O número de casos confirmados de febre amarela em Minas Gerais desde o início do ano se aproxima da barreira de 100 registros, aumentando a expectativa de quando a doença será estabilizada e reforçando, na avaliação de especialistas, a importância de tanto a população quanto o poder público manterem o alerta. Balanço divulgado ontem pela Secretaria de Estado de Saúde (SES) revelou 97 casos confirmados, 13 a mais que o informe do dia anterior. Segundo o boletim, subiu para 98 o total de óbitos suspeitos – um a mais que o de quinta-feira. Já a quantidade de mortes confirmadas (40) e a de notificações (486) foram as mesmas do balanço anterior. As estatísticas da SES diferem das do Ministério da Saúde, onde o número de notificações já rompeu a barreira dos 500 casos.
O prazo é possível, no entendimento do pesquisador Eduardo Maranhão, da Escola Nacional de Saúde Pública da Fiocruz, com sede no Rio de Janeiro. Para ele, será possível dizer que a doença começará a ser controlada quando o balanço de notificações fica inalterado ou com baixíssima oscilação para cima durante um período, por exemplo, de uma semana ou 10 dias. “O tempo de incubação da febre é em torno de cinco dias. Se não aparecer mais casos em uma semana ou 10 dias, por exemplo, podemos dizer que a doença está começando a ficar sob controle”, disse Maranhão, que considera, no entanto, que o Ministério da Saúde e a Secretaria Estadual de Saúde deveriam tratar o atual quadro como epidemia.
‘Efeito sentinela’ Mesmo com a possibilidade de estabilização no número de notificações, o pesquisador da Fiocruz recomenda à população que sempre fique atenta ao que os cientistas chamam de efeito sentinela: “Se aparecerem macacos mortos, há o risco de alguém contrair a doença”. Por isso, acrescenta o infectologista Dirceu Greco, do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), as vacinas são a principal arma contra o avanço da moléstia. “O fato principal é que as vacinas estão sendo distribuídas. E é o método muito eficaz. Se (as doses) chegarem em todos os lugares, (o surto) terá chance de ser interrompido”, disse ele, alertando, porém, que, entre os animais, o vírus continuará vivo.
Para tentar reduzir o risco de infecção, prefeituras se esforçam para imunizar a população. Aproximadamente 2,6 milhões de doses da vacina já foram distribuídas aos municípios, das quais cerca de 800 mil foram aplicadas. Em Ladainha (Vale do Mucuri), onde houve o maior número de mortes confirmadas (10 de um total de 40), a expectativa é que toda população seja vacinada até o fim deste sábado. Por sua vez, integrantes da força nacional do Ministério da Saúde, que estiveram em Novo Cruzeiro, também no Vale do Mucuri, avaliam que a estabilização do surto pode ocorrer em apenas um mês. “A meta é conseguir uma cobertura vacinal que seja capaz de baixar o surto em 30 dias”, disse um integrante do grupo que não está autorizado a conceder entrevistas. (Colaborou Mateus Parreiras)
Em lista de ministério, MG
tem 504 casos suspeitos
O Ministério da Saúde soltou ontem boletim sobre a febre amarela silvestre no país e em Minas diferente do divulgado pela Secretaria de Estado da Saúde (SES-MG). Pelas estatísticas da pasta, são 504 notificações em Minas, contra as 486 que constam do balanço da SES-MG. A diferença são 18 casos incluídos pelo ministério que foram registrados na Bahia, no Espírito Santo, em Goiás e em São Paulo, mas com local provável de infecção em Minas. A SES-MG justificou que não acrescentou essas notificações em seu boletim porque os casos ainda estão em avaliação epidemiológica para identificar o local de infecção. Em relação a morte de macacos, que podem indicar presença do vírus da febre amarela, a secretaria informou que em 19 cidades foram recolhidos primatas para investigação. Belo Horizonte é uma cidades: foram três mortes de animais na capital mineira. Mas, segundo a Secretaria Municipal de Saúde (SMSA), os primatas foram encontrados em quintais de casas em diferentes regiões da cidade e não há evidência de epizootias – concentração de mortes de animais atribuídas a uma mesma causa, em um mesmo local, por doença contagiosa de propagação rápida. (João Henrique do Vale)