Na luta contra o surto de febre amarela em Minas Gerais, que já contabiliza 184 casos suspeitos, com 53 mortes em investigação, as vacinas se destacam e assumem papel de protagonismo para frear o quadro crítico que não para de piorar. Depois de receber 1,4 milhão de doses do Ministério da Saúde desde o início do problema, a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES/MG) solicitou mais 2 milhões de unidades para imunizar a população das áreas de risco, que começarão a chegar na sexta-feira. Especialistas avaliam que essa ação é essencial para conter o surto e reverter a situação negativa, mas criticam a falta de ações anteriores dos órgãos de vigilância epidemiológica com relação ao baixo índice de imunização contra a doença em Minas Gerais. Segundo a SES/MG, balanço dos últimos 10 anos permite concluir que apenas 49% da população estava devidamente protegida antes do surto. A própria SES/MG admite que a vulnerabilidade é ainda maior nas zonas rurais, justamente os locais que exigem mais atenção contra a doença, segundo o Ministério da Saúde.
Último balanço oficial da SES/MG mostra que 184 casos são considerados suspeitos, dos quais 53 evoluíram para a morte dos pacientes. Até o momento, já há uma primeira confirmação para 37 casos – entre eles 22 óbitos –, que torna esses diagnósticos “prováveis” de febre amarela. Para que ocorra uma confirmação oficial, ainda é necessário concluir a investigação sobre histórico de vacina e outras informações dos pacientes. A relação entre mortes e casos prováveis permite dizer que 59% dos pacientes que tiveram a primeira indicação para febre amarela em Minas morreram, o que configura uma alta letalidade da doença. Se todos os casos e mortes suspeitos forem confirmados, o surto será, de longe, o maior dos últimos 10 anos no Brasil, já que, em 2008, morreram 27 pessoas, segundo o Ministério da Saúde. Em Minas, há registro de 23 óbitos em 2003, número que será pulverizado caso o total de suspeitos de 2017 se confirme.
Para a médica infectologista Helena Brígido, que é membro do Comitê de Arboviroses da Sociedade Brasileira de Infectologia, o quadro vivenciado em Minas Gerais tem como uma causa importante a baixa imunização da população mineira. “É inadmissível que tenhamos uma doença imunoprevenível (que pode ser prevenida com vacinação) e as metas de vacinas não sejam alcançadas, principalmente em áreas próximas de matas”, afirma a especialista. Como ações para corrigir o problema, a médica explica que existem opções mais a curto prazo, como inclusão da febre amarela nas grandes campanhas de vacinação e também medidas que podem fazer efeito mais a médio e longo prazo. “Na escola, por exemplo, o ideal seria que as crianças apresentassem a carteira de vacinação. Também acho que toda campanha vacinal deveria ter a febre amarela, como ocorre com o Zé Gotinha”, afirma.
ÁREAS DE RISCO Se por um lado a vacinação é falha na prevenção, ela tem aparecido em larga escala no meio do surto da doença nos vales do Rio Doce e do Mucuri, que ocupam as regiões Leste e Nordeste de Minas. Ontem, a SES/MG informou que já tinha recebido 1,4 milhão de doses do Ministério da Saúde e solicitou mais 2 milhões. As primeiras 550 mil deverão chegar na sexta-feira. “A medida mais importante é vacinar a população das áreas de maior risco. O ideal é elevar o percentual de imunização a um patamar que evite a circulação do vírus”, afirma o pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Guilherme Franco Netto, que é especialista em saúde, ambiente e sustentabilidade. Tanto Guilherme Franco Netto como Helena Brígido pontuam que a vacinação não é uma ação para toda a população, contando todas as cidades, nas áreas urbanas e rurais. Ela deve levar em conta o público de risco, que inclui moradores dos locais onde existe circulação do vírus e também aqueles que vão visitar os lugares que estão em áreas de mata na zona rural.
MAIS LEITOS O esforço de vacinação se junta a outras ações que estão em curso no estado para evitar mais mortes, como a abertura de leitos em cidades como Teófilo Otoni (Vale do Mucuri), Ipatinga e Caratinga (Vale do Rio Doce) para receber os pacientes com suspeita de febre amarela. A SES/MG negocia a abertura de 80 leitos em três hospitais de Teófilo Otoni e Caratinga, mas já conta com uma estrutura de 10 leitos de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) no Hospital Márcio Cunha, em Ipatinga. Segundo Mauro Oscar Soares de Souza Lima, que é superintendente-geral de Hospitais da Fundação São Francisco Xavier, mantenedora da unidade, uma nova UTI foi criada apenas para receber casos graves de febre amarela.
“Somos a referência dos pacientes graves e recebemos pessoas de toda a área de surto. Hoje (ontem), ficou acertado com o estado que teremos apoio de um helicóptero para transporte de pacientes, porque três ou quatro horas de deslocamento em uma estrada podem ser decisivos para o futuro de alguém em estado grave”, afirma. Desde o primeiro caso, em 6 de janeiro, 24 pacientes passaram pelo Hospital Márcio Cunha. Cinco morreram, outros quatro receberam alta e 15 permanecem internados, sendo 10 na UTI.
NO CALENDÁRIO De acordo com a SES/MG, a vacina de febre amarela está recomendada nas ações de rotina dos programas de imunização que fazem parte do calendário nacional de vacinação e deve ser aplicada em residentes da Área com Recomendação de Vacina (ACRV) e em viajantes que se deslocam para ela, o que é o caso de Minas Gerais. “Portanto, em todas as campanhas de vacinação realizadas pela SES/MG, é reforçada a importância de manter o cartão atualizado. A última campanha ocorreu em setembro do último ano e, entre as vacinas recomendadas está a de febre amarela”, informou a pasta em nota.
