Desde o início dos procedimentos, no ano passado, as cirurgias terminaram com a correção total dos problemas, segundo o cirurgião cardiovascular pediátrico do Mater Dei Marcelo Frederigue de Castro. O caso, considerado complexo, envolvia a transposição da aorta e da artéria, que estavam em lados opostos do coração. “O bom médico detecta que há algo anormal no ultrassom. E o ecocardiograma fetal, específico do coração, permite verificar a maioria das doenças.
De acordo com o médico, essa intervenção rápida melhora muito o resultado cirúrgico. Ele explica que muitos bebês nascem perfeitamente normais, mas têm a chamada persistência do canal arterial, uma das patologias congênitas. O canal, que liga a aorta ao pulmão, se fecha no segundo ou terceiro dia de vida. “A criança morre, pois não dá tempo de chegar ao hospital”, afirma. “Sabendo da doença e que o pulmão depende desse canal, a família vai para casa sabendo e já com tudo encaminhado. O problema é que nem todos têm acesso e o exame de detecção precoce só é feito em grandes centros. Poucos especialistas no Brasil o fazem”, acrescenta.
Frederigue explica que como o coração é o primeiro órgão a se formar no corpo humano é ele que apresenta mais problemas de formação. No universo de oito a 10 crianças com cardiopatia congênita, nem todas passam por uma intervenção cirúrgica, de acordo com ele – 80% têm indicação para ser operadas e, desse total, 50% são operadas no primeiro ano de vida (algumas com apenas alguns dias de vida). Segundo dados da Sociedade Brasileira de Cirurgia Cardiovascular, há 23 mil novos casos a cada ano no Brasil. Mas apenas 10 mil casos chegam à sala de cirurgia, ou seja, um déficit de mais de 50%, que leva à morte dos bebês. Do total de operações, 85% são feitas pelo Sistema Único de Saúde (SUS).
O cirurgião lembra que o mundo científico ainda desconhece as causas da cardiopatia. Na minoria dos casos, apenas, ela é resultado de uma síndrome genética, como a síndrome de Down. “É uma cirurgia de correção é de altíssima complexidade e o resultado não depende só do cirurgião, mas de alta tecnologia e da interação da equipe”, ressalta.