Essa tem sido a rotina das equipes de saúde no estado para evitar que a doença se alastre e provoque mais perdas e sofrimento. Até agora, já foram notificados 272 casos suspeitos, em 38 cidades, com confirmação de 47. Do total, 71 pessoas morreram com suspeita de febre amarela e, em 25 dos óbitos, há a confirmação de que a enfermidade foi a causa.
Para os profissionais envolvidos, a situação surpreende a cada dia e exige trabalho redobrado, sem descanso. “No início, foi uma surpresa, pois veio uma multidão se vacinar. Cheguei a imunizar mais de 100 pessoas num dia”, conta a técnica em enfermagem Elizabeth de Castro Oliveira, de 35 anos, residente em Ladainha, no Vale do Mucuri, a 560 quilômetros de Belo Horizonte e 72 quilômetros de Teófilo Otoni.
Casada e mãe de um menino, Elizabeth trabalha na unidade de saúde da família (PSF) Usina e explica que, antes do surto de febre amarela na região – houve sete mortes confirmadas, o maior número em Minas –, o serviço se restringia à atualização da vacina das crianças. “A partir do dia seguinte, com organização, o serviço se desenvolveu melhor”, conta a técnica, lembrando que a família entendeu a mudança no seu dia a dia, com jornada prolongada e atividades no fim de semana. “Esse é meu serviço”, diz, com a certeza de que a missão está sendo cumprida. Segundo o secretário municipal de Saúde, Fábio Peres dos Santos, todas as comunidades rurais de Ladainha já foram visitadas e moradores vacinados, seguindo agora a imunização normal nas unidades de saúde.
Também técnica em enfermagem, Luzia Farias, de 47, mãe de duas filhas, tem agora um pouco de tempo para cuidar dos vasos de flor, em casa, depois de nove dias praticamente mergulhada no PSF Usina. “Sabe que algumas plantas quase morreram? Estou aqui tirando as folhas amarelas”, contou ela, se lembrando do mutirão para proteger a população rural e urbana de Ladainha (17,2 mil habitantes). Com experiência de 17 anos na área de saúde, Luzia revela que as primeiras mortes confirmadas surpreenderam os profissionais de saúde.
“Sempre ouvimos falar de febre amarela na Amazônia, na África e ninguém estava preparado para um surto assim por aqui. Então, antes de mais nada, foi fundamental manter a calma, pois a população ficou desesperada”, explica Luzia, casada e mãe de duas filhas. O momento pior foi ver pessoas conhecidas perdendo a vida, “gente que morava perto aqui de casa”.
TRISTEZA Natural de Santa Maria do Suaçuí, na Região Leste e ex-prefeito de Fronteira dos Vales, no Mucuri, o médico Hayden Matos Batista, mais conhecido como Dr. Branco, começou a trabalhar no Hospital Municipal Arthur Rausch, em Ladainha, logo ao eclodir o surto de febre amarela. “Está sendo uma experiência enorme, especialmente do ponto de vista clínico. Estudei a doença na faculdade, mas ainda não tinha trabalhado durante um surto como esse. O pior mesmo foi ver as pessoas morrendo e a dor dos familiares. No primeiro dia de plantão, cheguei a ficar deprimido”, afirma Hayden, de 48 e com duas décadas de profissão.
A partir do primeiro diagnóstico da doença em Ladainha – no início, os médicos não sabiam exatamente a causa da febre hemorrágica –, houve maior contato com o setor de Saúde de Teófilo Otoni e a verificação de que macacos tinham sido encontrados mortos. “Ladainha foi o primeiro município de Minas, neste período, a diagnosticar a febre amarela. Nós todos nos envolvemos muito e, graças a Deus, havia sido feita uma boa cobertura vacinal nas crianças”, diz o médico.
PORTA EM PORTA Em Caratinga, na Região do Rio Doce, a 315 quilômetros de BH, o surto de febre amarela mobilizou cerca de 200 profissionais, divididos em 20 equipes, de acordo com o secretário municipal de Saúde, médico Giovanni Corrêa. “Acho que o pior já passou. Vacinamos 70 mil pessoas, de uma população de 91 mil habitantes. Agora, a imunização continua”, diz o secretário. Desde sexta-feira, o carro fumacê (UBV) está circulando pelos bairros, fruto da parceria entre Secretaria Municipal de Saúde, Programa Nacional de Controle da Dengue e governo estadual. A recomendação é que os moradores protejam animais de estimação e alimentos e abram portas e janelas para que a pulverização atinja o interior do imóvel. Na microrregião de Caratinga, houve 12 óbitos, dos quais dois em Caratinga.
Para Giovanni, com 31 anos de profissão, um momento de surto de doença exige, de início, a vacinação. “É preciso agir rápido e ter uma equipe bem treinada, além de bom senso e disponibilidade para o trabalho. O pessoal está trabalhando sábado, domingo, até altas horas nas unidades de saúde e nos hospitais. O mais importante, no entanto, é manter um diálogo permanente com a população, com todos bem informados e, claro, estoques de vacina”, diz o secretário. Na sequência, a meta é fazer o bloqueio para impedir que a febre amarela silvestre se torne urbana. No Brasil, segundo a Secretaria de Estado da Saúde, não há registros de febre amarela urbana desde 1942.
Atuando no distrito de Sapucaia, a enfermeira Tomázia Martins de Assis Filha, de 35, mãe de um menino e grávida de quatro meses, não tem medido esforços para as abordagens domiciliares no meio rural, conversando com as pessoas para saber se já foram vacinadas. Ela lembra que, após este surto de febre amarela, os brasileiros vão ter mais cuidado com o cartão de vacinação, documento que deverá ter o peso da carteira de identidade. “Muita gente não sabe se foi vacinada, não tem ideia de onde guardou o cartão ou mesmo se tem um. Informação é básico”, diz a enfermeira. Para ela, cada profissional está fazendo sua parte. “Estamos no durante”, afirma, certa de que há muito ainda por fazer.