Câmeras de segurança do museu registraram o momento do vandalismo, mas, segundo a Polícia Civil, a a análise da gravação sozinha ainda não permite identificar o autor do crime. Conforme a assessoria da corporação, foi feita perícia e mais investigações estão em andamento para verificar se foi apenas um o autor da ação, classificada como “uma cretinice” pelo diretor do museu, Rui Mourão.
De manhã, equipe da Polícia Militar de Ouro Preto esteve no local e fez o boletim de ocorrência, que foi encaminhado à delegacia local. As informações foram prestadas por um segurança de plantão e as primeiras análises da câmera de vigilância, segundo técnicos do Museu da Inconfidência, vinculado ao Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), mostraram que a pichação ocorreu antes das 6h. As palavras escritas ocupam cerca de 20 metros e podem ser vistas por quem passa pela Rua Antônio Pereira, que desemboca no espaço público tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).
“Chamar este museu de elitista é um absurdo. Está aberto à coletividade e, aos domingos, a entrada é gratuita para os ouro-pretanos”, disse Mourão, referindo-se a um dos termos da pichação e explicando que vai mandar fazer a limpeza assim que possível. “Vamos esperar o resultado da perícia.
Mourão disse que é preciso prender o responsável pela sujeira deixada no prédio do Inconfidência, o segundo museu federal mais visitado do país, com 150 mil pessoas/ano, atrás apenas do Museu Imperial, de Petrópolis (RJ). Na avaliação do diretor, trata-se de caso semelhante ao da Igreja de São Francisco de Assis, na Pampulha, em Belo Horizonte, igualmente alvo de pichação há quase 11 meses. Assim como a Pampulha, que detém o conjunto arquitetônico moderno, o Centro Histórico de Ouro Preto é reconhecido como Patrimônio Cultural da Humanidade, título concedido em 1980 pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
indignação Moradores locais, turistas estrangeiros e brasileiros e defensores do patrimônio cultural se disseram horrorizados e revoltados com a pichação. Ao verificar bem de perto a sujeira deixada pelo vândalo, a turista francesa Miky Guichot-Perere observou: “É o mesmo que pichar o Louvre”, numa referência ao célebre museu de Paris. “Esta cidade é magnífica, maravilhosa. Já vim a Ouro Preto três vezes e acho tudo muito bonito. Isso que ocorreu não é bom”, afirmou.
A francesa, que trabalha no setor de comunicação, estava acompanhada do casal Vitor Revidiego Lopes, administrador, e Maria Helena, residentes em Artur Moreira, na Região Metropolitana de Campinas (SP). “Esses atos de vandalismo mostram o quanto somos tolerantes com esse tipo de agressão ao patrimônio, alheio e público. A gente fica triste, é uma situação absurda”, afirmou Vitor. Maria Helena acrescentou que fatos dessa natureza devem ser denunciados e os responsáveis, punidos.
Funcionária de uma loja na Rua Antônio Pereira, a poucos metros da pichação, Lucimar das Graças Fernandes contou ter ficado revoltada ao chegar para trabalhar. “É absurdo, pois também ‘queima o filme’ de Ouro Preto, prejudica a nossa cidade.” Os estudantes Guilherme Resende, de 21, aluno de química industrial, natural de Barbacena e há dois anos em Ouro Preto, e Larissa Carvalho, de 20, de engenharia geológica, também criticaram a pichação. “É um protesto inválido.
HISTÓRIA Em texto sobre o Museu da Inconfidência, Rui Mourão, que está na direção da instituição há 42 anos, escreveu: “Rompendo tradição que vinha dos tempos do reinado brasileiro de dom João VI, o Museu da Inconfidência foi o primeiro a se instalar fora da faixa litorânea do país. A criação decorreu de uma ação política. Em 1936, o presidente Getúlio Vargas, que planejava a implantação da ditadura do Estado Novo, resolveu se fortalecer junto à população, apresentando-se como defensor de uma das nossas tradições mais sensíveis. Promoveu o repatriamento dos restos mortais dos inconfidentes condenados a degredo na África, onde se encontravam sepultados. As urnas funerárias, na sua chegada, ficaram longamente expostas à visitação pública no Rio de Janeiro. Assinado o Decreto 965, de 20/12/1938, de criação do museu, a transferência das ossadas para Ouro Preto contou com o acompanhamento de Vargas. (…) O governo de Getúlio Vargas mandou vir os originais do 7º volume dos Autos da Devassa, que continha a sentença condenatória de Tiradentes, e duas traves da forca em que pendeu o mártir da Inconfidência, na Praça da Lampadosa”.
Memória
História maculada
Em 21 de março do ano passado, os olhos dos brasileiros se voltaram para a Igreja de São Francisco de Assis, na Pampulha, em Belo Horizonte, joia da arquitetura moderna projetada na década de 1940 por Oscar Niemeyer (1907-2012).