Jornal Estado de Minas

Trechos de rodovias na Grande BH registram 11 atropelamentos por mês

- Foto: Todos os meses, o Batalhão de Polícia Militar Rodoviária (BPMRv) registra, em média, 11 atropelamentos em trechos de 43 rodovias estaduais que somam 1.237 quilômetros cortando a Região Metropolitana de Belo Horizonte. Neste ano, as 126 ocorrências entre janeiro e novembro já causaram a morte de 22 pessoas, o que significa dois óbitos por mês, e deixaram outras 149 feridas, média de 13 em cada um dos 11 meses que já chegaram ao fim. Apesar de as estatísticas mostrarem uma tímida redução na quantidade de casos em relação ao ano passado (veja quadro), a situação liga o alerta da Polícia Militar para uma conduta perigosa que contribuiu diretamente para um cenário mais favorável aos atropelamentos. É muito comum encontrar pessoas atravessando trechos rodoviários de intensa movimentação bem perto de passarelas, evitando as passagens mais seguras para ganhar tempo e se arriscando em meio aos carros em alta velocidade. Ontem, um homem morreu ao tentar atravessar a MG-010 na região do Morro Alto, em Vespasiano, na Grande BH, perto de uma estrutura própria para os pedestres. O primeiro motorista que passou perto até conseguiu desviar, mas o segundo não evitou a colisão, causando a morte da vítima que, até o fechamento desta edição, não tinha sido identificada.


O acidente ocorreu por volta das 9h, no sentido Aeroporto de Confins da rodovia. De acordo com o tenente André Muniz, do BPMRv, o condutor do veículo envolvido na batida contou que se deslocava pela MG-010, na altura do km 18, quando se deparou com o carro da frente reduzindo a velocidade e desviando de uma pessoa que estava a pé no meio da pista. “Ele contou que não conseguiu fazer o mesmo e acabou atropelando a vítima, em um local perto de uma passarela.
A perícia compareceu, mas não encontrou nenhuma identificação com o homem, que vestia calça jeans e camiseta. Há suspeita de que pode ser um andarilho da região”, afirma o militar. O corpo acabou parando próximo de uma defensa metálica e foi necessário interditar uma das faixas da Linha Verde em direção ao aeroporto, causando um congestionamento no local.


A tenente Grazielly Oliveira, que é responsável pela assessoria de comunicação do BPMRv, diz que a unidade tem feito campanhas constantemente para alertar os transeuntes, além de abordar os pedestres e solicitar que eles usem as passarelas, mas nem sempre as orientações são seguidas. Segundo a militar, muitas vezes o acidente acontece embaixo da passarela. “O ideal é que ninguém perca a vida em acidentes de trânsito e para tanto é fundamental que os pedestres também adotem medidas de segurança, como a utilização das passarelas nas travessias. Às vezes, a pessoa quer economizar cinco minutos e acaba morrendo por isso”, afirma.


Numa rápida passagem pelo Anel Rodoviário, entre o Bairro Betânia e São Francisco, a reportagem do Estado de Minas flagrou pelo menos seis pessoas atravessando a rodovia pelo asfalto, arriscando-se entre carros que trafegam em alta velocidade no local. O mesmo foi visto na Via Expressa, próximo à PUC Minas, em um intervalo de aproximadamente cinco minutos, cinco pessoas atravessaram fora de faixas ou passarelas, apesar da existência delas.

ANEL RODOVIÁRIO Se por um lado os dados gerais de toda a área policiada pelo BPMRv mostram ligeira redução de casos e também uma diminuição das mortes por atropelamento, os números do Anel Rodoviário apontam para o aumento da letalidade nesse tipo de ocorrência.

Enquanto 71 registros representaram a morte de oito pessoas em 2015, as 69 ocorrências de janeiro a novembro de 2016 mataram 14 pessoas, aumento de 75% na letalidade. “A mistura de características urbanas e rodoviárias do tráfego e a urbanização acentuada no Anel contribuem para esse quadro”, afirma a tenente Grazielly.

Um dos trabalhos que está em andamento para minimizar a situação é a instalação de placas educativas nas 13 passarelas que estão na área de responsabilidade do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). A nova sinalização orienta os pedestres a usarem as estruturas para garantir uma travessia segura e a instalação será concluída até a semana que vem. O Dnit é responsável por 16 dos 26 quilômetros do Anel Rodoviário. Os outros 10 estão sob a gestão da Via-040, que assumiu o trecho por conta da privatização da BR-040.

Para o professor Márcio Aguiar, coordenador do Departamento de Transportes da Fumec, vários pontos do Anel Rodoviário, por exemplo, nunca poderiam receber moradias, pois elas ocupam uma área chamada de faixa de domínio e imprópria para as construções. “Quando você tem muitas pessoas morando nessas áreas, a tendência é de elas atravessarem de qualquer jeito, fora das passarelas.
Como as estruturas costumam ser mais longas, eles preferem arriscar até mesmo pulando muretas”, diz o especialista. Aguiar aponta que a única solução é o reassentamento das famílias que ocupam esses espaços em lugares de urbanização formal, tratando a faixa de domínio como uma área livre.

O Estado de Minas mostrou, ao longo de 2016, que após a identificação de 1,3 mil famílias para serem reassentadas dentro das tratativas de revitalização do Anel Rodoviário, ainda sem perspectiva, novas ocupações estão aparecendo na rodovia, aumentando o desafio das autoridades. Um dos pontos de grande adensamento é o trecho compreendido entre o Anel e a Avenida Tereza Cristina, no Bairro Madre Gertrudes, Oeste de BH. Nesse ponto, moradias de madeira ocupam um barranco que começa no Anel e termina na Tereza Cristina, aumentando consideravelmente a presença de pessoas e a circulação, que muitas vezes motiva a travessia no meio da rodovia.

Violência retomada


Em 2016 os atropelamentos ajudaram a alavancar o número de mortos por todos os tipos de acidentes no Anel Rodoviário de Belo Horizonte. Depois de dois anos de queda nos óbitos por qualquer ocorrência, em 2016 os números voltaram a subir. E não foi necessário concluir o ano para observar a violência aumentar novamente na via mais movimentada de BH, por onde passam 160 mil veículos diariamente. De janeiro a outubro deste ano foram 31 mortes, o que naquela ocasião já era 24% acima das 25 vidas perdidas em todo o ano passado. 

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