Hoje, formado em design e cursando a segunda graduação, o jovem vive com a leveza de se sentir seguro em relação à própria identidade, mas ainda enfrenta os preconceitos da sociedade por ser um transexual.
“Minha mãe não me aceitava. Quando criança, ela me batia com uma panela de pressão”, afirma a travesti exemplo de luta e resistência Anyky Lima, de 61, vice-presidente do Centro de Luta pela Livre Orientação Sexual de Minas Gerais (Cellos). “É por isso que visibilidade trans é importante, justamente, para mostrar que não existe foco para essa população. Meninas e meninos são assassinados com requintes de crueldade diariamente e nós não temos nenhum órgão de competência que nos apoie. É como se nós não existíssemos”, diz.
Aos 12 anos, Anyky foi expulsa de casa e passou dias na rua. Foi quando conheceu uma pessoa que a levou para Vitória (ES). A partir dali, ela se prostituiu até completar 50 anos. Outra militante da causa trans, Gisella Lima, de 35, explica como o preconceito afeta direitos básicos como cidadã, levando pessoas trans a buscar trabalhos informais. “Era adolescente quando fui expulsa da escola por conta da discriminação de professores e colegas de turma”, conta Gisella. O estudo da UFMG aponta também que somente 59,4% das travestis e transexuais de Belo Horizonte completaram o ensino médio.
TRANSIÇÃO O estudante Lucca Najar, de 25, usa o YouTube para levar informações sobre preconceito, convívio familiar, machismo, nome social e transição de gênero. Lucca conta que tentou se encaixar em várias tribos femininas antes de se compreender como homem trans. Com a ajuda da família, da namorada e da psicóloga, ele se entendeu. Portanto, há um ano, o jovem começou a medicação com testosterona e registra em vídeo todo o processo: “Se assistir do primeiro ao último vídeo já verá a diferença. Olha! Já está começando a nascer uma barbinha”, conta o jovem, alisando os pequenos pelos no rosto.
O processo de transição pode variar. Dalcira Ferrão, psicóloga, conselheira do Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais (CRP-04) e militante LGBT, explica que a grande maioria das pessoas trans tem desejo em realizar processo de hormonioterapia para as modificações estético-corporais, “mas não necessariamente querem se submeter a procedimentos cirúrgicos”.
Já Clara Houri, de 20, decidiu passar pela cirurgia de transgenitalização, imposto a ela por sua condição biológica. Há dois anos, faz uma ‘vaquinha virtual’ para realizar seu sonho. “Minha genitália me incomoda pra fazer coisas diárias como xixi, tomar banho e ter relações sexuais.
Você sabe as diferenças?
GÊNERO, SEXUALIDADE E SEXO BIOLÓGICO
Ao contrário do que muitas pessoas pensam, gênero é diferente de orientação sexual. Dalcira Ferrão, psicóloga, conselheira do Conselho Regional de Psicologia de Minas Gerais (CRP-04) e militante LGBT, esclarece todos esses pontos.
Cisgênero – Toda pessoa que se identifica com as características do gênero designado a ela no nascimento.
Transgênero – Toda pessoa que não se identifica com as características do gênero designado a ela no nascimento. Nesse caso, podemos dividir entre o grupo denominado “dimensão identitária” (travesti, mulher transexual e homem transexual) e “dimensão funcional” (crossdressers, drag queens, drag kings e transformistas).
Identidade não binária ou Genderqueer – Termo “guarda-chuva” para identidades de gênero que não sejam exclusivamente homem nem mulher, estando, portanto, fora do binarismo de gênero masculino e feminino e da cisnormatividade.
É importante ressaltar que o gênero é diferente de orientação sexual, podendo se comunicar, mas um aspecto não necessariamente depende ou decorre do outro. Em outras palavras: “pessoas transgênero são como as cisgênero, podem ter qualquer orientação sexual – nem todo homem e mulher é 'naturalmente' cisgênero e/ou heterossexual”, explica a psicóloga Dalcira Ferrão.
Nome social O governador Fernando Pimentel garantiu, por meio de decreto publicado neste sábado no Diário Oficial Minas Gerais, que em todos os segmentos da administração pública estadual, travestis e transexuais poderão utilizar o nome social e terão reconhecida a sua identidade de gênero.Organizações e coletivos voltados à proteção e luta por direitos LGBTs, em especial os que visam à plena cidadania da população de travestis, transexuais e transgêneros no estado, enviaram na última semana a carta ao governador solicitando a assinatura de um decreto. O nome social refere-se à forma como a pessoa travesti ou transexual se identifica e é socialmente reconhecida. O intuito é garantir o direito de toda pessoa à livre expressão de sua identidade de gênero, de forma que o nome de registro ainda não retificado não possa ser indutor de constrangimentos e preconceitos..