“Meu pai está lascado comigo. Agora vou poder fazer cócegas nele o tempo todo”, avisou Matheus Rodrigues Hubner Moreira, de 11 anos. Depois de dois meses de expectativa, o garoto de Manhuaçu (Zona da Mata), que nasceu sem três dedos da mão esquerda, recebeu ontem uma prótese desenvolvida por engenheiros da 3D Lopes, empresa tecnológica incubada do Cefet/MG, e por técnicos do Laboratório Aberto da Federação das Indústrias de Minas Gerais (Fiemg). Com o mesmo espírito alegre, perseverante e otimista que emocionou a equipe de profissionais durante o período de preparação da prótese, Matheus não perdeu nenhum segundo e aproveitou o pátio do laboratório para testar a novidade com o que mais gosta: jogar futebol. Sonhando um dia vestir a camisa 1 do Cruzeiro, ele usou a prótese para fazer defesas e ostentar o apelido de “muralha”. “Lá na escola meus colegas falam que eu já agarrava muito. Agora, então, vai ser ainda mais”, brincou.
O sonho de conseguir uma prótese começou no início do ano passado, quando os pais de Matheus, Wesley Moreira, de 39, e Marcelle Rodrigues, de 36, viram em um programa de televisão um menino com o mesmo problema do filho. “Na ocasião, foi construída uma prótese para ele em um laboratório de inovação. Eu vi aquilo e entrei em contato para saber se não seria possível fazer o mesmo para o Matheus”, conta Marcelle, professora em Manhuaçu. Dali em diante, ela chegou até o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai) do Rio de Janeiro, onde ouviu que a mesma instituição em Belo Horizonte poderia ajudá-la. Ao fazer contato com a gestora do Laboratório Aberto, estrutura do Sistema Fiemg que recebe projetos inovadores, ela vislumbrou a solução que poderia deixar o filho muito feliz. “Chamamos a família para uma reunião com a 3D Lopes, que já tinha desenvolvido uma prótese parecida. Chegamos à conclusão que daria para fazer, seria inovador e teria um custo bem interessante”, afirma Márcia Andrade Carmo de Azevedo, gestora do Laboratório Aberto.
Para viabilizar o sonho de Matheus, os sócios Daniel de Paula Lopes e Jonatas Rafael Rodrigues usaram uma impressora 3D para fabricar a peça. “A gente está trabalhando no Laboratório Aberto para desenvolver nossa impressora 3D e ficamos bastante motivados para tentar esse desafio, que seria a prótese do Matheus, quando tivemos contato com a família dele”, conta Daniel. Eles trabalharam por dois meses para chegar no formato final. “É uma alegria muito grande, porque podemos usar nosso conhecimento e nossa formação como engenheiros e a nossa impressora para fazer a diferença na vida de uma pessoa. Ainda mais uma criança tão alegre como o Matheus”, acrescenta Jonatas.
Presente A prótese foi entregue em uma embalagem de presente. Como já tinha contato com o equipamento para fazer os moldes, Matheus não demorou nada para encaixar o objeto e movimentar os dedos, arrancando aplausos e enchendo de lágrimas os olhos de quem acompanhou a entrega. Os pais e a irmã mais velha de Matheus, Mariana Hubner, de 18, acompanharam atentamente as reações do filho. “Estamos muito felizes e emocionados. Lembro-me de que, quando ele nasceu, minha avó perguntou se seria possível colocar uma prótese. Naquela época eu não sabia. Quando saímos de Manhuaçu, ela, com 90 anos, ficou muito feliz ao saber que iríamos a Belo Horizonte buscar a prótese”, relata Marcelle.
Os novos dedos nervosos de Matheus não deram trégua ao pai, que vai ter que se virar com as cócegas. “Agora vai ser complicado, não é?”, brinca Wesley. “Eu achei muito interessante o processo, pois foi muito rápido e eu nunca tinha visto nada parecido”, diz o pai. As cores do equipamento foram escolhidas pelo próprio Matheus, que, apesar de ser cruzeirense de coração, também gosta muito do Borussia Dortmund, clube de futebol alemão que tem as cores amarelo e preto. “Eu estava nervoso e ansioso, mas muito feliz porque eu sabia que ia conseguir juntar meus cinco dedos. Valeu muito a pena esperar. Eu adorei a prótese”, conta Matheus. “É um sonho de pequeno. Estou muito ansioso para mostrar para os meus colegas”, completa o garoto. Como tem apenas 11 anos, Matheus vai ganhar outras próteses que se encaixem melhor para cada etapa de sua vida. O projeto foi viabilizado graças a um financiamento do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). A prótese custa cerca de R$ 1 mil.