Nos dois casos, as estatísticas são as mais baixas em pelo menos 10 anos – a Polícia Rodoviária Federal (PRF) não tem dados anteriores a 2007 (veja quadro). A PRF atribuiu a redução à combinação de multas mais caras para ultrapassagens proibidas, trabalho de fiscalização e melhorias nas condições das estradas. Já especialistas em trânsito avaliam que a redução foi provocada sobretudo pela menor circulação de veículos de carga por causa da crise econômica.
No ranking das estradas mais violentas, a BR-381 mais uma vez ocupou a primeira colocação em mortes: foram 192 óbitos em 4,6 mil acidentes nos trechos entre Belo Horizonte e a divisa com São Paulo e entre a capital mineira e Governador Valadares, no Vale do Rio Doce. Na segunda posição aparece a BR-116 (Rio-Bahia), que ultrapassou a BR-040 e registrou 138 mortes, contra 127 da estrada que liga BH ao Rio de Janeiro e também a Brasília. Fecham o ranking das cinco rodovias federais que mais mataram no ano passado a 262 (102 óbitos) e a 365 (65 óbitos).
O inspetor Aristides Júnior, assessor de comunicação da PRF em Minas, citou fatores que contribuíram para a queda da violência nas BRs, como reajustes nos valores de multas, melhorias em rodovias e funcionamento de mais radares móveis da PRF e fixos em estradas concedidas, mas apontou a conscientização dos motoristas como principal razão para a queda na violência nas BRs.
“A colaboração dos motoristas é o mais importante. E quando as multas começam a chegar, há um impacto na conduta.
RECESSÃO Por sua vez, o mestre em sociologia e especialista em educação e segurança no trânsito Eduardo Biavati avalia que não foram feitos investimentos em 2016 que justificassem mudança de padrão estrutural das rodovias ou melhoria considerável da fiscalização eletrônica. Ele considera que a redução de acidentes e mortes em Minas Gerais é parte de uma tendência vista em outras regiões do país e que tem relação com a crise econômica.
“A variável unificadora dessa situação toda ainda é o momento de retração econômica, que aplicou uma grande restrição aos orçamentos domésticos. É muito evidente que para as famílias ficou caro o deslocamento rodoviário por conta do combustível e ficou inviável o transporte de carga”, diz Biavati. Dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP) indicam que, de janeiro a novembro de 2016, houve diminuição na venda de combustíveis das distribuidoras para os postos em Minas, com queda média mensal de 2,8% em cada um dos 11 meses em comparação com o mesmo período de 2015.
A diminuição da atividade econômica também é um fator preponderante para o resultado verificado nas BRs mineiras, segundo o diretor-executivo da Confederação Nacional do Transporte (CNT), Bruno Batista. “A crise gerou uma queda de demanda. A economia menos aquecida é sinal de menos produtos sendo comercializados e grande parte deles, no Brasil, é movimentada por caminhões”, afirma.
Batista acredita, no entanto, que alguns fatores também contribuíram para a redução da violência nas BRs mineiras, como melhorias nas estradas e investimentos para qualificação dos caminhoneiros e avaliação das condições de saúde desses motoristas. Ele citou, por exemplo, cursos ministrados no sistema Sest/Senat. E ressaltou que a pesquisa CNT de rodovias apontou, em Minas Gerais, alta no percentual de estradas do estado consideradas ótimas ou boas: o índice passou de 46,4% em 2015 para 57,9% em 2016.
Parte dessa melhoria tem relação com a privatização de estradas mineiras. Atualmente, as BRs 381 (entre BH e São Paulo), 262 (entre BH e Campo Florido, no Triângulo Mineiro), 040 (entre Juiz de Fora e Brasília), 153 e 050 (trechos completos, no Triângulo Mineiro) estão sob a administração da iniciativa privada. “A diminuição dos mortos é louvável, mas ainda não há o que comemorar, pois os números do trânsito no Brasil são números de guerra”, lembra Batista.