O caso mais recente foi registrado por volta das 22h30 entre as ruas Adolfo Kolping e Tenente Raimundo Ferreira, perto de uma unidade do Colégio Tiradentes. Segundo militares do 49º Batalhão da Polícia Militar (PM), os criminosos entraram em um coletivo da linha 637 (Estação Vilarinho/ Canaã via Serra Verde), mandaram passageiros, motorista e cobrador desembarcarem e atearam fogo ao veículo com líquido inflamável, fugindo em seguida. Segundo a PM, a perícia ainda é aguardada no local.
Na manhã deste sábado, moradores da região reclamaram da ausência de coletivos pelo menos até as 6h. Algumas pessoas tiveram que seguir a pé até outro bairro para embarcar nas linhas do Move. De acordo com a BHTRANS, por questões de segurança, desde as 23h de sexta-feira, quatro linhas de ônibus estão paralisadas: 609 (Serra Verde/Santa Mônica), 637 (Estação Vilarinho/Canaã), 638 (Estação Vilarinho/Minas Caixa) e 641 (Estação Vilarinho/Serra Verde). Como a linha 609 é a única que não para dentro da Estação Vilarinho, agentes da BHTRANS estão no local para orientar os usuários. Já na estação foram afixados cartazes. A partir das 18h desse sábado, a linha 637 voltou a circular de hora em hora, até as 21h, mas sem entrar no bairro, deixando os passageiros na entrada. A linha volta a funcionar no domingo a partir das 8h, também a cada hora.
Nas redes sociais, vários internautas relatam que o comércio ficou fechado no Bairro Serra Verde ontem e também questionam a falta de transporte. “Nenhum ônibus saiu do ponto final aqui no Serra Verde hoje. É o Estado de Direito de joelhos. Leis existem para serem descumpridas?”, reclamou um usuário do Twitter. “Minas Caixa e Serra Verde com comércios fechados, e agora a noite mais um ônibus incendiado e com voos do helicóptero da Polícia, e quanto aos cidadãos de bem sobra a sensação de insegurança”, disse morador da região no Facebook.
O major Flávio Santiago, chefe da sala de imprensa da Polícia Militar, informou à reportagem neste sábado que o policiamento vai continuar reforçado até que não haja nenhum problema, e também que não há toque de recolher na região.
A diretoria do Sindicato dos Rodoviários de BH e Região (STTR-BH), que representa os trabalhadores do transporte coletivo, disse que não há relato de protestos por parte dos motoristas das linhas que atendem a região. O diretor de imprensa da entidade, José Márcio Ferreira, disse à reportagem hoje que eles pretendem discutir a situação com a Polícia Militar. “Nós vamos tomar a iniciativa. Na segunda-feira, vamos pedir uma reunião com o Comando de Policiamento da Capital para tomar algumas medias em relação a isso”, explica. Ferreira diz que a participação do Setra também seria importante para que eles apresentem dados e registros, como imagens de câmeras, dos ataques aos coletivos.
Dos três casos registrados até a manhã de sexta, dois têm relação, segundo a Polícia Militar: um no Bairro Serra Verde e outro no Minascaixa, em Venda Nova. O terceiro incêndio foi registrado na Região do Barreiro e, até o início da noite passada, a PM não tinha informações sobre as razões da depredação.
FORÇA-TAREFA A Polícia Civil informou que já foi montada uma força-tarefa para investigar esses ataques. Os casos, inicialmente, foram registrados nas delegacias de cada região. Posteriormente, foram repassados aos investigadores da Delegacia de Operações Especiais (Deoesp), que já começou os trabalhos.
O primeiro ataque em Venda Nova ocorreu no início da manhã. Por volta das 6h14, um veículo da linha 641 (Estação Vilarinho/Serra Verde), que estava parado no ponto final, na Avenida Leontino Francisco Alves, foi invadido por duas pessoas. A cobradora informou que um deles pulou a catraca, foi para a parte traseira e começou a despejar um líquido no piso e nas poltronas. O outro criminoso ordenou que ela pegasse seus pertences pessoais e os do motorista e descesse do veículo. Depois de atear fogo no ônibus, os dois bandidos fugiram em um carro. O Corpo de Bombeiros foi acionado e ajudou a conter as chamas.
Perto dali, enquanto policiais militares aguardavam os trabalhos da perícia, um novo ataque foi registrado, desta vez na Avenida Salamanca, no Bairro Minascaixa. Segundo o motorista, vários criminosos deram ordem para ele descer do ônibus e atearam fogo no veículo – os bombeiros também foram acionados para conter as chamas. Em buscas pelo bairro, policiais encontraram cinco pessoas com galões nas mãos. Cinco adolescentes, com idade entre 15 e 17 anos, foram os primeiros apreendidos. Depois, a PM prendeu sob acusação de incendiar o ônibus Lincoln Alexander do Carmo, de 18, Hebert Pinheiro da Silva, de 19, e Nilson Miguel dos Santos Junior, de 31.
Segundo a PM, os detidos afirmaram na delegacia que os ataques estão relacionados com a morte de um colega, identificado como Emerson. O homem, que teria envolvimento com tráfico de drogas, foi morto durante operação da PM no Morro do Borel, em Venda Nova. Comerciantes também relataram que receberam ameaças para fechar as portas dos estabelecimentos.
Antes dos dois casos em Venda Nova, um ônibus foi incendiado por volta da 0h20 na Rua Elvira Vianna Doti, no Bairro Solar do Barreiro. O motorista do coletivo da linha 328B (Estação Barreiro/Cardoso B) contou à polícia que dois homens deram sinal para embarcar e, quando o veículo parou, o condutor notou que um deles havia tampado a cabeça e estava armado com uma pistola. Eles mandaram o condutor e os dois passageiros descerem e incendiaram o coletivo com um líquido inflamável. (Com informações de João Henrique do Vale)