filhos – “um por ano”, faz questão de dizer – e avó quatro vezes. Ao lado do filho Mário Sérgio e do neto Raphael, de 3 anos e meio, Maria José, viúva, confessa que sua maior alegria, nesse período, é realmente o presépio: “Muito precioso para todos nós.”
Tudo começou com as figuras da sagrada família (José, Maria e Jesus, na manjedoura), os reis magos, os pastores, a vaquinha e o burrinho. “Comprei as peças na Casa Cor que havia no Centro da cidade. Depois, eu mesma restaurei o conjunto de imagens, embora não tenha mais todas”, recorda a aposentada natural de Paracatu, na Região Noroeste de Minas, e que chegou à capital aos 18 para estudar no Instituto de Educação e depois se formar em pedagogia na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). “Curioso é que na casa dos meus pais não tinha presépio, mas eu gostava muito de ver os grupos de pastorinhas nas ruas. Sempre achei bonito”, afirma.
O tempo passou e o cenário do nascimento de Jesus, na casa da família em BH, foi crescendo, até ocupar, hoje, um tablado de 3 metros (m) de comprimento por 1m de largura, com cinco níveis.
OUTROS TEMPOS
Ouvir as histórias do presépio de Maria José é também viajar em outros tempos da capital e escutar nomes de antigos estabelecimentos comerciais. Além da Casa Cor (pronunciava-se cór), especializada em artigos religiosos, ela se lembra da Sears, na Rua da Bahia, na qual adquiriu as casas de uma pracinha. Nos primeiros anos, a professora comprava “balaios de musgos por 250 cruzeiros”, que iam compor as montanhas feitas de papel camurça e hoje de veludo verde.
Mário Sérgio ouve as explicações da mãe com atenção, dá uma ajeitada numa luz lateral e se mostra entusiasmado com o presépio. Onde quer que vá, ele traz peças e vai compondo ambientes. No canto esquerdo, pode-se ver uma pequena praia com um farol; no outro, ponte, floricultura, ruas com postes, dois meninos tocando o sino da igreja, entre tantas outras cenas representativas do Natal.
BARULHINHO BOM
Maria José revela que a pior parte, lá pelo fim de janeiro, é desmontar o presépio. Para facilitar, ela e o filho mantêm todas as peças numeradas, cadastradas num caderno, para que nada se perca. Sentada no sofá da sala, ela diz que o período de contemplação do presépio é muito especial. “Gosto de ficar aqui, à noite, olhando, ouvindo o barulhinho da água caindo”. Agora é esperar pela ceia do dia 24, pôr o Menino Jesus na manjedoura e receber o carinho dos filhos Mário Sérgio, Marina, psicanalista e professora, Mário Lúcio, comerciante, e Letícia, fonoaudióloga e professora da UFMG. No porta-retrato, ela olha com saudade o marido, o português Mário Teixeira, falecido em 2009.
Bem perto da manjedoura, Maria José põe uma imagem de São Francisco de Assis, numa homenagem àquele que fez o primeiro presépio. Ele iniciou a tradição em 1223, nas redondezas de Greccio, Itália, para celebrar o Natal da maneira mais realista possível.