Jornal Estado de Minas

"O amor é mais forte que tudo", diz mãe de adolescente que superou a leucemia


Cabelo no estilo samurai, camisa com o nome de Jesus Cristo e um sorriso que cativa quem chega à casa do Bairro Alvorada, em Sabará, quase no limite com Belo Horizonte. Rayner Andrade Montalvão, de 13 anos, é outro jovem que tem entre os principais presentes a agradecer neste dia de Natal o fato de ser vitorioso na luta contra o câncer. Com um leve grau de autismo, segundo a mãe, Viviane Carla Valentim, de 39, cabeleireira, ele não para de vencer barreiras. Nos últimos dias, o adolescente se mostra feliz por ter passado para o quarto ano numa unidade da Apae (Associação dos Pais e Amigos dos Excepcionais). “É uma grande conquista para ele e todos nós”, orgulha-se Viviane, ao lado do marido, Ronaldo Rodrigues Nunes, motoboy, e dos “filhos do coração”, Vitória, de 12, e João Emanuel, de 7. Rayner e Ana Carolina, de 20, são filhos do primeiro casamento de Viviane.


Na tarde quente de sexta-feira, perto da árvore de Natal e em um intervalo do trabalho, Viviane relatou o amor pelo filho e recordou a batalha que é superar uma doença grave. “Ele está bem, mas acho que precisará de um acompanhamento por toda a vida. O amor é mais forte do que tudo”, confessa, com força de guerreira e mostrando disposição para vencer qualquer obstáculo.
Como se voltasse no tempo, embora com toda a compreensão dos fatos, ela diz que tudo começou quando o menino passou a vomitar muito. “No início, pensamos que fosse câncer no fígado. Depois foi diagnosticada leucemia”, afirma.

Ao saber do diagnóstico, em 13 de setembro de 2010, Viviane sentiu “o chão se abrir” à sua frente. Mas decidiu enfrentar tudo com força e fé. “Eu estava em queda livre, então o jeito era me levantar e cuidar do Rayner. Afinal, a vida é o dom mais precioso do ser humano. E o maior presente que uma mãe pode ter é ver o filho bem.” Os irmãos Vitória e João, sentado no sofá, falam com satisfação de Rayner, e não escondem que “ele é muito engraçado”.

A barra pesada está longe, mas Viviane sabe que não pode vacilar.
“Foram quatro anos e meio de quimioterapia. Precisou de muito sangue, foram 157 bolsas durante cinco meses. Precisamos de 220 doadores, eu ia para a rua e pedia às pessoas”, revela a “mãe coragem”. Nesta noite de Natal, a família estará unida mais uma vez, e tudo o que Viviane e Ronaldo querem é que saúde seja a grande dádiva, hoje e sempre.

DIFERENÇAS
De acordo com o Instituto Nacional de Câncer (Inca)/Ministério da Saúde, as diferenças entre os cânceres infantis e de adultos consistem principalmente nos aspectos morfológicos do tipo do tumor, comportamento clínico da doença e localizações primárias. Nas crianças e nos adolescentes, a neoplasia geralmente afeta as células do sistema sanguíneo e os tecidos de sustentação. Nos adultos, as células epiteliais, que recobrem órgãos, são as mais atingidas. Enquanto o câncer no adulto apresenta mutações, geralmente, em decorrência de fatores ambientais, como cigarro e exposição ao sol, o câncer pediátrico ainda não tem estudos conclusivos sobre a influência desses aspectos.

Especialistas explicam que os tumores dos cânceres infantojuvenis crescem mais rapidamente do que os dos adultos e se tornam invasivos, porém respondem melhor ao tratamento. É importante que pais e familiares saibam identificar os sinais e sintomas da doença, que são muito parecidos com os de doenças comuns da infância.

Os principais indícios relacionados aos tumores da infância são palidez, manchas roxas e dor nas pernas; caroços e inchaços, especialmente indolores e sem febre ou outros sinais de infecção; perda de peso inexplicada ou febre, tosse persistente ou falta de ar e sudorese noturna.
É preciso estar atento ainda a alterações oculares: pupila branca (reflexo do olho do gato), estrabismo de início recente, perda visual, visão turva, hematomas ou inchaço ao redor dos olhos, além de outros aspectos como barriga grande; problemas de equilíbrio; alterações da personalidade e do comportamento; convulsões ou sonolência. Dor em membros ou dor óssea, inchaço sem trauma ou sinais de infecção são também sinais de alerta..