Ontem, mais uma morte suspeita foi registrada na microrregião de Caratinga, que engloba 13 cidades, mas ainda não há confirmação oficial. O paciente estava internado em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) em Ipatinga. É nesse contexto de agravamento de casos que ganha importância o Hospital Eduardo de Menezes, onde estariam abertos pelo menos 42 leitos específicos para tratamento da febre amarela.
Como o Eduardo de Menezes é referência para esse tipo de situação, a Prefeitura de BH, em conjunto com a diretoria da unidade de saúde, está implementando ações de combate ao Aedes aegypti em volta do hospital. O último registro de febre amarela urbana no Brasil é de 1942. O trabalho começou com um pente-fino no perímetro em um raio de até 200 metros de distância, principalmente na vila que existe na beira do Córrego Bonsucesso. No sábado, houve aplicação de inseticida nos prédios que abrigam a creche, administração e manutenção da instituição. Hoje, serão instaladas telas com inseticida nas alas do hospital que recebem pacientes com suspeita da doença e também na creche. A Secretaria Municipal de Saúde de BH também instalou armadilhas que atraem o mosquito e possibilitam avaliar a concentração de ovos do vetor. Amanhã haverá controle químico, com aplicação de inseticidas na área da vila que acompanha o Córrego Bonsucesso.
CIRCULAÇÃO O médico e diretor da Sociedade Mineira de Infectologia, Carlos Starling, diz que a medida é muito prudente, mas tranquiliza a população com relação à possibilidade de transmissão da febre amarela em ambiente urbano. “Todas as pessoas que trabalham diretamente no hospital com os pacientes certamente são vacinadas. O vírus normalmente fica de cinco a sete dias na corrente sanguínea e os sintomas demoram de três a cinco dias para aparecer. Então, quando chega na fase de internação, normalmente a possibilidade de ter vírus circulante no paciente é baixa”, afirma.
Segundo o infectologista e professor da Faculdade de Medicina da UFMG, Dirceu Greco, além do Hospital Eduardo de Menezes, o Hospital das Clínicas da UFMG pode servir de retaguarda, se for necessário, pois também é uma referência em doenças infecciosas.
APREENSÃO Na expectativa pela melhora dos pacientes internados no Eduardo de Menezes, parentes torcem por boas notícias. “Moramos em Caratinga e viemos para visitar meu irmão caçula, Waltemir Rocha Barbosa, que está internado aqui desde quinta-feira”, disse Maria de Lourdes Barbosa Ferreira, de 50 anos, doméstica. Segundo a mulher, Waltemir, que tem 34 anos e trabalha como lavrador em plantação de café, também em Caratinga, apresentou sintomas como dor na perna, no corpo e febre alta. Após constatada a suspeita de febre amarela, foi transferido para Belo Horizonte.
Na família, a doença provoca apreensão e alarme. “Depois de acontecer isso com ele, todos nós fomos atrás da vacinação. Enfrentamos fila de mais de três horas no posto de saúde, mas conseguimos. Estamos apavorados, porque a febre mata, né?”, afirma a outra irmã do paciente, Sônia Rocha Barbosa, de 39, também doméstica. Chegando para a primeira visita, as parentes informaram que Waltemir está internado na enfermaria e a expectativa seria encontrá-lo um pouco melhor dos sintomas. Mais tarde, por telefone, Maria de Lourdes informou que o irmão estava bem.
Vizinhança preocupada
Proprietário de uma padaria vizinha ao Hospital Eduardo de Menezesl, região cercada por mata fechada e por um córrego que corre a céu aberto, Shineider Lino de Oliveira disse que muitos parentes de pessoas internadas na unidade de saúde frequentam o estabelecimento para lanchar. Nos últimos dias, o comerciante ficou sensibilizado com o drama vivido por famílias dos doentes com suspeita de febre amarela silvestre, principalmente o dos pais de uma adolescente de 14 anos, residente em Sete Lagoas.
“Como os dois não podem acompanhar a menina fora do horário de visita, estavam indo e voltando de Sete Lagoas todos os dias, de madrugada. Mas um vizinho acabou se solidarizando com o caso e ofereceu a casa dele para que o casal pudesse se hospedar enquanto a filha estiver internada”. Oliveira afirmou que os pais ainda não fazem ideia de quando a menina terá alta.
O comerciante comentou ainda que muitos na vizinhança, inclusive ele, estão preocupados com os riscos de contaminação já que o mosquito Aedes aegypti também pode transmitir a febre amarela em áreas urbanas. “Conheço o pessoal que trabalha no hospital e as reclamações com a precariedade das instalações são constantes. Já me falaram que há muitos equipamentos estragados, incluindo telas de proteção de janelas bem estragadas, furadas. Além disso, não temos visto nenhum movimento de combate ou prevenção de proliferação do Aedes aqui no bairro, que no ano passado sofreu demais. Só a minha sogra pegou dengue por três vezes”, lamenta.
Um outro vizinho do hospital, o aposentado José do Porto Alves, de 66, morador da região há 32 anos, garante que, por enquanto, não houve nenhuma ação preventiva como limpeza de áreas de risco ou aplicação de fumacê. “Eu e minha filha já tivemos dengue. Tentei vacinar contra febre amarela no posto local, mas disseram que não posso. Agora, estou com um neto recém-nascido em casa e o risco de contaminação de mais uma doença aumenta nossa preocupação. O jeito é rezar e torcer para que consigam contornar o problema”. (LV).