Ainda segundo a secretaria, não há falta de vacinas no estado. O que pode acontecer são desabastecimentos pontuais por três razões: organização e planejamento dos municípios atingidos pelo surto, falta de espaço nas cidades para armazenamento de vacina (o que pode inviabilizar doses que não tiverem local para ser mantidas) e logística de deslocamento das doses, que estão sendo transportadas em caminhões pelas estradas e a questão geográfica pode atrasar a chegada.
Último balanço oficial da SES/MG mostra que 184 casos são considerados suspeitos, dos quais 53 evoluíram para a morte dos pacientes. Até o momento, já há uma primeira confirmação para 37 casos – entre eles 22 óbitos –, que torna esses diagnósticos “prováveis” de febre amarela. Para que ocorra uma confirmação oficial, ainda é necessário concluir a investigação sobre histórico de vacina e outras informações dos pacientes. A relação entre mortes e casos prováveis permite dizer que 59% dos pacientes que tiveram a primeira indicação para febre amarela em Minas morreram, o que configura uma alta letalidade da doença. Se todos os casos e mortes suspeitos forem confirmados, o surto será, de longe, o maior dos últimos 10 anos no Brasil, já que, em 2008, morreram 27 pessoas, segundo o Ministério da Saúde. Em Minas, há registro de 23 óbitos em 2003, número que será pulverizado caso o total de suspeitos de 2017 se confirme.
Para a médica infectologista Helena Brígido, que é membro do Comitê de Arboviroses da Sociedade Brasileira de Infectologia, o quadro vivenciado em Minas Gerais tem como uma causa importante a baixa imunização da população mineira. “É inadmissível que tenhamos uma doença imunoprevenível (que pode ser prevenida com vacinação) e as metas de vacinas não sejam alcançadas, principalmente em áreas próximas de matas”, afirma a especialista. Como ações para corrigir o problema, a médica explica que existem opções mais a curto prazo, como inclusão da febre amarela nas grandes campanhas de vacinação e também medidas que podem fazer efeito mais a médio e longo prazo. “Na escola, por exemplo, o ideal seria que as crianças apresentassem a carteira de vacinação. Também acho que toda campanha vacinal deveria ter a febre amarela, como ocorre com o Zé Gotinha”, afirma.
ÁREAS DE RISCO Se por um lado a vacinação é falha na prevenção, ela tem aparecido em larga escala no meio do surto da doença nos vales do Rio Doce e do Mucuri, que ocupam as regiões Leste e Nordeste de Minas. Ontem, a SES/MG informou que já tinha recebido 1,4 milhão de doses do Ministério da Saúde e solicitou mais 2 milhões. As primeiras 550 mil deverão chegar na sexta-feira. “A medida mais importante é vacinar a população das áreas de maior risco. O ideal é elevar o percentual de imunização a um patamar que evite a circulação do vírus”, afirma o pesquisador da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) Guilherme Franco Netto, que é especialista em saúde, ambiente e sustentabilidade. Tanto Guilherme Franco Netto como Helena Brígido pontuam que a vacinação não é uma ação para toda a população, contando todas as cidades, nas áreas urbanas e rurais. Ela deve levar em conta o público de risco, que inclui moradores dos locais onde existe circulação do vírus e também aqueles que vão visitar os lugares que estão em áreas de mata na zona rural.
MAIS LEITOS O esforço de vacinação se junta a outras ações que estão em curso no estado para evitar mais mortes, como a abertura de leitos em cidades como Teófilo Otoni (Vale do Mucuri), Ipatinga e Caratinga (Vale do Rio Doce) para receber os pacientes com suspeita de febre amarela. A SES/MG negocia a abertura de 80 leitos em três hospitais de Teófilo Otoni e Caratinga, mas já conta com uma estrutura de 10 leitos de Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) no Hospital Márcio Cunha, em Ipatinga. Segundo Mauro Oscar Soares de Souza Lima, que é superintendente-geral de Hospitais da Fundação São Francisco Xavier, mantenedora da unidade, uma nova UTI foi criada apenas para receber casos graves de febre amarela.
“Somos a referência dos pacientes graves e recebemos pessoas de toda a área de surto. Hoje (ontem), ficou acertado com o estado que teremos apoio de um helicóptero para transporte de pacientes, porque três ou quatro horas de deslocamento em uma estrada podem ser decisivos para o futuro de alguém em estado grave”, afirma. Desde o primeiro caso, em 6 de janeiro, 24 pacientes passaram pelo Hospital Márcio Cunha. Cinco morreram, outros quatro receberam alta e 15 permanecem internados, sendo 10 na UTI.
NO CALENDÁRIO De acordo com a SES/MG, a vacina de febre amarela está recomendada nas ações de rotina dos programas de imunização que fazem parte do calendário nacional de vacinação e deve ser aplicada em residentes da Área com Recomendação de Vacina (ACRV) e em viajantes que se deslocam para ela, o que é o caso de Minas Gerais. “Portanto, em todas as campanhas de vacinação realizadas pela SES/MG, é reforçada a importância de manter o cartão atualizado. A última campanha ocorreu em setembro do último ano e, entre as vacinas recomendadas está a de febre amarela”, informou a pasta em nota.
Ainda segundo a secretaria, não há falta de vacinas no estado. O que pode acontecer são desabastecimentos pontuais por três razões: organização e planejamento dos municípios atingidos pelo surto, falta de espaço nas cidades para armazenamento de vacina (o que pode inviabilizar doses que não tiverem local para ser mantidas) e logística de deslocamento das doses, que estão sendo transportadas em caminhões pelas estradas e a questão geográfica pode atrasar a chegada.