Medida extrema para preservar um dos maiores patrimônios culturais do Brasil: os 14 quadros recriando as cenas da via-sacra, pintados por Cândido Portinari (1903-1962) e destaque da Igreja de São Francisco de Assis, na Pampulha, em Belo Horizonte, que integra o conjunto moderno reconhecido como patrimônio da humanidade. A partir de vistoria feita no templo por equipe do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), a superintendente em Minas da autarquia federal, Célia Corsino, recomenda a retirada das pinturas das paredes, diante das infiltrações que já danificaram pelo menos três delas, além do forro de madeira. “Não posso tomar essa decisão sozinha. Vou apresentar a sugestão às direções da Fundação Municipal de Cultura (FMC) e do Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha-MG) e, claro, à Arquidiocese de Belo Horizonte”, disse, ontem, a superintendente.
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Infiltrações ameaçam Igrejinha da Pampulha; ainda não há data para restauroTelas de Portinari serão retiradas da Igrejinha da Pampulha para restauração Iphan avalia integridade das obras de Portinari na igreja da PampulhaAté o fim do mês, Iepha vai tomar medidas contra danos de infiltrações na Igrejinha da PampulhaRestauradores descobrem ferramentas do século 18 em igreja de CongonhasVesperata de Diamantina é reconhecida como patrimônio cultural de MGNa semana passada, em reunião com todas as instituições de patrimônio envolvidas, incluindo a Cúria Metropolitana, à qual a igreja pertence, foi firmado o TAC com o MP, representado pela promotora de Justiça e Defesa do Meio Ambiente e do Patrimônio Histórico e Cultural de BH, Lilian Marotta Moreira. Conforme o acordo, o restauro do templo católico, construído entre 1943 e 1945 com projeto do arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012), ficará para 2018.
ANDAMENTO O projeto se tornou um ponto polêmico na história da Igreja de São Francisco de Assis, monumento tombado nas esferas municipal, estadual e federal e reconhecido como patrimônio da humanidade pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). O problema é que, para dar a largada à restauração, que terá recursos de R$ 1,4 milhão do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) das Cidades Históricas, a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH), via Sudecap, precisaria do templo liberado, tarefa difícil diante dos 215 casamentos marcados para o período de janeiro a dezembro de 2017.
Segundo o Iphan, os recursos federais para a reforma serão repassados por metragem, ou seja, enquanto a obra estiver em andamento. A Arquidiocese de Belo Horizonte informou na tarde de ontem, em nota, que vai monitorar o estado da igreja, “especialmente do forro que reveste o teto e das obras de arte que se encontram no interior”. Segundo os técnicos da instituição, “o resultado desse acompanhamento será partilhado com os órgãos competentes, por meio de relatórios periódicos”. Em 9 de janeiro, está prevista reunião de representantes da arquidiocese e do Iepha para avaliar o estado do templo.
No TAC, ficou determinado que as cerimônias realizadas na São Francisco de Assis poderão receber, no máximo, 150 pessoas. E a partir do dia 20 de novembro de 2017, a Igreja São Francisco de Assis estará à disposição da Sudecap/Prefeitura de Belo Horizonte para as obras de restauro. Em nota, a arquidiocese informa que “os noivos que, diante da informação sobre o início do restauro em 2017, fizeram a opção em celebrar o casamento em outro espaço, agora têm a possibilidade de retomar o projeto original. As datas previamente marcadas estão asseguradas.
A direção do Iepha informa que também já fez uma vistoria no templo, em conformidade com o TAC, e que só vai se manifestar após entendimento com a FMC e o Iphan. A Prefeitura de Belo Horizonte já gastou cerca de R$ 200 mil com o projeto de restauro, o qual deverá ser refeito diante do adiamento dos trabalhos de recuperação.
ESTRAGOS Conforme constatou o Estado de Minas, durante as chuvas fortes o templo sofre com as infiltrações, que apodrecem as placas curvas de madeira do forro original da nave. A água passa pelas juntas de dilatação e cai em goteiras, obrigando funcionários a cobrir os quadros com capas e passar pano no chão a todo tempo. Os turistas veem o cenário com tristeza e pedem às autoridades pelo menos obras de emergência para impedir a deterioração da igrejinha, que abriga também obras de Paulo Werneck (1903-1962) e Alfredo Ceschiatti (1918-1989), além de ser rodeada pelos jardins do paisagista Burle Marx (1909-1994). Porém, segundo o Iphan, não podem ser feitas intervenções emergenciais na estrutura..