Na época, Ribeirão das Neves era apenas um distrito rural de Contagem e conhecido como Fazenda das Neves. Quando pronta, a penitenciária, que foi inspirada em estabelecimentos penais ingleses e franceses, tinha dois pavilhões, 200 casas destinadas a funcionários e um pomar com 300 mil pés de laranja. O interior do presídio contava com lavoura, criação de gado, padaria, fábrica de calçados, uma olaria, fábrica de brinquedos e de uniformes. A vocação agrícola e industrial fez da PAN uma pioneira no país e na América Latina, por incentivar o trabalho de recuperação de detentos. O presídio chegou a ter uma loja em Belo Horizonte, onde eram vendidos produtos produzidos pelos presos nas hortas de Neves.
A penitenciária mudou a vida na região e fez com que surgisse uma cidade no seu entorno.
Piazza conta que seu pai, José Piazza, era guarda penitenciário, por isso, passou grande parte de sua vida junto de presos em recuperação. “Meu tio, Angelino, era guarda da Fazenda da Laje, onde é hoje a Dutra Ladeira, que pertencia ao complexo de Neves. Ia pra lá com meu pai. E lá, os presos nos dias de folga, jogavam dama e dominó. Aprendi com eles. Divertia-me. Era tudo muito tranquilo. Não havia essa violência de hoje.”
Piazza lembra que o time dos presidiários não se restringia a jogar somente dentro dos muros do presídio.
O campeão mundial de futebol conta que naquela época, não havia nem fuga. “Os presos trabalhavam em vários setores. Meu pai era homem de agricultura e eu ficava mais nessa parte com eles. Lembro que na Fazenda da Laje eram dois galpões. Num deles, ficava um salão de jogos, a cozinha e o refeitório. No outro, era o dormitório.”
A PAN foi mostrando, ao longo do tempo, sua importância para o sistema carcerário. Lá, era feito o pão que era distribuído nas cadeias de delegacias, assim como o almoço também era feito lá, com produtos produzidos pelos próprios detentos.
A entidade enfrentou a primeira greve em 1948. Mas o pior viria a partir da década de 1980. Foram duas rebeliões seguidas, em 1984 e 1985. Os cerca de 60 detentos apontados como líderes das rebeliões para denunciar a superpopulação carcerária foram transferidos para o Depósito da Lagoinha e para Delegacia de Furtos e Roubos (DFR). E esses internos viriam a liderar uma das maiores carnificinas da história das cadeias mineiras, episódio que ficou conhecido como “ciranda da morte”.
Nos anos 1990, as rebeliões continuam. A última foi em 2001, quando a PAN começa a recuperar seu caráter principal, o de recuperar presos pelo trabalho. Ainda no início dos anos 2000, um protesto dos funcionários do presídio, inclusive dos carcereiros, ameaçou a segurança do local e deixou a população de Neves temerosa. Nessa época, os funcionários, inclusive guardas, eram terceirizados. Em 2007, o Conselho de Patrimônio Histórico e Cultural de Ribeirão das Neves aprova o tombamento municipal da penitenciária.
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