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Estado de Minas

Mortes em investigação por febre amarela em MG podem ampliar ainda mais o surto

Com 44 óbitos em apenas um mês, Minas ultrapassa em 10% o recorde já registrado pela doença em todo o país durante um ano inteiro. E ainda há 72 casos fatais em análise


postado em 01/02/2017 06:00 / atualizado em 01/02/2017 07:44

Força Nacional do SUS chega a Novo Cruzeiro, no Vale do Mucuri, para ajudar no combate à febre amarela(foto: Edésio Ferreira/EM/D.A PRESS)
Força Nacional do SUS chega a Novo Cruzeiro, no Vale do Mucuri, para ajudar no combate à febre amarela (foto: Edésio Ferreira/EM/D.A PRESS)
O surto de febre amarela silvestre que atingiu ontem a marca de 44 mortes confirmadas em Minas Gerais já é o mais letal da história do país desde o início dos registros, em 1980, quando começou a série histórica de acompanhamento da doença pelo Ministério da Saúde. Antes do balanço de ontem da Secretaria de Estado de Saúde (SES), o atual quadro já se igualava ao de 2000, até então o ano mais letal para a doença em todo o Brasil, com 40 mortes.

Com mais quatro óbitos com diagnóstico positivo, o estado – sozinho e em apenas um mês – já ultrapassa em 10% o maior número de mortes anteriormente registrado pelo vírus em todo o país durante o ano mais crítico. E o cenário tende a se agravar, pois os quadros de outras 72 pessoas que faleceram com os sintomas ainda são investigados.

Pelos números do boletim de ontem, em 31 dias de janeiro foram notificados 739 casos suspeitos de febre amarela, dos quais 29 foram descartados e 126 estão confirmados. De segunda-feira para ontem foram 27 registros a mais. Mas, entre a última sexta-feira e a segunda, o número teve um salto de 46,5%, passando de 486 para 712. A secretaria informa que o auemento se deve à atualização de dados, que incluem casos com início dos sintomas durante todo o período investigado, e não reflete um incremento apenas nos últimos dias.

A maioria dos pacientes teve início dos sintomas entre 8 e 14 de janeiro. Dos diagnósticos confirmados, 87% são de homens e 13% de mulheres. A maioria das mortes vitimou pessoas com idades entre 30 e 59 anos – 34 no total. Foram registrados óbitos de sete pessoas com mais de 60 anos e três entre jovens de 20 a 29 anos.

Na avaliação do infectologista Unaí Tupinambás, professor da Faculdade de Medicina da UFMG, os números de casos e mortes mostram que a situação é grave. “Com o estado enfrentando o pior surto do país desde 1980, é possível concluir que vários fatores contribuíram. Nunca é uma falha só”, afirma. Mas, como principal razão para o avanço da doença, ele cita a falta de proteção vacinal. Considerada a medida mais eficaz contra a propagação da febre amarela, a imunização deixou a desejar em Minas na última década (2006/2016), quando o percentual de pessoas protegidas chegou a apenas 49%. “A cobertura ficou aquém do necessário, porque é preciso entre 70% e 75% para barrar qualquer surto. Com 49%, tínhamos uma situação de risco”, disse.

Ele cita ainda a insuficiência de ações de vigilância e vê na crise econômica um fator a mais de vulnerabilidade. O especialista acredita que as ações de controle da doença que vêm sendo adotadas pelo governo do estado e pelo Ministério da Saúde devem surtir efeito nos próximos dias, mas alerta que fica a lição para os próximos anos. “É preciso fazer uma autocritica para ver o que falhou.”

Até ontem, 3,4 milhões de doses de vacina febre amarela foram distribuídas para atender às áreas de intensificação vacinal e rotina de vacinação em Minas. Dessas, já foram aplicadas 1,7 milhão de doses, sendo 1,1 milhão nos municípios com casos.

Após o contágio, chega o reforço


Ontem, o ministro da Saúde, Ricardo Barros, anunciou apoio financeiro da pasta a cidades atingidas pelo surto em Minas. O recurso, cujo valor ainda não foi informado, está previsto para ser liberado nos próximos dias. O anúncio da verba foi feito em reunião de prefeitos de municípios afetados com o ministro e com o senador Aécio Neves (PSDB), que devem visitar as comunidades.

“Eu me comprometi  a atendê-los no pleito de apoio financeiro, porque todos tiveram impacto econômico, nas medidas necessárias para o atendimento das pessoas afetadas e também para o bloqueio fundamental da ampliação dos casos, que é baseado na vacinação”, afirmou Barros. Aécio também se mostrou apreensivo. “Nossa preocupação agora é com o futuro, para que esta epidemia não se alastre e não retorne a esses municípios atingidos. O número de óbitos é extremamente expressivo”, afirmou.

Para combater os mosquitos transmissores da febre amarela, a Fundação Nacional de Saúde (Funasa) vai disponibilizar verba para 11 municípios mineiros afetados pela doença. A medida foi publicada, por meio de portaria, no Diário Oficial da União. Foram destinados R$ 100 mil, no mínimo, para cada projeto, totalizando R$ 1,1 milhão.

Os municípios selecionados foram Caratinga, Ladainha, São Sebastião do Maranhão, Imbé de Minas, Piedade de Caratinga, Ipanema, Poté, Itambacuri, Teófilo Otoni, Ubaporanga e Malacacheta. A escolha levou em consideração o cenário epidemiológico de cada município e a situação de emergência decretada pelo estado. Os selecionados deverão acessar o Portal dos Convênios, no endereço www.convenios.gov.br/siconv, cadastrar e enviar as propostas em conformidade com os critérios da Funasa.


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