Jornal Estado de Minas

Aumento da tarifa de ônibus repercute mal entre passageiros em BH


A dois dias da virada do ano, os controladores do transporte público por ônibus estadual, metropolitano e da capital mineira anunciaram um aumento das tarifas acima da prévia da inflação oficial, o IPCA-E, que projeta 6,58% para o ano de 2016. As linhas da BHTrans, por exemplo, tiveram um reajuste de 9,04%, que começa a valer em 3 de janeiro, enquanto para os ônibus que servem à Secretaria de Estado de Transportes e Obras Públicas (Setop) o aumento médio foi de 9,46%, sendo que as tarifas das linhas do Move Metropolitano que partem de terminais como o São Gabriel, Vilarinho, Justinópolis (Ribeirão das Neves), Morro Alto (Vespasiano) e São Benedito (Santa Luzia) foram reajustadas em 8,99%, passando de R$ 4,45 para R$ 4,85 (Veja a tabela com os preços). Todos os percentuais superaram a prévia da inflação oficial, o IPCA-E, de 6,58% para o ano de 2016. De acordo com as controladoras do transporte, os aumentos seguem os contratos que preveem reajustes anuais e o fator que mais pesou na composição dos preços foi a alta dos custos com funcionários. O táxi lotação também subiu, de R$ 4,05 para R$ 4,45.


Nos pontos de ônibus, a notícia já repercutiu mal. A funcionária de restaurante Maria Aparecida Costa, de 53 anos, paga as próprias passagens entre o Bairro Inconfidentes, na Região Noroeste de Belo Horizonte, e o Centro. São quatro passagens diárias para ela e o filho, Yuri, de 9, que vai com a mãe para estudar. “O salário não aumenta no mesmo ritmo
Maria Aparecida já lamenta rombo no orçamento (foto: Juarez Rodrigues/EM/DA Press)
e o prejuízo vai ficando com a gente. E o pior é que não tem como a gente não pagar, porque como é que se consegue ir para o trabalho ou estudar sem o ônibus?”, indaga. Segundo ela o impacto no orçamento será sentido pela família. “Neste Natal, já passamos sem dar presentes para as crianças, porque não sobrou. Agora vem aí mais esse aperto”, reclama a funcionária de restaurante.

A estratégia que pretende seguir o técnico em segurança do trabalho Douglas Rodrigues Campos, de 23, será reduzir ao máximo seus deslocamentos. Atualmente, ele precisa pegar três ônibus por dia para se deslocar do Bairro Cachoeirinha, na Região Nordeste de BH, para o Centro. “O jeito vai ser tentar sempre ir mais cedo e resolver o máximo de coisas possíveis numa só viagem para não ter de voltar depois. Fora isso, é o prejuízo mesmo, porque sou eu quem pago minhas passagens para o trabalho e para a diversão também”, afirma. Douglas representa uma tendência que a Setop já quantificou em sua pesquisa de passagens emitidas. De acordo com a secretaria, em 2014 o sistema registrou 232 milhões de passagens, caindo para 213 milhões em 2015 (-8,2%) e fechando em 190 milhões em 2016 (-10,8%).

CONTRATO Segundo o diretor-presidente da BHTrans, Ramon Victor Cesar, a tarifa predominante em Belo Horizonte é a das linhas do Move, perimetrais, radiais, diametrais, semi-expressas, troncais e integração com o metrô, que representam 80% da demanda e subiram de R$ 3,70 para R$ 4,05. As linhas alimentadoras e circulares somam 18% das viagens realizadas pelos passageiros e aumentaram de R$2,65 para R$ 2,85, enquanto as auxiliares, de vilas e favelas transportam 2% do total de passageiros e sobem de R$ 0,85 para R$ 0,90. “Esse é um reajuste anual previsto em contrato e que reflete a variação dos custos dos insumos em cinco índices medidos por órgãos como a Fundação Getúlio Vargas (FGV), IBGE e Agência Nacional do Petróleo (ANP), por exemplo”, disse. Na composição dos custos da passagem, a mão de obra tem um peso de 45%, o combustível de 25%, a aquisição e baixa de veículos 20%, os custos de rodagem como pneus e troca de peças desgastadas representa 5% assim como outras despesas também somam 5%.


“No próximo ano, a BHTrans poderá fazer a revisão tarifária e nesse contexto entrarão alguns componentes como a recente, porém pequena, diminuição no número de agentes de bordo. Entre 2009 e 2016, a tarifa praticada teve reajuste de 60,9%, contra um aumento de 65,2% do INPC (Índice Nacional de Preços ao Consumidor)”, previu o diretor-presidente. Ele citou ganhos obtidos sobretudo com o Move, onde ocorre uma livre transferência entre ônibus, e ainda o desconto de 50% na viagem seguinte em sábados e dias úteis, no intervalo de 90 minutos e até quatro viagens com pagamento de uma única tarifa, aos domingos, no intervalo de 90 minutos entre cada par de viagens.
Douglas planeja reduzir viagens para economizar (foto: Juarez Rodrigues/EM/DA Press)