Paulo Henrique Lobato
Enviado especial
Divinópolis e Nova Serrana – O professor João Paulo Oliveira, de 23 anos, foi surpreendido por dois homens armados quando conversava com amigos, no Centro de Divinópolis, Oeste de Minas, há poucas semanas: “Levaram os aparelhos de telefone celular de todos nós. Ainda devo seis prestações”. Na semana anterior ao assalto, ele já havia chorado o assassinato de um amigo na cidade vizinha de Itapecerica. “Foi morto numa festa na área rural. A violência tomou conta do interior”, diz.
É o que mostra um levantamento da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp) sobre o total de ocorrências dos nove tipos de crimes violentos – homicídio (consumado e tentado), roubo, sequestro, extorsão mediante sequestro, estupro (consumado e tentado) e estupro contra vulnerável (consumado e tentado). Em todo o estado, incluindo a Grande BH, a soma das nove espécies de crimes violentos avançou 13,6% no período analisado, de 116.865 ocorrências para 132.804.
Em muitos municípios do interior, contudo, o percentual ficou bem acima do apurado na média estadual. É o caso de Divinópolis, onde a Polícia Militar tem dificuldade em combater a bandidagem. O aumento da violência na cidade foi de 36,1% – o total de registros subiu de 1.951 para 2.657. O roubo consumado respondeu pela maior parte dos registros no acumulado dos 11 primeiros meses do ano passado. Foram 2.531 ocorrências – ou 95,2% do total.
O salto da violência também foi alarmante no município vizinho de Nova Serrana, onde, proporcionalmente, a população foi a que mais cresceu (95,7%) no estado, segundo os censos de 2000 (37.447 habitantes) e 2010 (73.273 moradores). O conjunto dos nove crimes violentos avançou 55,3%, com as ocorrências passando de 1.033 para 1.605.
O taxista Marcelo Silva, de 35, faz parte da estatística. Ele foi assaltado três vezes. Numa delas, pensou que perderia a vida: “Fui amarrado numa árvore. Os bandidos queriam o carro para praticar roubos na cidade”. De acordo com dados da Sesp, foram 1.532 roubos consumados de janeiro a novembro de 2016.
CRESCIMENTO DESORDENADO Vários fatores explicam o aumento da criminalidade no interior. Um deles é o crescimento desorganizado de algumas cidades, como avalia Bráulio Figueiredo, pesquisador do Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Outro é a falta de planejamento do poder público em relação à segurança.
O professor destaca um estudo, a título de exemplo, para mostrar o avanço da criminalidade no estado. Figueiredo usa, contudo, a capital e a região metropolitana (exceto BH) como espaço territorial dos seguintes dados: “Em 2003, Belo Horizonte respondeu por 65% dos crimes violentos em toda a Grande BH. Em 2015, esse percentual caiu para 58%”. Em outras palavras, a proporção dos crimes violentos na Grande BH, com a exclusão da capital, passou de 35% para 42%.
“Falta um planejamento de política de prevenção em segurança pública. Consequentemente, o estado, como um todo, tem atingido, cada vez mais, patamares elevados de crimes violentos. Além disso, a população do interior está crescendo em ritmo mais acelerado que BH. Muitas vezes, esse crescimento é de forma desorganizada”, reforça o pesquisador do Crisp.
Já a Sesp optou por fazer outra leitura dos próprios dados. A secretaria destacou que o roubo é o único dos nove crimes que se mantém em escala elevada no interior. Informou que “a alta considerada entre janeiro e novembro de 2015 e 2016 é de 18,11%”, e enfatizou que o aumento ocorre numa escala inferior à do início do ano passado, “quando estava na casa dos 28,3%”.
Em relação aos outros tipos de violência, a Sesp afirma que houve quedas, como foi o caso de estupro tentado de vulnerável, que recuou 36%. A Sesp solicitou ainda que a reportagem ouvisse a Polícia Militar e a Civil. Procurada, a PM informou que em cada região de Minas há uma estratégia no combate à violência. Já a Civil não esclareceu a demanda.