O serviço de inteligência da Secretaria de Estado de Administração Prisional (Seap) identificou alguns detentos que lideraram o motim na Penitenciária Antônio Dutra Ladeira, em Ribeirão das Neves, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, que durou aproximadamente sete horas entre a noite de segunda-feira e a madrugada desta terça-feira.
Segundo o secretário Robson Lucas Silva, esses presos, cerca de 20, estão isolados e devem ser transferidos nos próximos dias para outras unidades do estado. A confusão deixou nove pessoas feridas. Segundo o secretário, a medida é para retomar a situação dentro da unidade. “A partir de critérios técnicos e identificação de algumas lideranças, já foi feito isolamento de alguns presos e serão transferidos para outras unidades do estado, preservando a integridade física dos mesmos e tentando buscar a retomada de um ambiente harmônico dentro da unidade”, afirmou Robson Lucas.
Oito detentos sofreram escoriações no momento da contenção, quando houve o uso de armas de menor potencial ofensivo, como balas de borracha e bombas. Eles receberam atendimento médico no próprio presídio. O outro ferido é um agente penitenciário que foi atingido com um golpe de barra de ferro no supercílio e levou três pontos em um hospital.
O tumulto começou por volta das 19h dessa segunda-feira, no pavilhão II, quando presos atearam fogo em pedaços de colchões, lançando-os para os corredores. O protesto atingiu outros quatro pavilhões. “Tivemos na unidade dois, um momento de maior tensão no pavilhão 4. Depois, foi se alastrando para o 5 e 6. Três celas foram danificadas no Pavilhão 4 e duas celas na porta do pavilhão 5”, explicou o secretário.
Durante o motim, de acordo com Robson Lucas, os presos danificaram três beliches de alvenaria. “Os pedaços de concretos e de ferros foram utilizados como arma para agredir nossos agentes que tentavam fazer a contenção”, comentou. Na manhã desta terça-feira, foram feitas revistas nas celas e a limpeza dos pavilhões 4, 5 e 6, os presos queimaram colchões. A Seap não informou se algum material ilícito foi encontrado.
No momento do tumulto, os presos chegaram a romper dois cadeados para deixar as celas. “Foram contidos pelos agentes e a partir disso, os outros começaram a se render a esse movimento de enfrentação. Fizemos toda a contenção, avaliamos a situação de todos os detentos tendo participado ou não do enfrentamento”, disse o secretário. Na manhã desta terça-feira, presos que têm autorização para trabalho externo saíram normalmente. “Aos poucos vamos retornando a rotina”, completou.
O secretário adjunto da Seap também negou que os pertences e roupas dos presos tenham sido recolhidos para evitar novos incêndios, informação recebida pela OAB/MG pela manhã. Ele afirma que foram retirados materiais danificados durante o combate às chamas e que foi realizada uma vistoria na estrutura física das celas, para saber se o detentos poderiam retornar a elas. “Vários deles estavam sem as camisas, eu vi várias camisas no chão. Imediatamente providenciamos o kit básico, colchão, lençol, produtos de higiene e um uniforme. Boa parte desses pertences que são de rotina se perdeu mesmo. Todos os pertences pessoais deles foram retirados, feita a vistoria e depois voltaram”, explica Silva.
Sem ligação com outras rebeliões
Questionado sobre se as rebeliões no Norte e Nordeste do país teriam incentivado o motim, o secretário nega. “Nós não identificamos nenhuma situação de influência de facções. Nós tivemos no Amazonas, no Rio Grande do Norte, lideranças fazendo ordens nesse sentido. Nesse caso aqui, houve uma orquestração exatamente por conta dessa motivação que foi apresentada e que, nós reiteramos, não procede”, diz.
Robson Lucas da Silva também nega a influência de facções na Dutra Ladeira. “Alguns detentos se intitulam “sou membro da facção tal”, talvez pra buscar alguma projeção, alguma liderança entre eles. Mas, não tem nenhum registro de detento que possa ter praticado algum ato compatível com a condição de ser integrante das facções de dentro aqui dessa unidade”, afirma.
Famílias fazem vigília
Dezenas de familiares de presos seguem na porta da penitenciária em busca de notícias. Mesmo com o posicionamento da Seap de que não houve feridos graves, os parentes tentam ter contato com os detentos. Durante a espera, grande parte do grupo gritou palavras de ordem exigindo a saído do novo diretor da penitenciária, cobrando notícias dos pavilhões 4,5 e 6 e contra o Grupo de Intervenção Rápida (GIR) que, segundo os parentes dos presos, estariam agredindo detentos.
Eva Ferreira dos Santos, mãe de um detento, saiu de Santa Luzia e chegou ao presídio pela manhã. “Perguntei e eles falam que está tudo bem no 4, está tudo calmo. Então, não sei, eles falam o que quiser. Não sei se está calmo, se não está, não sei notícias lá de dentro”, lamenta.
Entre as muitas mães do lado de fora da Dutra Ladeira também estava Sueli da Silva Sales, do Bairro Palmital, também em Santa Luzia. Ela reclamou da falta de acesso ao local. “Já duas vezes que eu venho aqui trazer os pertences pra ele, que está no pavilhão 1, e não deixam entrar. Estão só me jogando para trás, só pra trás. Agora hoje enquanto eu não souber notícias dele, não saio daqui. Até agora não falaram nada”, disse.