A Operação da Polícia Federal (PF) para levantar informações sobre 12 brasileiros, entre eles mineiros, que estão desaparecidos quando tentavam a travessia ilegal para os Estados Unidos, terminou com três pessoas presas. Durante a ação, dois alvos, que seriam aliciadores, foram encontrados em Sardoá e Governador Valadares, na Região do Rio Doce. A terceira pessoa presa estava em Ji-Paraná, em Rondônia. Todos vão ficar detidos preventivamente.
As ações desta sexta-feira foram realizadas para tentar encontrar informações dos desaparecidos. Foram cumpridos sete mandados de busca e apreensão e cinco de prisão preventiva em Rondônia, Santa Catarina e Minas Gerais. Três pessoas foram presas, sendo duas em Minas. “Estamos investigando a ramificação brasileira de uma organização que visa transportar brasileiros de forma ilegal para o exterior, principalmente para os Estados Unidos da América e as Bahamas. O objetivo desta fase foi colher provas de onde se encontram esses brasileiros e verificar o grau de envolvimento de outras pessoas neste esquema, que não só envolveu brasileiros, mas pessoas no estrangeiro”, afirmou o delegado Raphael Baggio de Luca.
As investigações apontaram que uma parte da organização aliciava pessoas que gostariam de deixar o país, prometendo o "sonho americano". O esquema contava até com agente de imigração nas Bahamas. “Essas pessoas passavam de 20 a 30 dias em uma localidade que tinha algum aeroporto próximo de fácil embarque. Em determinado dia, recebiam ordem de embarque do coiote. Então, iam do Brasil, com escala no Panamá, e depois às Bahamas. Lá, receberiam o aviso de em qual guichê da imigração deviam desembarcar. Neste guichê, em tese teria um funcionário que faz parte da organização criminosa. Então, o brasileiro tinha que ser um dos 10 primeiros a desembarcar e ir direto para este guichê indicado quando estava na escala do Panamá”, explicou o delegado.
Os alvos do grupo eram pessoas que não tinham se estabelecido financeiramente no Brasil e não tinham estabilidade no emprego. Os coiotes chegavam a mentir sobre como seria a travessia. “Dizem que iriam atravessar das Bahamas para os EUA em um iate, por aproximadamente oito horas. Temos indícios de pessoas que foram antes das desaparecidas e depois, de que, na verdade, lá, colocam um barco, uma canoa, e embarcações de situações péssimas e fazem travessia de forma perigosa à noite. Durante o dia, ficam escondidos em uma das ilhas que têm na região, sem alimentação, sem bebida, para continuar a viagem no outro dia à noite. Tudo isso, para ludibriar a fiscalização”, comentou Luca.
Os brasileiros desaparecidos pagaram entre R$ 40 mil e R$ 60 mil para fazer uma viagem. As investigações apontaram que um grupo de quatro pessoas chegou a dar uma casa para os aliciadores em troca da travessia. As pessoas presas foram levadas para carceragens nos estados onde foram encontradas. De acordo com o delegado, elas podem responder por eventuais problemas que ocorrerem com os brasileiros, como morte e sequestro.
As investigações da PF contam com ajuda do Itamaraty e de autoridades do exterior, como dos EUA, Cuba, República Dominicana e Bahamas. Um delegado está nos Estados Unidos para tentar encontrar indícios. Porém, os policiais encontram dificuldades até mesmo com familiares das vítimas. “O mais curioso do caso é que muitas famílias acabam tendo medo, e isso dá um leve atraso na operação e no próprio ato de procura das pessoas. Pedimos que os familiares nos procurem e auxiliem na produção desta prova. Se não o fizerem, fica mais difícil de tomarmos medidas como as de hoje”, pediu o delegado.