A realização de cirurgias de varizes, hérnias, catarata, hemorroidas e outras que podem ser programadas, as chamadas eletivas, tornaram-se um desafio para o poder público em Belo Horizonte. Com problemas de financiamento para realização dos procedimentos no Sistema Único de Saúde (SUS), a Secretaria Municipal de Saúde manteve ao longo de 2016 uma lista de espera equivalente ao total de operações feitas no ano. Em outubro, quando 28.416 cirurgias haviam sido feitas, a fila era ainda maior e já somava 29.174 pessoas de BH e do interior aguardando. A previsão é de fechar dezembro com 34 mil eletivas realizadas, mas o número está distante do total de procedimentos alcançados no ano passado, quando foram feitas 39.540 cirurgias. Também é 20% menor do que o montante de 42.751 operações executadas em 2013, quando o município atingiu sua maior marca de eletivas desde os anos 2000. Para piorar, a estratégia de cofinanciamento do estado para o ano que vem ainda não é uma certeza: “Está em estudo”, afirma a Secretaria de Estado de Saúde.
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Indefinições sobre financiamento de cirurgias eletivas põem pacientes em riscoUPAs poderão funcionar com número de médicos menor que o exigido, anuncia ministroE mesmo com o aporte do governo de Minas, a situação não se normalizou em 2016. Apesar de reconhecer o esforço da Secretaria de Estado da Saúde para cofinanciar as eletivas em Belo Horizonte (que também atende pacientes do interior por meio de pactuações), o secretário explica que problemas no fluxo de caixa do estado fizeram com que os financiamentos não fossem continuados e isso também resultou na retração das eletivas. “Muitas resoluções para liberação de recursos foram publicadas posteriormente à realização das cirurgias. Houve muita descontinuidade, mês em que o financiamento não estava garantido e, com isso, os hospitais que realizam os procedimentos colocaram ‘o pé no freio’, desmontaram equipes, diante da falta de regularidade e da incerteza de receber os pagamentos”, explicou Fabiano.
Para procedimentos de urgência e emergência, no entanto, o secretário afirma que não houve impacto.
Dados da fila de espera para realização das cirurgias eletivas em BH, mostram o perfil do problema: das 29.174 pessoas (63,3%) que aguardavam em outubro deste ano, 18.483 são referenciados do SUS-BH, enquanto 10.691 (36,4%) são do interior. Os dados do ano passado revelam um quadro semelhante: do total de 22.10 pessoas aguardando, 14.281 pacientes eram de BH (64,8%) e 7.729 (35,1%) de outros municípios mineiros.
De acordo com o secretário, apesar da representatividade do interior nos dados, a Saúde municipal já constatou que essa parcela é ainda maior e tem parte embutida nos números da capital. “Há uma evidência já captada em centros de saúde de áreas no limite de BH com cidades da região metropolitana de que ocorreu a migração de uma demanda maior de pacientes, justamente pela perda de cotas dessas cidades para realização de cirurgias na capital.
PREJUÍZO
Na fila de espera por uma cirurgia para reconstrução do tendão do pé direito, considerada de média complexidade, a dona de casa Conceição Sibele do Carmo, de 53 anos, está usando uma bota ortopédica há 60 dias e não tem ideia de quando vai ser operada. Essa foi a previsão que recebeu depois de percorrer um caminho que começou no posto de saúde do Bairro Caiçara, Região Noroeste de BH, passou pelo PAM do Bairro Padre Eustáquio, também na Região Noroeste, e chegou até o Hospital São José, na área hospitalar, onde veio o diagnóstico da cirurgia em setembro. “Não adiantaram nenhuma data e falaram apenas que entrariam em contato comigo. Estou com bastante dificuldade para andar e essa situação me deixa muito insegura”, afirma a dona de casa.
Conceição explica que a obesidade agravou um problema que já vinha ocorrendo havia cerca de dois anos, com torções frequentes do tornozelo, mas que evoluíram para uma situação que beira o rompimento do tendão. “Estou fazendo o possível e o impossível para pagar um plano de saúde e tentar essa cirurgia no particular. Mas o que mais me incomoda é o fato de ter gente pior do que eu nessa espera, que por outros motivos talvez não consiga manter um pouco da qualidade de vida que ainda tenho”, afirma. (colaborou Guilherme Paranaiba)
Teto de gastos preocupa
A Proposta de Emenda à Constituição (PEC 55), que estabelece limites de gastos federais pode ser um novo complicador para a realização de cirurgias eletivas em BH. Isso porque
o texto prevê que aumentos nas despesas só poderão ser feitos de acordo com a inflação acumulada conforme o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) a partir de 2017 e pelos próximos 20 anos. “Essa é também uma grande preocupação, porque a inflação do setor de saúde é maior que a inflação geral, já que engloba custos de tecnologia, novos medicamentos mais caros, entre outros fatores”, afirma o secretário municipal de Saúde de Belo Horizonte, Fabiano Pimenta.
e promulgada pelo presidente do Congresso, senador Renan Calheiros (PMDB-AL) em 15 de dezembro. Com isso, ela já está valendo..