Quedas de árvores em série preocupam moradores de Belo Horizonte

Cemig calcula que todo ano ocorrem 25 mil interrupções no fornecimento de energia por conta do choque de espécimes contra postes e a rede elétrica

Mateus Parreiras
Castanheira de grande porte assustou caiu no Bairro Vila Paris e assustou moradores da região - Foto: Beto Novaes/EM/D.A PRESS
A professora aposentada Mirtes Borges, de 70 anos, estava ainda acordando, às 7h de ontem, aproveitando que a filha e a neta tinham viajado, para fazer a arrumação da casa quando um estrondo estremeceu seu prédio e a fez descer correndo, ainda de pijama, pelos três andares da escadaria.

“Achei que tinha sido uma batida de caminhão, mas a minha vizinha já foi avisando que uma árvore caiu sobre o prédio”, conta. Foi da portaria do edifício que ela teve noção do que tinha ocorrido. Após a chuva da madrugada, uma castanheira de 10 metros de altura desmoronou do outro lado da Rua Visconde do Rio das Velhas, no Bairro Vila Paris, Centro-Sul da capital mineira, e parte dos galhos perfurou as paredes, indo parar dentro do imóvel de Mirtes.


Na queda, a árvore de grande porte apanhou a fiação elétrica, atingiu as paredes de tijolos do prédio, quebrou janelas em dois andares e só parou ao esmagar completamente as grades de metal da garagem do edifício, bloqueando a saída dos carros. O susto que a professora e seus vizinhos passaram tem algo em comum com quem mora ou circula em outros locais onde árvores foram ao solo e trouxeram pânico e destruição: todos afirmam que a Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) foi alertada para esse perigo, mas não tomou providências. A PBH informou que sem protocolos de atendimento não tem como checar o que de fato ocorreu.

Entre 2009 e 2014, a PBH e a Cemig inventariaram 300 mil árvores (dois terços do total da capital mineira) pelo Programa Especial de Manejo Integrado de Árvores e Redes (Premiar), segundo a empresa, mas para que a situação das 150 mil árvores restantes seja conhecida, a Cemig informa que será necessário formalizar um novo contrato. O problema é tão grave para a concessionária de energia elétrica que, por ano, a Cemig calcula que ocorram 25 mil interrupções de fornecimento causadas pelo choque de árvores contra a rede de distribuição e postes – média diária de 68 ocorrências.

A falta de energia foi o menor dos problemas para a professora aposentada Mirtes Borges e seus vizinhos.

A ponta da árvore que caiu sobre a parede de tijolos a perfurou, perpassando o armário de brinquedos e roupas do quarto onde dorme a neta de Mirtes. Gavetas com peças de roupas, vestidos de bonecas e brinquedos cor-de-rosa foram violentamente atirados para todos os cantos do quarto, como se um terremoto tivesse passado por lá. Em outros dois quartos, as vidraças foram espatifadas e camas, sofás, mesas e um violoncelo foram atingidos. “Na hora, fiquei em choque, sem saber o que tinha ocorrido. Ainda bem que minha filha e minha neta estão viajando”, disse.

Aposentada Mirtes Borges mostra estragos que a árvore causou no quarto onde dorme sua neta. Por sorte, ela não estava em casa - Foto: Beto Novaes/EM/D.A PRESS
RECLAMAÇÕES
Outra vizinha, que teve os vidros da sala quebrados pela violência da queda da árvore, foi a também professora aposentada Fátima Seixas, de 63. “Se a árvore caísse cinco minutos antes poderia ter atingido um carro onde o pai levava as filhas gêmeas de 2 anos de idade para a escola. Aí seria uma tragédia”, conta. De acordo com informações de Fátima e de vários moradores da rua, em 2015, os jardineiros contratados por um dos edifícios alertou os moradores de que a castanheira estava em risco iminente de desabar.

“A prefeitura foi alertada, enviou um técnico aqui, mas ele disse que não havia perigo. Será que a árvore apodreceu de dois anos para cá?”, indaga a mulher, sobre a provável causa do desabamento, mas sem apresentar um protocolo de atendimento municipal. As raízes da árvore pareciam em processo de putrefação e um grande buraco se formou sob ela, sobretudo devido à grande pressão da tubulação da Copasa, que foi rompida com a queda da árvore. Os bombeiros levaram cerca de cinco horas para liberar a via. Enquanto isso, o fornecimento de eletricidade teve de ser cortado.

O mesmo problema pode ter feito com que uma árvore de nove metros desabasse sobre a rede elétrica e bloqueasse a Rua Doutor Juvenal Santos, no Bairro Vila Paris, na mesma região, por volta das 7h30 de ontem.
Enquanto os bombeiros cortavam a árvore em toras menores, moradores também reclamavam de falta de prevenção da administração municipal. “É um absurdo mobilizar os bombeiros pela cidade inteira para cortar árvores, porque a PBH não fez seu trabalho preventivo”, protestou o aposentado Alcindo Paulo Moura Pereira da Silva, de 75. Aqui a gente nem se assusta mais. Nos últimos seis anos caíram várias árvores. Ali adiante mesmo tem uma que está podre, com as raízes já na fundação do prédio e tão altas que se tornam reservatórios de dengue, criatórios de baratas e escorpiões”, reclama.

PRAÇA 7 Nem mesmo na Praça 7, marco do Hipercentro da capital mineira que fica a pouco mais de 500 metros da sede da PBH, a situação das árvores é melhor. No domingo, uma árvore enorme caiu durante as chuvas da tarde, bloqueando a via no sentido Mangabeiras, atingindo e destruindo dois automóveis que passavam naquele momento.

Ontem, dois caminhões eram usados para recolher as toras que foram fracionadas pelas motosserras dos bombeiros. Parte do quarteirão Xacriabá da Praça 7 foi interditado, enquanto os trabalhadores incumbidos de remover os pedaços da árvore reclamavam do prazo que lhes foi dado para esse serviço. “Em meia hora é impossível tirar isso tudo daqui”, diziam, alegando pressão das autoridades municipais. “É preocupante e imediato que a situação dessas árvores seja conhecida e sanada.
Por toda a cidade vejo árvores de grande porte caindo, na região dos hospitais, no Centro, no Barro Preto. Será que isso só vai parar quando ocorrer uma tragédia?”, perguntava o empresário Walter Santana Lago, de 55, impressionado ao ver o tamanho da árvore que caiu numa região que durante a semana comporta o tráfego de cerca de 1,5 milhão de pessoas, segundo a Polícia Militar.

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