Os estados do Espírito Santo (nos municípios do oeste) e Rio de Janeiro (nos municípios do noroeste) serão incluídos no cinturão de controle e vão receber doses extras por terem áreas limítrofes com Minas. Os dois estados não faziam parte da lista de 19 considerados de risco para a doença. A Bahia, que também faz divisa com Minas e que tinha apenas o oeste do estado considerado endêmico para febre amarela, também passa a ter a vacinação reforçada.
Das oito mortes confirmadas, quatro foram por febre amarela silvestre (em circulação em região de mata). Outras quatro estão em análise de finalização do diagnóstico, segundo o Ministério da Saúde, para descartar outras possibilidades, como a febre amarela vacinal, que é uma rara reação desta vacina. Os testes foram realizados pelo Instituto Evandro Chagas, no Pará, e pelo Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo.
Apesar da confirmação das mortes e do crescimento dos casos notificados, o ministro da Saúde, Ricardo Barros, descartou a ocorrência de uma epidemia no Brasil, mas classificou o quadro como de alerta. Segundo ele, a decisão de ampliar a vacinação foi adotada em função da proximidade dos três estados com as cidades de Minas Gerais onde estão sendo investigados casos da doença, além do fato de a região ser formada por uma mata contínua.
O ministro afirma que o Ministério da Saúde está apoiando os estados com doses extras da vacina e capacitação técnica. Na Bahia, o reforço da vacinação abrange uma área de 45 cidades. Já no Rio de Janeiro, ao todo, a imunização vai atender 14 municípios. No Espírito Santo, há imunização intensa em 26 cidades. Ontem, as autoridades de saúde capixabas confirmaram ao Ministério da Saúde a investigação de seis casos suspeitos de febre amarela silvestre nos municípios de São Roque do Canaã, Conceição do Castelo, Ibatiba e Colatina.
DOSES EXTRAS Para ampliar a imunização nos estados, o Ministério da Saúde informa já ter enviado 1,6 milhão de doses extras para Minas Gerais, 500 mil para o Espírito Santo, 350 mil para o Rio de Janeiro e 400 mil para a Bahia. E que já distribuiu, no mês de janeiro, 650 mil doses, em todo o país, como parte da rotina de abastecimento do calendário nacional de vacinação. De acordo com o secretário Executivo do Ministério da Saúde, Antônio Nardi, há doses suficientes para atender todo o país. “Estamos apoiando os estados na distribuição de doses extras de vacina contra a febre amarela. Todos eles estão abastecidos com a vacina e o país tem estoque suficiente para atender toda a população nas situações recomendadas. Não há necessidade de corrida aos postos de saúde porque há vacinas para atender à população residente nos municípios afetados pelos casos suspeitos”, afirmou.
Em 2016, foram distribuídas 16 milhões de doses em todo o país, enquanto neste ano o Ministério já anuncia que serão 25 milhões de doses, com expectativa de atingir 95% de cobertura, incluindo as pessoas já vacinadas. Dados do Ministério mostram que em 2015, foram registrados apenas nove casos de febre amarela silvestre em todo o Brasil (seis em Goiás, dois no Pará e um no Mato Grosso do Sul), com cinco óbitos. Em 2016, foram confirmados sete casos da doença, nos estados de Goiás (3), São Paulo (2) e Amazonas (2), sendo que cinco deles evoluíram para óbito.
Para especialista. cobertura vacinal estava baixa
Ampliar a área de recomendação da vacina para todo o Brasil é uma medida necessária, segundo o médico epidemiologista Pedro Luiz Tauil, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UnB). Para o especialista, se uma pessoa mora em uma cidade que está longe de qualquer área silvestre, mas vai precisar viajar para algum lugar perto de uma mata, é muito mais prudente que ela já receba a vacina normalmente do que tenha que se imunizar apenas na hora de viajar, considerando que a dose precisa de 10 dias para produzir a imunização necessária e muitas viagens podem não esperar esse prazo. “Tendo vacina, o ideal é vacinar em todo o país em tempos de tranquilidade progressivamente e gradualmente, respeitando as contraindicações, até para evitar que essas vacinações em massa possam desencadear efeitos adversos”, afirma o especialista.
Pedro Tauil também lembra que o patamar mínimo de cobertura vacinal da população que habita as áreas de risco é de 80%. Em Minas, o balanço dos últimos 10 anos (2006 a 2016) mostra que apenas 49% da população estava imunizada antes do surto. “O grande fator para termos casos humanos de febre amarela silvestre é a baixa cobertura vacinal”, acrescenta o professor. Ele explica que os órgãos de vigilância normalmente precisam trabalhar com dois indicadores para antever a possibilidade de surtos de febre amarela silvestre: a morte de macacos, conhecida como epizootia, e a quantidade de pessoas vacinadas.
Ontem, a SES/MG informou que começou a veicular uma campanha nas áreas de risco batizada de “Contra a Febre Amarela, a Vacina é sua Maior Proteção”, que inclui anúncios em jornais, rádios e TVs, além da distribuição de cartilhas com informações e respostas para as principais dúvidas sobre a doença. A médica infectologista Helena Brígido, que é membro do Comitê de Arboviroses da Sociedade Brasileira de Infectologia, acredita que esse tipo de campanha deveria ser adotada na rotina e não somente nos momentos de surto. “Acho que temos que ser um pouco mais severos com a questão da vacina.
De acordo com a SES/MG, a vacina de febre amarela está recomendada nas ações de rotina dos programas de imunização que fazem parte do calendário nacional de vacinação e deve ser aplicada em residentes da Área com Recomendação de Vacina (ACRV) e em viajantes que se deslocam para ela, o que é o caso de Minas Gerais. Em todas as campanhas de vacinação realizadas pela SES/MG, é reforçada a importância de manter o cartão atualizado. A última campanha ocorreu em setembro de 2016 e, entre as vacinas recomendadas, está a de febre amarela, conforme a pasta..