Foi necessário um caminhão-guincho para levar a escultura, dividida em blocos, até o alto da serra, onde se encontra a ermida construída no século 18 e guardiã da imagem da padroeira de Minas, Nossa Senhora da Piedade, de autoria de Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho (1737-1814). Antes de celebrar a missa das 15h de ontem, o pró-reitor do Santuário de Nossa Senhora da Piedade, padre Carlos Antônio da Silva, explicou que a passagem de Cristo orando no Horto das Oliveiras representa um momento de “intimidade com o Pai, de obediência, pois Cristo sabe de todo o sofrimento que vai chegar e que vai passar”. Traduzindo para a contemporaneidade, “Cristo fala ao Pai sobre as dores da humanidade”, resume.
Nos tempos atuais, diz o pró-reitor, a recriação da cena, no alto da montanha, se torna “um canal de meditação, contemplação e profunda oração”. Com alegria, ele convida todo mundo – mineiros, brasileiros e estrangeiros – para visitar a serra neste ano comemorativo das históricas peregrinações e afirma que as novas gerações poderão redescobrir, por meio da espiritualidade, “o encontro consigo mesmo e com Deus”.
ADMIRAÇÃO Na tarde de ontem, como vem ocorrendo durante o período de férias, era grande o movimento na Serra da Piedade e muita gente se surpreendeu ao passear pelos arredores da ermida e ver a imagem de “Jesus orando no Horto das Oliveiras” sobre as pedras de minério e em meio à vegetação. O casal Leonan Natanael de Oliveira, de 27 anos, auxiliar de produção, e Veridiana Emanuela Ferreira da Silva, de 22, recepcionista, morador de Caeté, aproveitou a folga para curtir a paisagem. “Está maravilhoso este trabalho, uma perfeição. Fico impressionado como há seres humanos que conseguem fazer uma obra tão bonita”, disse Leonan, com os olhos cheios de admiração.
Ao lado, com as mãos postas, Veridiana disse que chegar perto da escultura foi quase um chamado: “Olha que coincidência. Estou aqui hoje com meu marido e trouxe um currículo para entregar na secretaria do santuário, pois estou precisando de emprego. Quem sabe vou conseguir?”, confessou. Ao contrário de outras esculturas, a recém-instalada no topo da serra pode ser tocada o tempo todo, garantiu a paisagista Maria das Graças. Certamente será um ponto de grande atração, um a mais para a serra que, em 2016, recebeu meio milhão de visitantes.
Sobre as oliveiras, localizadas na via que levará futuramente ao Museu Maria Regina Mundi (do latim, Maria Rainha do Mundo), com previsão de abertura no fim do ano, Maria das Graças diz que todas se adaptaram bem. “Um biólogo acompanha o crescimento das mudas e explicou que o clima frio, nesta altitude, permitirá bons frutos”, acrescentou.
Como se encontra recém-instalada no local, apoiada sobre pedras de minério, a escultura deverá sofrer alguns ajustes. De cor verde, a peça deverá, com o tempo, ganhar um tom mais forte, chegando perto da coloração das pedras.
CONSTRUÇÃO A história do santuário da padroeira de Minas começa no século 18, com o relato de um milagre: a Virgem Maria teria aparecido para uma jovem surda, no alto da Serra da Piedade. A partir desse dia, a garota passa a falar e a ouvir, o fato se espalha rapidamente por toda a região e muita chega ao topo do maciço para rezar. O episódio toca o coração do português Antônio da Silva Bracarena, então na colônia para ganhar dinheiro. Mas ele se converte e decide dedicar sua vida à construção de uma capela no lugar onde ocorrera o milagre. O singelo templo dedicado a Nossa Senhora da Piedade começa a ser erguido em 1767 e, mais tarde, ganha a imagem esculpida por um jovem de Ouro Preto, depois reconhecido como mestre do Barroco mineiro – Antonio Francisco Lisboa, o Aleijadinho.
Agonia e morte
A presença de Jesus no Monte das Oliveiras retrata sua agonia e antecede o momento de sua prisão, julgamento, condenação e finalmente a crucificação no calvário. De acordo com os quatro evangelhos, logo após a Última Ceia, Jesus resolveu dar uma volta para rezar (João 18:1) – Mateus e Marcos identificam o lugar como o jardim conhecido como Getsêmani. Jesus estava acompanhado de Pedro, João e Tiago, filho de Zebedeu, a quem Jesus pediu que ficassem acordados e rezassem. Então, Ele se retirou e sentiu uma enorme tristeza, dizendo “Pai, se é do teu agrado, afasta de mim este cálice; contudo não se faça a minha vontade, mas sim a tua” (Lucas 22:42).