De acordo com a Secretaria de Estado de Segurança Pública de Minas Gerais (Sesp), 21.818 veículos foram roubados entre janeiro e novembro, superando em 10,2% os 19.800 levados nos 12 meses de 2015. Furtos e roubos em Belo Horizonte também tiveram aumento de 4,7% na comparação dos 11 meses de 2016 contra o ano inteiro de 2015.
A situação, segundo o representante da Delegacia Especializada de Furtos e Roubos de Veículos, delegado João Francisco Barbosa Neto, é grave, mas há esperança de se combater isso neste ano. “A maioria dos roubos e furtos é para o desmanche e reaproveitamento de peças no mercado dos receptadores. Neste ano, deve ser regulamentada em Minas Gerais a lei (12.977/2014), que obriga a etiquetagem das peças com a sua origem, o que permitirá à polícia inibir a venda ilegal”, espera o policial. Ainda de acordo com Neto, o índice de recuperação de veículos é de 60%, mas grande parte se encontra amontoada e enferrujando nos pátios de recolhimento.
Segundo o delegado, as principais vítimas que perdem seus veículos sob a mira de armas de fogo, facas ou de violência têm sido mulheres, idosos e motoristas parceiros do aplicativo Uber. “Os dois primeiros tipos de vítimas são os que os ladrões esperam ter menos resistência, uma certa covardia desses criminosos, que se aproveitam disso para muitas vezes agredirem as pessoas, levar celulares, pertences e o carro”, analisa o delegado João Francisco Neto.
O segmento de motoristas do Uber, segundo o policial, tem aumentado como vítimas de roubos de carros justamente pela forma como se dá sua atividade. “Muitos deles se distraem utilizando o smartphone para programar o atendimento. Sem atenção, não veem quando um motociclista com garupa armado se aproxima, ou um outro bandido, que os rende e leva o veículo”.
Há também aqueles que são emboscados ao responder pelas chamadas no local combinado para embarque ou desembarque, admitem motoristas do aplicativo ouvidos pela reportagem. Procurada, a Uber informou, em um primeiro momento, não ter ciência desse tipo de crime contra seus parceiros e que os condutores têm acesso a uma central telefônica que dá apoio em vários tipos de situação, inclusive de segurança. Posteriormente, por meio de nota, acrescentou que "trabalha ativamente com as autoridades para colaborar nas investigações e lamenta profundamente que motoristas parceiros sejam alvo, uma vez que vão às ruas todos os dias nos ajudar a construir o futuro da mobilidade em nossas cidades e gerar renda para si próprios e suas famílias".
FURTOS
Um mês antes de 2016 terminar, os furtos de veículos, que ocorrem quando o proprietário não vê seu automóvel ou motocicleta ser levado pelos bandidos, já estava no mesmo patamar de todo o ano de 2015 em Minas Gerais, quando 37.213 veículos foram furtados, contra 37.092 de janeiro a novembro do ano passado. Assim, faltando ainda o mês de dezembro inteiro a ser computado, a expectativa era de que também essa modalidade superasse o ano de 2015.
Nesse caso, de acordo com o representante da Delegacia Especializada de Furtos e Roubos de Veículos, os principais alvos são veículos um pouco mais antigos, que têm grande giro de peças no mercado, e as motocicletas, fáceis de serem levadas em transportes de carga como furgões e picapes.
“Para se levar um automóvel mais moderno, que tem chave codificada e sistemas de bloqueios mais eficientes, os criminosos precisam ser altamente especializados. Muitos deles trabalharam em oficinas e chaveiros no passado”. Nesses casos, o furto é sofisticado. “Os bandidos costumam trazer uma centralina (dispositivo que controla funções elétricas, eletrônicas e mecânicas) da mesma marca do carro que é o alvo e, ao instalá-la, conseguem dar a partida e fugir”, conta.
PREJUÍZO
“Abri a porta e fiquei sem entender o que tinha acontecido. Fiquei com a chave numa mão e o capacete na outra, procurando minha moto, pensando se a tinha estacionado em outro lugar, até perceber que tinha sido roubada”. O relato, dado na última sexta-feira, na Delegacia Especializada de Furtos e Roubos de Veículos, mostra como se sentiu impotente o estudante Pedro Augusto Savino Abelha, de 19 anos, ao ser vítima desse tipo de furto quando foi almoçar em sua residência.
Depois de apenas 20 minutos dentro de sua casa, no Bairro Braúnas, na Região da Pampulha, o estudante abriu a porta e percebeu que a moto já não estava mais estacionada lá. “Não tenho muita esperança de ela ser recuperada. Tenho seguro e vou acioná-lo depois de três meses para receber uma outra. Nesse tempo, além do prejuízo da franquia, ainda terei de encontrar outra condução para estudar, trabalhar e me deslocar”, lamenta.
De acordo com o delegado João Francisco Neto, os veículos recuperados seguem para o Pátio Seguro da Polícia Civil, no Bairro Engenho Nogueira, na Pampulha. Como muitos deles são encontrados destruídos ou depois que a seguradora já ressarciu seus clientes, acabam se amontoando e enferrujando no pátio. São tantos veículos e carcaças, que uma parte fica inclusive estacionada do lado de fora, na Rua Maria Abdala Ibrahim, algo que contradiz os preceitos de segurança desses empreendimentos.