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Estado de Minas

Minas Gerais vive emergência contra a febre amarela com 38 mortes e 133 casos suspeitos

Governo edita decreto para facilitar adoção de medidas urgentes e libera R$ 26 milhões para combater a doença


postado em 14/01/2017 06:00 / atualizado em 14/01/2017 09:26

Material de divulgação sobre a febre amarela entregue durante seminário em Teófilo Otoni que contou com a participação do governador Pimentel. A cidade enfrenta fila para vacinação em posto de saúde com a liberação de recursos, unidades poderão funcionar também aos domingos(foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)
Material de divulgação sobre a febre amarela entregue durante seminário em Teófilo Otoni que contou com a participação do governador Pimentel. A cidade enfrenta fila para vacinação em posto de saúde com a liberação de recursos, unidades poderão funcionar também aos domingos (foto: Beto Novaes/EM/D.A Press)

Teófilo Otoni –
Diante do surto de febre amarela nas regiões do Mucuri e do Rio Doce, no Leste de Minas, que tem provocado filas por vacinação, deixado a população em pânico e levado prefeituras a gastos extras em momento de penúria financeira, o governo estadual adotou ontem duas medidas para tentar reforçar o combate à doença. Durante seminário em Teófilo Otoni, o governador Fernando Pimentel anunciou a liberação de R$ 26 milhões para as regiões em alerta por conta da doença, o que vai permitir a contratação de mais profissionais e ampliação dos serviços, com vacinação até mesmo nos domingos nos postos de saúde. Antes, o petista assinou decreto de emergência em saúde pública regional nos 152 municípios que integram a área de abrangência das quatro unidades regionais de Saúde pertencentes à área, devido à ocorrência de casos de febre amarela. A medida permite a aquisição pública de insumos e materiais e a contratação de serviços necessários ao atendimento da situação emergencial com dispensa de licitação. Também por meio do documento, o governador criou a Sala de Situação para monitorar os casos da doença no estado.


Pelo novo balanço divulgado ontem pela Secretaria de Estado de Saúde, Minas já tem 133 casos suspeitos da doença, com 20 considerados prováveis. Em relação aos óbitos, foram notificados 38, com 10 destes tendo a febre amarela como provável causa da morte. Apesar de, nos considerados prováveis, os pacientes terem tido quadro compatível com a doença e uma primeira confirmação laboratorial, a confirmação final demanda investigação epidemiológica, além de históricos de vacinação e deslocamentos desses pacientes. Na segunda-feira, quando o surto foi anunciado, eram 23 casos e 14 óbitos.

Na tarde de ontem, um seminário intitulado “Minas contra a febre amarela” mostrou o estado de preocupação dos moradores e autoridades, que não param de registrar novas notificações e óbitos. O prefeito de Poté, Nego Sampaio (PRB), disse que na sua cidade, com 16,4 mil habitantes, já foram registradas 6 mortes. “Vivemos dos recursos do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) e já gastamos em torno de R$ 80 mil, com internações, gasolina, alimentação para as famílias e outras providências. “Tivemos um caso de febre amarela no centro urbano, mas por causa de uma pessoa que esteve na zona rural”, afirmou.


Administrador de Ladainha, cidade com mais casos suspeitos, Walid Nedir de Oliveira (PSDB) considera que ainda é cedo para avaliar o impacto das medidas anunciadas pelo governo. “Ainda precisamos de mais detalhamentos sobre o gasto desse dinheiro”, disse. Com 17 mil habitantes, Ladainha já contabiliza 12 mortes que podem ter sido provocadas por febre amarela. Segundo ele, duas foram confirmadas.

Por sua vez, o médico do Hospital Artur Rausch, de Ladainha Hayden Matos Batista avalia que o anúncio de Pimentel vai ajudar as prefeituras. “Nos últimos 10 dias, a prefeitura está gastando em torno de R$ 30 mil por dia para atendimento aos pacientes e famílias. Somando isso, temos uma conta de R$ 300 mil, com o qual a administração municipal não pode arcar”, afirmou o médico.

MINUTO DE SILÊNCIO Embora oficialmente as mortes não estejam confirmadas como decorrentes da febre amarela pela Secretaria de Estado de Saúde, é voz comum na região que todas têm a picada do mosquito Haemagogus, que transmite o vírus da febre amarela para o ser humano. Na abertura do seminário, o prefeito de Teófilo Otoni, Daniel Sucupira, pediu um minuto de silêncio “para nossos irmãos que morreram em decorrência da febre amarela”

Ao falar ao público que lotou o Clube Palmeiras, em Teófilo Otoni, o subsecretário de Vigilância e Proteção à Saúde da Secretaria de Estado de Saúde (SES), Rodrigo Said, diz que não vai faltar vacina para as regiões de Teófilo Otoni, Governador Valadares, Coronel Fabriciano e Manhumirim, que reúnem mais de 150 municípios em alerta diante do surto de febre amarela. Ele disse que ontem foram distribuídas mais 450 mil doses, mas elas necessitam de ser bem-acondicionadas e em temperatura adequada, especialmente numa região quente como o Leste de Minas. “Não estamos fazendo uma campanha de vacinação, pois a imunização já é de rotina. Mas, diante do surto, estamos reforçando e incentivando a vacinação”, afirmou.

Mesmo assim, muitos profissionais da área de saúde estão preocupados. É o caso da responsável pelo posto de saúde de Conselheiro Pena, a enfermeira Greice Bellice, que comandou a aplicação, ontem, de 250 doses. “Temos uma população de 24 mil habitantes e hoje (ontem) muita gente voltou para casa. Na segunda-feira, terei que receber as pessoas, mas não poderei vaciná-las. O estresse é grande”, afirmou Greice, que participou do seminário.

Em discurso, Fernando Pimentel tratou a febre amarela como a maior preocupação do governo atualmente e afirmou que o crescimento dos casos da doença é sério, merece atenção e dedicação. Ele ressaltou, no entanto, que não há motivo de alarme. “A febre amarela, que o Brasil julgava erradicada há 70 anos, se manifesta outra vez e mostra muita força nesta região aqui em Minas Gerais. É uma preocupação muito grande que nós temos para evitar que esta situação, que hoje é de atenção, não vire de emergência. As providências já estão sendo tomadas, mas não podemos esmorecer e não podemos vacilar. Hoje, essa é a mais importante questão para o governo do estado”, destacou.

Ele afirmou ainda que, apesar do momento de dificuldades financeiras enfrentado pelo estado, o governo não vai poupar recursos no combate à doença. “A febre é uma doença com alto grau de letalidade. Então, a melhor forma de enfrentar é a vacinação, que é o que estamos fazendo agora em massa nos municípios onde a doença foi detectada. Temos que redobrar os esforços, não poupar recursos, não poupar tempo nenhum. O desafio que está posto é muito grande. E para enfrentar e vencer vamos precisar trabalhar muito e é por isso que eu fiz questão de vir aqui pessoalmente. Estou dedicando todo o meu tempo e o da minha equipe agora para essa questão”, completou Pimentel.

O governador afirmou que o decreto de emergência permitirá dar agilidade às ações. Como exemplo, Pimentel sugeriu a ampliação dos horários de funcionamento dos postos de saúde nos municípios atingidos. “Vamos ter muito mais instrumentos para enfrentar a crise. Criamos em Belo Horizonte uma Sala de Situação coordenada pelo Secretaria de Saúde, que reúne todos os órgãos do governo nessa questão para ter agilidade na resposta necessária, incluindo as forças de segurança”, finalizou.


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