Na manhã de ontem e de sábado, quando ocorre a tradicional feira de produtos típicos – farinhas, frutas típicas da região, bolos, doces, biscoitos, manteiga de garrafa e outros –, a multidão se comprimia na esquina das ruas Vírgilio Rodrigues e Manoel Machado. O pequeno Neymar, de 2 anos, não teve medo da picada da agulha nem chorou, segundo a mãe dele, Natália Rodrigues Gonçalves, de 20, moradora da zona rural de Córrego São Joaquim, que, com paciência, “administrava” a briga pelo colo, onde já estava dormindo Isabela, de apenas sete meses. Ao lado, Alessandra, de 5, se agarrava à mãe também sem derramar uma lágrima. “Vacinar é muito importante”, disse Natália.
Quem chega ao posto de vacinação no Centro de Ladainha, município de 17 mil habitantes e líder em número de mortos, desde que a febre amarela silvestre começou a aterrorizar a Região Leste de Minas, deve passar primeiro por um setor de avaliação, onde a equipe verifica o cartão de vacinação, conversa coma pessoa para saber quando ela foi vacinada pela última vez e conhecer outros detalhes importantes, diz o secretário de Saúde.
TRISTEZA Morador da comunidade de Bacué, o agricultor Antônio de Souza, de 83, arregaçou manga da camisa e recebeu a agulhada, sem reclamar. “É só uma dorzinha”, brincou. Ao lado, o secretário de Saúde dizia que pessoas maiores de 60 anos precisam estar com boa saúde para ser vacinadas, sem alguma condição clínica (imunodepressão) que iniba a infecção, como gripe forte, amigdalite e outros problemas. Residente na comunidade rural de Peixe Cru, Maria Pereira Magalhães veio de ônibus e contou que um primo dela foi hospitalizado no Hospital Municipal Arthur Rausch, mas, agora, “graças a Deus”, passa bem.
Com belas matas e tendo a pedra “Marta Rocha” como monumento, Ladainha tem, em cada canto, alguém perguntando ao outro: “Já vacinou?” “Eu já. Agora!”, respondeu à pergunta de um amigo Humberto Nascimento, de 63, que já tinha sido imunizado em 2001.
REPELENTES Enquanto a população recebe a vacina, o funcionário de um supermercado anuncia a venda de repelentes a R$ 15,90. Jefferson Gonçalves Soares, de 21, conta que perdeu um tio, Joamir Jesus Gonçalves, de 46, pedreiro que morava na zona urbana. “Estamos muito tristes, mas não foi febre amarela urbana”, contou. Segundo ele, não para um repelente no estoque. De acordo com especialistas, a febre amarela urbana não ocorre no país desde 1942..