O avanço do número de casos e mortes suspeitos e prováveis de febre amarela em Minas – já são 152 notificações e 47 óbitos investigados – leva autoridades de saúde do estado a reforçar medidas para tentar salvar vidas. Diante da alta letalidade da doença, da baixa imunização no estado (menos da metade da população antes do surto) e da possibilidade de este ano se tornar o pior em casos e mortes por febre amarela em Minas desde 2001 e do Brasil desde 2008, a Secretaria de Estado de Saúde (SES) busca abrir mais 80 leitos exclusivos para tratamento da enfermidade no interior, contratar de forma emergencial mais técnicos de enfermagem e prosseguir com a vacinação em massa, especialmente nos municípios na área de alerta, no Leste e no Nordeste do estado (veja arte).
As medidas, que também incluem cessão de cinco ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência para Teófilo Otoni e de uma para Caratinga, além de suporte no transporte aeromédico, se somam a outras já em andamento com o objetivo de tratar com rapidez pacientes que apresentam sintomas de febre amarela. Desde a semana passada, o Hospital Eduardo de Menezes, em BH, recebe doentes do interior e chegou a mandar equipes da própria unidade de saúde para Teófilo Otoni e Caratinga para ajudar na triagem de doentes. “Os pacientes com alteração da função hepática (fígado) são os que costumam ter uma evolução pior. Por isso, podem ser transferidos”, afirma a diretora-clínica do hospital, Virginia Zambelli.
No momento, 42 leitos do Eduardo de Menezes estão reservados para casos de febre amarela, dos quais 10 de CTI e 32 de enfermaria, que podem ser adaptados. Segundo Virginia Zambelli, que é médica infectologista, normalmente 10% dos casos de febre amarela são sintomáticos, mas a letalidade é alta nesse grupo de pacientes. Nesses pacientes, não há um tratamento considerado padrão e as intervenções médicas dependem da evolução de cada caso. “Normalmente, há um manejo da hidratação desses pacientes e dos distúrbios de coagulação do sangue.
Ontem, foram instaladas telas com inseticidas nas alas do hospital que estão recebendo pacientes e também na creche da instituição. Hoje, está prevista a aplicação do inseticida na vila que acompanha o Córrego Bonsucesso, vizinho ao hospital. A unidade também está contratando técnicos de enfermagem em caráter de urgência para dar conta da demanda. O objetivo é combater o Aedes aegypti, transmissor da dengue, zika e chikungunya, mas que também transmite febre amarela em ambiente urbano – o último caso urbano da doença no Brasil é de 1942.
Este ano, se exames confirmarem os atuais 152 casos e 47 óbitos no estado, a letalidade será de 30,9%.
Em números absolutos, eventual confirmação do balanço mais recente em Minas tornará este ano pior em óbitos que os de 2001 e 2003 (quando houve epidemias). Em comparação com o Brasil, será o maior número de mortes por febre amarela desde 2008.
Imunização Outra frente de combate aos óbitos e à proliferação dos casos é a distribuição de vacinas. Levando em consideração o trabalho de rotina e o reforço de doses depois do surto, 762 mil doses foram enviadas para as regionais de saúde de Teófilo Otoni, Coronel Fabriciano, Manhumirim e Governador Valadares, o suficiente para não faltar doses em nenhum município, conforme a secretaria. Porém, a Prefeitura de Governador Valadares informou que vacinou a população até a última sexta-feira e só retoma o trabalho amanhã porque houve procura maior do que a capacidade de reposição por parte da SES, inclusive de outros municípios.
A vacinação se torna ainda mais importante diante do cenário de baixa imunização no estado. Segundo a SES, dados de 2006 a 2016, antes do surto, mostram que a cobertura vacinal da população mineira era de 49,7%. “Esse fato colabora para a ocorrência do surto de forma direta, pois forma bolsões de susceptíveis, pessoas que não se vacinam e começam a transmitir a doença, completando o ciclo do mosquito”, afirma a secretaria por meio de nota. Sobre a falta de vacinas, a SES respondeu que o desabastecimento é pontual por conta do planejamento dos municípios em atender a demanda espontânea,
sobrecarregando alguns lugares.
Alta nas mortes suspeitas foi de 23% em quatro dias
O número de casos suspeitos de febre amarela indicados ontem em balanço da Secretaria de Estado de Saúde (152) superou em 14,2% o do boletim anterior, divulgados na sexta-feira (133). As mortes investigadas também subiram: saíram de 38 para 47, alta de 23,6%. De acordo com a SES, dos casos suspeitos da doença, 37 pacientes passaram por exames laboratoriais que deram diagnóstico preliminar para febre amarela. Porém, elas ainda vão passar por avaliação epidemiológica, históricos de vacinação e deslocamentos desses pacientes, para confirmar se realmente contraíram a enfermidade. Em relação as mortes, a análise inicial indicou 22 óbitos por febre amarela. A situação mais crítica é de Ladainha, no Vale do Mucuri, que teve oito mortes confirmadas. No Hospital Eduardo de Menezes, unidade referência para tratamento de doenças infecciosas, três pessoas do interior de Minas morreram.